Baixa qualidade de vida

Sétima pior capital do país para se viver, o Recife enfrenta grandes desafios para superar a desigualdade exposta nas ruas e nas comunidades

Publicado em 12/07/2024 às 0:00

Na frente apenas de Porto Velho, Macapá, Maceió, Belém, Rio Branco e Boa Vista, a capital pernambucana aparece como a 21ª no ranking de qualidade de vida e desempenho socioambiental do Índice de Progresso Social (IPS) Brasil, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), em parceria com outras entidades. A posição dos recifenses é destaque negativo em escala nacional e regional, já que entre as capitais dos nove estados do Nordeste, é a segunda pior. O estudo é contundente em seus resultados, mostrando a baixa qualidade de vida que não se concentra somente no Recife, mas se espalha pela Região Metropolitana h&aacut e; vários anos. Nada de espantoso para uma população acostumada a condições precárias de habitação, educação, saúde, transporte, segurança, que podem ser reunidas como direitos básicos dos cidadãos.
O IPS foi criado há dez anos nos Estados Unidos, e é considerado mais completo que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), abrangendo dados acerca de moradia e meio ambiente, entre outros. Dos indicadores avaliados, a população recifense sofre mais em três: segurança pessoal, saúde e bem-estar, e inclusão social. Basta uma caminhada pelas ruas da cidade, a qualquer hora do dia, para se perceber a realidade apontada pela pesquisa. O desempenho não choca quem conhece a histórica desigualdade da capital pernambucana e de seus arredores. Mas a explicação não basta como justificativa. Nas últimas décadas, o que foi feito, de fato, para reduzir a desigualdade, dando prioridade concreta a quem mais necessita? E o que foi deixado de lado, sempre, para o discurso da próxima eleição?
A relação inequívoca entre desigualdade, pobreza e segurança deveria pautar a campanha eleitoral, aliás, em todo o país, este ano. Mas o provável é que sejam tratados como problemas distintos, mais uma vez, com promessas repetidas e abordagens incompletas, como o uso da força policial como panaceia – quando pode ser apenas mais um sintoma do problema. Ou a omissão puxada da divisão de tarefas no plano constitucional. Como as prefeituras não têm a ver com a segurança, se a insegurança e a violência refletem a desigualdade local?
No Recife, a partir do drama da baixa qualidade de vida, é crucial que se aprofunde o debate, visando a superação de um obstáculo, sim, histórico, porém que não pode continuar em segundo plano na gestão municipal – como tem sido há décadas. A questão é urgente, atola o cotidiano da população hoje, e seguirá atolando amanhã, por meses e anos, caso a desigualdade permaneça sendo tratada como uma questão antiga de difícil solução. Não faltam diagnósticos, e não faltarão propostas, caso a municipalidade assuma sua responsabilidade perante os anseio s da população.
Nos próximos meses, a campanha e as eleições oferecem a oportunidade para ampliar o debate com humildade e realismo. Os recifenses merecem conquistar melhor qualidade de vida, com menos desigualdade escancarada como nosso eterno cartão-postal.

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