Um país sem manutenção
Desabamento de parte de uma ponte essencial entre o Maranhão e Tocantins reflete o descompromisso da gestão pública com a infraestrutura
A irresponsabilidade pública no Brasil parece não ter limites. Nos últimos anos, vimos incêndios de prédios importantes como um museu no Rio de Janeiro, ou um crime ambiental de proporções apocalíticas em Minas Gerais. Em Pernambuco, entre outros exemplos, a sucata em que se transformou o Metrô do Recife é um tormento para os usuários que dependem do serviço para se locomover. Todos os dias, o noticiário estampa resultados da omissão em diversos pontos do país, especialmente na defasagem da estrutura rodoviária. No domingo, parte de uma ponte com nome de presidente da República – Juscelino Kubitschek – foi abaixo, com veículos trafegando, deixando pelo menos quatro pessoas mortas e 16 desaparecidos.
A Polícia Federal e o Ministério Público dos dois estados vão investigar o colapso da ligação entre os municípios de Estreito, no Maranhão, e Aguiarnópolis, no Tocantins. Em rota vital para o escoamento da produção e o fluxo da economia, num tráfego intenso entre as regiões Nordeste e Centro-Oeste, a interrupção trágica, além das vítimas, ainda causou dano ambiental, com a queda de três caminhões com produtos químicos de 22 mil litros de defensivos agrícolas e 76 toneladas de ácido sulfúrico no rio sob a ponte JK. O monitoramento das condições de sobrevivência dos animais ribeirinhos vem sendo feita, de maneira a dimensionar o estrago e suas consequências para a natureza.
A ponte é tão essencial que não foi fechada, nem teve reduzido o seu trânsito de veículos, mesmo depois de se saber da precariedade de sua estrutura. Um edital para os serviços recuperação foi lançado pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) no primeiro semestre deste ano. Nenhuma das 12 empresas concorrentes foi habilitada para a realização, e nada mais foi feito. Enquanto isso, a deterioração chegou ao ponto de ruptura – o que não ocorre em muitos equipamentos da estrutura viária nacional, nos estados e municípios, que precisam de manutenção e restauração para oferecer segurança para a população.
Interditada há mais de um ano, a Ponte Giratória, na capital pernambucana, é um exemplo de outra situação comum no país: a demora na execução de obras públicas de alta demanda coletiva. A conexão interrompida dos bairros de São José ao do Recife afeta milhares de pessoas diariamente, em efeito dominó que se estende por um raio maior, no já conturbado trânsito recifense. O custo do atraso nas manutenções é encarecido duplamente, nas obras viárias no Brasil – eleva o risco para quem trafega, e exige maior dispêndio que sai do bolso dos cidadãos, quando a gestão pública não tem a noção do que precisa ser feito antes de iniciar a recuperação.
Mais de 700 pontes no país encontram-se em condições similares às da que rompeu no domingo, de acordo com levantamento com base em dados do Dnit. O retrato do descaso com a manutenção rodoviária se estende a vias, túneis e passarelas, que pedem bilhões de reais para apenas saírem da precariedade.