Despreparo em Pernambuco

Levantamento indica que 75% dos municípios não dispõem de esquema preventivo e de ações emergenciais para lidar com desastres naturais

Publicado em 08/11/2024 às 0:00

Tragédias costumam deixar lições, por cima dos escombros da dor e das perdas irreversíveis, sobre o que pode ser feito para evitar que se repitam. Há dois anos, os pernambucanos tiveram uma mostra da violência da Natureza, quando 134 pessoas morreram e milhares tiveram que sair de suas casas – mesmo improvisadas, desprovidas de infraestrutura e de dignidade – em decorrência de temporais e deslizamentos de terra. Praticamente todos os meses, os chamados desastres naturais, manifestações da instabilidade que sai do clima para o ciclo das águas no planeta, vêm ocorrendo em diversos países. No Brasil, as inundações no Rio Grande do Sul, este ano, formaram a mais contundente prova de que não se pode esperar que o pior aconteça, em termos de mudanças climáticas. A urgência para enfrentar a questão, para variar, já se torna atrasada no país das postergações.
O que vale para grande parte do território nacional se aplica também a Pernambuco. Há uma dificuldade inerente à gestão pública para a prevenção necessária em uma época de sonoros avisos e alertas. De acordo com relatório do Tribunal de Contas do Estado (TCE), nada menos que 75% dos municípios pernambucanos não está cuidando do dever de casa para evitar que as tragédias aconteçam em seus limites geográficos. Mesmo com a consternação que tomou conta não só do estado, mas do país, em 2022, o tempo passou sem que os prefeitos despertassem para a importância de medidas preventivas, mitigadoras e de monitoramento contra desfechos trágicos que podem ser evitados – se não se deixar tudo para depois da hora, como tem sido o nosso costume, há séculos.
No levantamento que será entregue a todos os gestores municipais de Pernambuco, consta que apenas 7, dos 184, são considerados em dia com o gerenciamento de riscos de desastres: Carpina, Toritama, Triunfo, Itapissuma, Solidão e Salgadinho, além da capital, o Recife. A avaliação do órgão de controle inclui planos de contingência, programas habitacionais e reserva no orçamento para garantir as ações com celeridade, uma vez necessárias. No entanto, pela quantidade de habitantes morando em áreas de risco no Recife – mais de 200 mil – cumpre observar que o TCE não se debruçou sobre a variável estrutural do risco ao desencadeamento do trágico. Será que os recifenses mais pobres se sentem seguros, quando chove mais forte¿ Dificilmente. E o que a gestão pública, em todos os níveis, vem fazendo para mudar essa condição de partida para a exposição ao pior¿
Os números coletados dizem muito de um desleixo repartido: nos últimos 35 anos, quase 300 pernambucanos morreram, 545 mil foram desalojados ou desabrigados, e mais de 3,2 mil ocorrências geraram um prejuízo estimado em R$ 34 bilhões – cifra que faz falta para qualquer gestor, e sobretudo, para populações carentes de atendimento a direitos básicos. Prefeitas e prefeitos que retomam ou iniciam mandatos em janeiro poderiam assumir a agenda do risco climático sem demora, se unindo em torno de soluções conjuntas, e solicitando a devida participação das esferas estadual e federal. O que não dá é para deixar tudo continuar como está.

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