A distância para o futuro
Encontro anual da SBPC que começa no domingo, em Belém, não pode esquecer os obstáculos do presente para as políticas ambientais e inclusivas
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) promove a sua 76ª Reunião a partir do próximo domingo, em Belém do Pará. O tema escolhido para pautar os debates é “Ciência para um futuro sustentável e inclusivo: por um novo contrato social com a natureza”, que abre um amplo arco de possibilidades de enfoques para o desenvolvimento do país. Desde as contribuições científicas para a pavimentação desse futuro, até os aspectos culturais que envolvem a necessária mudança de hábitos civilizatórios, a fim de poupar os recursos naturais de um planeta em transformação – em larga medida, por nossa causa, em séculos de voracidade humana – o tema do encontro é oportuno e essencial. Mas antes de ser a solução que pode vir, a ciência precisa se debruçar sobre os problemas de hoje, que impedem ou atrapalham a sustentabilidade.
Diante do cenário desafiador das mudanças climáticas, o evento pode ser um momento de escuta importante, para que a comunidade científica reforce as informações disponíveis acerca do que está acontecendo, no contexto nacional. Mas é preciso buscar dar um passo além. Na direção não apenas do diagnóstico dos muitos problemas, e sim, também, de alternativas para começarmos a superar os obstáculos, o mais rápido possível, em virtude da urgência da agenda ambiental, agora. O futuro somente será sustentável e inclusivo se conseguirmos, sem demora, mudar comportamentos, diretrizes políticas e a economia que giram em torno da insustentabilidade dominante, no Brasil e em quase toda a Terra.
A Reunião da SBPC deste ano antecipa o encontro maior, em novembro do ano que vem, no mesmo local, quando o país sediará a 30ª Conferência da ONU sobre as Mudanças Climáticas (COP 30). O valor da preparação será tanto maior, quanto mais propostas de convivência com as mudanças sejam capazes de fazer do Brasil um referencial teórico e prático para o futuro que se deseja – sem dar de ombros ao presente real, de imensos dilemas e evidentes contradições. O intervalo de mais de um ano até o evento global no Pará deve conter sinais concretos de avanços nas políticas ambientais, no arcabouço institucional e nas práticas econômicas, demonstrando a capacidade nacional de formulação e implementação de uma nova realidade.
E não somente em relação à agenda da transição energética, que tende a puxar polêmicas e narrativas, pelos recursos financeiros envolvidos nos investimentos em petróleo, ou nas fontes chamadas de limpas, como a eólica e a solar. No Brasil, o desenvolvimento sustentável ainda patina em um cotidiano de demandas históricas como o acesso à água e ao saneamento, a coleta e o tratamento de resíduos, o desperdício de água e alimentos, entre outros assuntos que fazem igualmente parte da vida da população. Um encontro de cientistas, como o da SBPC, tem a missão de aprofundar a pauta da sustentabilidade, desenhando o futuro que precisa ser diferente, em pontos determinantes, do que estamos acostumados a ver hoje.
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