O futuro árido no mundo
De acordo com o Atlas Mundial das Secas, da ONU, a intensificação desse fenômeno irá atingir cada vez mais países, comprometendo a biodiversidade
Para variar, especialistas reunidos para debater os efeitos e as perspectivas das mudanças climáticas, no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), fazem alertas que também são queixas contra os governos dos países do mundo inteiro. Desta vez, o mote é o Atlas Mundial das Secas, que aborda os riscos para bilhões de pessoas ao redor do globo, e para as espécies animais e vegetais, por causa da intensificação e ocorrências prolongadas das estiagens. Para os cientistas, as secas de longa duração podem se tornar comuns nos próximos anos, lançando desafios à gestão ambiental e aos governos locais que não se prepararem para lidar com o fenômeno.
“Um dos perigos mais caros e mortais”, na expressão utilizada pelos pesquisadores no lançamento do Atlas, é bem conhecido dos brasileiros, especialmente dos nordestinos, desde sempre. A convivência com a seca faz parte de gerações sucessivas de nordestinos, que podem atestar a realidade do risco, com apropriado lugar de fala. A experiência de sofrimento, mas também o conhecimento acumulado pelas pesquisas e pelas soluções desenvolvidas no Brasil, hão de ser muito úteis ao planeta, a partir do momento em que a estiagem se globaliza, surgindo como um dos principais efeitos das mudanças climáticas – de consequências em larga e tenebrosa escala.
No ano mais quente já registrado, em 2024, as secas foram destaque em várias partes do mundo, em todos os continentes. No Equador e na Amazônia, na região do Mediterrâneo e na África, e outros lugares, sobram exemplos do agravamento das condições ambientais em virtude das temperaturas recordes. O alerta que soa novamente como queixa, agora, avisa que, embora outros fenômenos costumem receber mais atenção dos governos, como tempestades e furacões, as secas prolongadas podem ser tão devastadoras quanto os fenômenos intensos mais breves – e talvez até mais, uma vez que incidem sobre a biodiversidade, reduzindo a oferta de recursos naturais para a sua preservação.
De acordo com os prognósticos das Nações Unidas, até 2050 três quartos da população da Terra estarão sob influência das secas, em algum período do ano e de alguma maneira. As estiagens irão influenciar a economia e o modo de vida da maioria da população, requerendo medidas emergenciais para proteção humana e de outras espécies, e visão de longo prazo para uma normalidade regida pela estiagem na direção da desertificação. O desafio nas próximas décadas – no período curto de 25 anos – será fazer com que as mudanças climáticas não continuem sendo relegadas a segundo plano pelos governos nacionais e locais, para evitar que as consequências venham a ser ainda piores do que se imagina.
Será preciso enorme investimento financeiro, sobretudo em países que não dispõem de dinheiro para isso, e o compromisso dos gestores com o destino coletivo – duas coisas com que o Nordeste brasileiro nem sempre contou – para minimizar o futuro árido da humanidade.