Transparência nas contas
Projeto aprovado pelo Senado exige a obrigatoriedade da prestação de informações sobre os recursos aplicados em todos os níveis de governo

Seguiu para sanção do presidente da República um projeto de lei de 2022, aprovado somente agora, que estabelece a obrigatoriedade da transparência para os recursos destinados a um dos mais importantes setores para o crescimento do país – a educação. Se foi aprovado agora, significa que até sua aprovação não havia instrumento de controle adequado para o dinheiro enviado aos governantes e secretarias, com o objetivo de custear a educação dos brasileiros. Ou seja, a falta de transparência domina as políticas educacionais nas redes federal, estaduais e municipais. A aprovação da legislação é inconteste avanço, que reconhece o direito dos cidadãos, ao mesmo tempo em que proporciona melhor ética no trato dos recursos públicos. Por outro lado, denuncia a necessidade de aperfeiçoamento institucional para o investimento essencial à formação individual e ao desenvolvimento coletivo.
A divulgação de dados como a disponibilidade de vagas e seu preenchimento, nas escolas, é uma das medidas previstas no projeto de lei, de autoria da deputada federal Tabata Amaral, e que tem como base o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Outras informações que passam a ser requeridas são, por exemplo, a lista de espera para as vagas e os recursos destinados a bolsas de pesquisa e de estudo. Para o relator do projeto no Senado, Alessandro Vieira, “"a divulgação de informações claras e acessíveis sobre a aplicação das verbas, a execução de programas e projetos, bem como os resultados das avaliações educacionais, permite que a sociedade acompanhe de perto a efetivação do direito à educação de qualidade”. De fato. O espantoso é que isso não fizesse parte, ainda, dos procedimentos corriqueiros da gestão pública no Brasil, em todas os níveis, por determinação do MEC.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, não continha em seu texto o acesso às informações da gestão educacional – e o projeto altera também esse instrumento, ampliando o alcance da cidadania sobre tais dados. O acesso facilitado melhora a possibilidade de cobrança por ensino de qualidade, um dos conhecidos e antigos gargalos no país. Até os currículos dos diretores escolares, bem como de membros dos conselhos de educação, deverão ser compartilhados para a população. Mas o mais importante é o acompanhamento financeiro dos programas, projetos e atividades para a educação básica e superior, que contem com recursos públicos para sua execução. O projeto aprovado por senadoras e senadores representa uma defesa do erário e do futuro das novas gerações, num país onde os olhos grandes da corrupção estão sempre bem abertos, à espreita de oportunidades.
Quem sabe com maior transparência, e foco na eficiência, o Brasil saia em alguns anos da incômoda posição de 65º lugar em matemática e 62º em ciências, de 81 nações avaliadas pela prova internacional de educação, o Pisa. Junto com o novo Plano Nacional de Educação, dirigido aos próximos 10 anos, a legislação que retira o véu dos gastos públicos tem como objetivo virar a página dessa triste história.