Antes de o céu desabar
Furacões e tempestades que vêm se repetindo pelo mundo mostram aos brasileiros a importância de medidas preventivas para evitar mortes e prejuízos

Desta vez foi na França. O temporal que provocou a maior catástrofe dos últimos 40 anos, nas palavras do primeiro-ministro Michel Barbieri, deixou centenas de desabrigados. E apenas não causou estragos maiores porque o sistema de alerta funcionou, fazendo com que mais de mil pessoas fossem evacuadas de suas casas, por precaução. Para se ter uma ideia do volume de água desabando do céu, o ministério do Meio Ambiente francês divulgou que choveu 700 milímetros em 48 horas no sudeste do país - mais que o total durante o ano inteiro em Paris. Em comparação, bastam 50 milímetros de chuva num dia para configurar uma tempestade como as que estamos acostumados no Brasil.
Outra demonstração de capacidade preventiva, que envolve planejamento, estrutura e engajamento da população, pôde ser vista na passagem do furacão Milton sobre a Flórida, no Estados Unidos. Embora a violência dos ventos tenha sido imensa, centenas de milhares de pessoas foram evacuadas em tempo hábil e para abrigos seguros, até que o clima se amenizasse. Mesmo em se tratando de uma região acostumada às temporadas de furacões, o baixo impacto relativo da ventania de Milton na Flórida serviu ao mesmo tempo de exemplo e alerta: a realidade das mudanças climáticas parece ter chegado de vez, e deve suscitar mudanças na gestão pública e no comportamento coletivo diante dos fenômenos do clima.
Na França, além de novo sistema de alerta, com maior agilidade para ações de emergência, as autoridades e a população sabem o que deve ser feito, sem hesitações. O centro de uma cidade perto de Lyon foi fechado completamente, e as escolas, imediatamente evacuadas, aos primeiros sinais da chuva prevista pela meteorologia. O mesmo se dá nos Estados Unidos, no Japão e em outros locais onde eventos da natureza desafiam os estabelecimentos e os ajuntamentos humanos. Com as mudanças climáticas com o pé no acelerador, o aumento da temperatura na superfície do planeta, em especial nos oceanos, pode gerar ainda mais fenômenos extremos. Como os cientistas avisam há algum tempo, fenômenos que podem ser tão rápidos quanto intensos, solicitando preparo e rotinas de convivência.
No Brasil, depois da seca na Amazônia e no Pantanal, os temporais assustam os moradores das grandes cidades e de áreas cruzadas por rios. A exemplo das inundações provocadas pelas chuvas torrenciais no Rio Grande do Sul, em maio, que fecharam o aeroporto Salgado Filho, de Porto Alegre – que somente será reaberto na próxima segunda-feira, aliás, para voos comerciais. Em São Paulo, a temporada de chuvas fortes mal começou, e milhões de pessoas ficaram sem energia por quase uma semana, depois de uma tempestade.
A prevenção contra os estragos da chuva precisa ser prioridade para a gestão pública brasileira, do Planalto e seus ministérios aos prefeitos e vereadores. Ou se compreende que a força dos eventos climáticos pode ser devastadora, ou corremos riscos evitáveis de novas tragédias no país.