Opinião do JC: Cidadania vai muito além do voto ou de uma eleição

No momento de digitar os votos na urna, o povo brasileiro participa do processo democrático que não se encerra nem se limita à eleição

Publicado em 05/10/2024 às 19:05 | Atualizado em 05/10/2024 às 22:00

Muita gente no Brasil participa ou deseja participar da política, a fim de interferir diretamente nos destinos coletivos. Apenas nas eleições municipais deste ano, de acordo com números oficiais, 431 mil brasileiros apresentaram candidaturas para uma das quase 60 mil cadeiras de vereadores.

Outros 30 mil se lançaram em chapas majoritárias para a prefeitura de uma das 5,5 mil cidades em todo o território nacional. Ainda na sub-representação de gênero, as mulheres são quase a metade das candidaturas dos homens, que ocupam 65% das posições de disputa.

Mas não é necessário ter filiação partidária para exercer um papel importante na democracia. De fato, cada eleitora e eleitor cumprem uma parte desse papel, ao escolherem conscientemente em quem vão votar. A outra parte é a que não se esgota na eleição, nem se limita ao resultado das urnas.

Sejam quais forem as pessoas eleitas, da presidência da República às câmaras de vereadores, a população deve continuar o roteiro da cidadania, ao menos de duas formas: cobrando das autoridades eleitas o cumprimento de suas responsabilidades, ou expressando descontentamento com o curso da gestão ou do mandato parlamentar.

Daí a necessidade da comparação das ideias e propostas, bem como do reconhecimento dos problemas que continuam e dos resultados, a cada período de quatro anos, conforme a legislação brasileira define os mandatos, à exceção do Senado, estipulado em oito anos.

No caso da eleição municipal, o poder mais próximo da população requer ainda mais participação de quem não exerce o poder, uma vez que as demandas são mais facilmente identificáveis, nas ruas, nas proximidades da residência ou do local de trabalho.

Se numa eleição é possível se abster e não votar – mesmo assim integrando o processo democrático – o distanciamento do cidadão dos assuntos políticos no cotidiano abre espaços para aventureiros e populistas que atacam o sistema democrático, aproveitando-se dele.

A democracia se fortalece enquanto demanda contínua de participação, para o alcance de metas coletivas de bem-estar e qualidade de vida. Um dia de eleição, como o deste domingo, dedicado à escolha do indivíduo que se torna escolha de uma coletividade, pode ser visto como um dia festivo, de celebração democrática. Mas a festa não esgota a cidadania.

Pelo contrário, é tão somente um instante valioso do pressuposto de participação que cada cidadão carrega. Assim como a responsabilidade desejada por quase 500 mil brasileiros nestas eleições, a cidadania se faz por direitos e deveres que se aglutinam – como o direito e o dever de votar em eleições livres.

A cidadania além do voto parte do passo elementar de uma eleição e se aprofunda fora das campanhas e do ritual eleitoral. Num país de instituições jovens e problemas antigos, estimular a população a participar da política sem filiação partidária, é uma tarefa de todos que enxergam a democracia como o único ambiente capaz de superar esses problemas, e proporcionar o amadurecimento institucional de que ainda – muito – precisamos.

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