No caminho para sair do atraso

Pequenos avanços nas metas de desenvolvimento sustentável exibem os desafios de uma nação com dificuldades para superação das desigualdades

Publicado em 23/10/2024 às 0:00

A rota dos brasileiros para o desenvolvimento é historicamente desanimadora. O crescimento econômico sem justiça social foi gerador de aviltante desigualdade, cujas facetas estão por várias partes do vasto território nacional. Num contexto global de sérios entraves pela frente, poucos anos após uma pandemia e diante de imprevisíveis cenários das mudanças climáticas, os desafios se multiplicam. Vale ressaltar que 2024 ainda nem terminou, e já temos uma enchente devastadora no Rio Grande do Sul, uma seca preocupante na Amazônia e seguidos recordes de queimadas florestais para juntar aos problemas cotidianos da população. Antes de andar para frente, o Brasil precisa não ficar ainda mais para trás, de preferência equilibrando as conquistas entre as regiões.
De acordo com o relatório da ONG Gestos, divulgado esta semana, há avanços conquistados pelo país na direção do Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Agenda 2030. Os avanços podem ser constatados de um ano para cá, mas, no entanto, representam a recuperação de condições existentes há quase uma década, em 2015. A percepção de que estamos coletivamente estagnados não é novidade, mas sua ratificação por novos dados não deixa de ser constrangedora.
Se a insegurança alimentar diminuiu, e o povo está com menos fome, os indicadores de saúde e educação persistem muito ruins, exibindo a precariedade estrutural para o desenvolvimento sustentável. Das 168 metas avaliadas, apenas em 13 o país evoluiu satisfatoriamente. E em 40, o que se vê é retrocesso – no ano passado, o monitoramento indicava retrocesso em mais de 100 metas. Melhoramos. Mas para deixar de ser insatisfatória, a situação brasileira tem um longo caminho pela frente. A evolução anotada é muito pouco para as dimensões das demandas de uma das maiores economias e populações do planeta.
Nas metas para educação de qualidade, por exemplo, três são consideradas insuficientes, uma está estagnada, outra ameaçada, e seis apresentam retrocesso. Nas de água potável e saneamento, três encontram-se estagnadas, e cinco em retrocesso. O acompanhamento das metas para trabalho decente e crescimento econômico, indústria e infraestrutura, redução das desigualdades e outras, permanece um exercício frustrante para os brasileiros. Pior do que a sensação de que há bastante a ser feito para mudar esse quadro, é enxergar que pouco foi feito até agora, em décadas.
A distância das metas do desenvolvimento sustentável deveria mobilizar os agentes públicos e privados, em todo o país, num esforço conjunto para destravar a inércia que paralisa o Brasil. O planejamento integrado e articulado entre políticas públicas em todos os níveis de gestão, acompanhado por investimentos maciços onde importa para reduzir as desigualdades e abrir oportunidades, ainda não configuram prioridades no país. Infelizmente.

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