Nomes que puxam votos
Na disputada corrida presidencial nos Estados Unidos, o valor da escolha dos vices desponta como fator importante para a decisão do eleitorado
Anunciado como candidato a vice-presidente na chapa de Donald Trump em sua tentativa de retorno à Casa Branca, J. D. Vance já foi um dos mais ferozes críticos do ex-presidente. Ressalvadas diferenças nos cenários partidários, alguma semelhança pode ser anotada, nesse aspecto, ao atual vice brasileiro, Geraldo Alckmin, adversário contundente de Lula, quando ainda fazia parte do PSDB. Hoje, Vance é tido como um trunfo dos republicanos, senador com menos de 40 anos que pode fazer história se ajudar a reeleger Trump – e ainda se credenciar como líder da renovação no partido e na política conservadora nos Estados Unidos. Mas se Trump vier a ganhar, desbancando a reeleição de Joe Biden – ou de outro candidato democrata que vier a ocupar seu lugar – a participação do vice no governo não deve fugir à regra do exercício em segundo plano. Aliás, como o próprio Biden, vice de Barack Obama por dois mandatos consecutivos.
Tendo um novo ator em cena, com a imagem de juventude propositalmente adotada para confrontar o democrata, a pré-campanha norte-americana passa a contar com pelo menos duas expectativas acerca da candidatura oficial. Primeiro, se Biden fica ou sai da disputa, já que apesar de insistir, o presidente recebe pressão pela desistência todos os dias. E se ficar, a expectativa se volta para a definição do nome do ou da vice, pois será preciso contrapor algum fato novo à sequência de exposições de Trump, agora tratado mais que nunca como heroi nacional ao sobreviver a um atentado. A atual vice-presidente, Kamala Harris, parece ter esgotado o capital de ent usiasmo eleitoral, que gerava quatro anos atrás. Caso Biden permaneça, o governador da Califórnia, Gavin Newsom, é um dos cotados para substituir Kamala na disputa de novembro.
O peso da candidatura a vice num cargo majoritário cresce quando a concorrência é apertada. Foi assim que Lula e o PT foram buscar nomes como o empresário José Alencar, ou Geraldo Alckmin, para conquistar eleitores de fora do partido e do lulismo. Muitas vezes, o vice é protagonista decisivo na eleição, como em Pernambuco por pelo menos duas vezes com o mesmo sobrenome: com Gustavo Krause na eleição de Roberto Magalhães, e Priscila Krause na de Raquel Lyra, em ambas para o governo do Estado. A figura do vice também aumenta de proporção quando o candidato é cotado para deixar o cargo antes do fim do mandato, para outra d isputa ou exercício de função pública.
A valorização dos vices é bom indício de amadurecimento democrático. Tira um pouco, que seja, o nome principal do foco, é chama a atenção do eleitorado para a necessidade de renovação de lideranças, atrelada à rotatividade no poder. A democracia agradece ao comprometimento dos vices, nos Estados Unidos, no Brasil ou em qualquer lugar do mundo, não apenas com o pleito da vez, mas sobretudo com a oportunidade oferecida de novas perspectivas no horizonte nem sempre amplo da política partidária.