A extrema pobreza está aqui
Concentrando mais da metade da população em extrema pobreza no Brasil, a região depende dos programas assistenciais para evitar o caos social
O detalhamento dos dados a respeito do desemprego no Nordeste aponta a permanência de um problema crônico, que não se altera nem com a recuperação da economia. Enquanto no cômputo geral a desocupação na população economicamente ativa caiu de 18% para 11% entre 2021 e 2023, mostrando o reflexo do período pós-pandemia, no recorte dos mais pobres, na pobreza extrema, o mesmo indicador variou de 60% para 59%. Ou seja, os mais necessitados continuam sem oportunidades de trabalho que sinalizem para algum ganho de renda, na região que concentra 55% da pobreza extrema no Brasil. Onde é mais urgente a inclusão, a exclusão segue sendo a regra.
As dificuldades óbvias para inserção no mercado de trabalho explicam, mas não justificam a raiz da situação. A legião de excluídos depende cada vez mais de programas assistenciais e de transferência de renda como o Bolsa Família, sem a criação de horizontes para a saída da dependência. O círculo da miséria, no Brasil, faz com que nem o que deveria ser considerado um avanço social – a renda mínima – traga alento para a população mais vulnerável. O consolo é passageiro, seus efeitos são pequenos para transformar a realidade aviltante da desigualdade. Os programas são necessários, mas não são o bastante. Sem políticas consistentes de inclusão, através da educação e do estímulo ao mercado de trabalho, até a recuperação da economia exibe um cenário de reforço ao sofrimento dos mais pobres.
Dentre os indivíduos que compõem a extrema pobreza, segundo análise da FGV Ibre a partir de dados da PNAD do IBGE, a maioria é composta por mulheres, pretos e pardos, e pessoas com baixa escolaridade. Até na configuração da miséria a desigualdade pode ser realçada. É nesse contexto, no cruzamento de um passado com demandas acumuladas a um presente do qual a história da desigualdade não sai do canto, que o futuro promissor se torna distante, apesar de investimentos sociais e, mesmo, do crescimento econômico acompanhado da redução do desemprego.
Os números evidenciam que, quando a conjuntura melhora, os vulneráveis permanecem sendo os mesmos. O que não pode ser visto como uma crueldade do destino: trata-se de fracasso coletivo, de uma nação jovem que poderia ter aprendido mais com os próprios equívocos, e dos governantes atuais e recentes, em todos os níveis da gestão pública, que nas últimas décadas não atuaram de maneira objetivamente prioritária para amparar e melhorar a vida de tanta gente. E por tabela, da população que elege e reelege quem não faz a menor diferença para os que mais necessitam.
Como expressou a poesia de João Cabral de Melo Neto, a morte antecede a vida na trajetória de muitos nordestinos. A falta de perspectivas faz da sobrevivência um calvário de dor e privações, que se transmite de geração a geração, sem consideráveis diferenças. Para tirar sua gente da extrema pobreza, o Brasil tem que providenciar a inclusão definitiva do Nordeste à agenda do desenvolvimento nacional.