O Brasil na berlinda

Com a reserva natural do país queimando e cidades com péssima qualidade do ar, o presidente da República será cobrado na Assembleia Geral da ONU

Publicado em 22/09/2024 às 0:00

Lula e sua comitiva chegaram a Nova York com a missão de explicar à comunidade internacional a profusão de queimadas e a poluição que aflige grande parte do território brasileiro, nos últimos meses. Eleito sob a expectativa de mudar o papel do país no cenário global, especialmente na área ambiental, o presidente da República irá tentar tirar o governo do foco dos problemas, mesmo sendo cobrado internamente – no país e no Planalto – pela falta de rumo das políticas de meio ambiente. A crise climática agrava o quadro, mas o fato é que os dados negativos lançam pressão no Itamaraty, além de se buscar na ministra Marina Silva um sinal de autoridade e de confiança, de modo a restaurar a credibilidade do Brasil se e quando a fumaça se dissipar.
A diplomacia verde-amarela e o chefe do Executivo pretendem construir um protagonismo maior, enquanto a Organização das Nações Unidas (ONU) realiza mais uma Assembleia Geral sem a relevância global que já pareceu mostrar. O destaque do Brasil e de outros países emergentes poderia ser interessante para a ONU – e para o planeta – caso a entidade fosse vista com mais respeito pelos líderes de suas nações integrantes. O problema é que em pelo menos dois pontos essenciais, o globalismo com sede nos Estados Unidos vai muito mal: no absoluto desprezo dos governos de países em guerra, como a Rússia e Israel, ou no baixo desempenho mundial para o alcance de metas que poderiam amenizar os efeitos das mudanças climáticas, ou até mesmo impedir o que já começamos a experimentar, há alguns anos, com o aumento da temperatura média da Terra e suas consequências para a biosfera.
Nenhuma das promessas de articulação política de Lula voltadas para fora do Brasil deram algum resultado, com quase a metade do mandato cumprida. Embora o país mantenha sua posição regional, e a referência como economia em desenvolvimento com gigantesco mercado potencial, a conjuntura internacional pós-pandemia não vem contribuindo para os planos nem do presidente, nem do Itamaraty. As relações na América do Sul estão complicadas, com Nicolás Maduro de um lado, na Venezuela, e Javier Milei de outro, na Argentina. A União Europeia não aceita os termos brasileiros por um acordo comercial de peso. E as potências globais continuam vendo o Brasil como peça secundária no jogo de poder. O meio ambiente seria uma oportunidade, mas as queimadas dificultam a desejada liderança brasileira em algum tipo de avanço que a cada dia se torna mais improvável, enquanto o planeta aquece.
Se conseguir sair da berlinda, Lula e equipe podem participar das conversas de renovação estrutural das Nações Unidas, em decorrência dos fracassos contabilizados nas últimas décadas. A expectativa de diplomatas internacionais cansados de enxugar gelo não é outra, senão a de que contar com o Brasil nas duas agendas, aliás – pela urgência de medidas globais contra a crise climática, e pela necessidade evidente de reforma da governança mundial.

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