Corrupção, de novo?

A demora para o afastamento de integrantes do governo envolvidos em investigações de mau uso dos recursos públicos, torna-se estímulo à impunidade

Publicado em 19/01/2025 às 0:00
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Marcado por escândalos de corrupção em seus governos desde o primeiro mandato como presidente da República, que teve o traumático mensalão – decepção para companheiros históricos de trajetória política – o presidente Lula cruza a metade do terceiro período no Planalto sob a sombra da condescendência com membros do governo investigados por crimes de superfaturamento e mau uso dos recursos públicos. Ao invés de afastar os envolvidos para dar, ao menos, uma satisfação à Justiça e à população, o presidente acha melhor fazer de conta que não é dele a responsabilidade em mantê-los nas funções, nem a escolha de fechar os olhos, estimulando, com isso, a impunidade que gera mais corruptos no Brasil.
O Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS – é o novo foco de mais um escândalo, em investigação há algum tempo, pela Polícia Federal. E mesmo após as provas de escutas de conversas com empreiteiros, o coordenador da entidade na Bahia não foi descredenciado pelo presidente Lula, seguindo no cargo como se nada estivesse acontecendo. Desta vez, as suspeitas fortes, mais uma vez, apontam para dutos de dinheiro escoando roubos entre o Executivo e o Legislativo, através de emendas parlamentares cercadas de mistérios que podem esconder a porteira da corrupção. De novo. Até quando?
Em atitude similar, o presidente da República se recusa a enxergar a denúncia da Polícia Federal contra seu ministro das Comunicações, por coincidência, do mesmo partido destacado no escândalo do DNOCS: o União Brasil, que participou da base da defenestrada gestão anterior – atacada por tudo pelo PT, mas não dispensada em sua base no Congresso e em cargos no governo. O partido, aliás, ao invés de diminuir, espera ampliar sua presença na terceira gestão Lula, este ano. Pelo visto, se depender do presidente da República, não há mal nenhum em contar com investigados com pinta e fama de corruptos na máquina federal. De novo. Até quando?
O que se repete na administração pública e na política brasileira termina afastando o cidadão do processo democrático, para não testemunhar a podridão exposta. Se nem o líder máximo do país se importa, porque outros irão se importar? Cabe aos órgãos da Justiça, e à própria, acelerar os processos, quem sabe mostrando a nua verdade encoberta pelos panos da desfaçatez. “Submetido a uma quantidade absurda de escândalos na liberação de verbas federais — um gerando outro, um atropelando outro, uns se multiplicando em outros — o contribuinte brasileiro é empurrado para o desânimo”, escreveu o colunista do UOL, Josias de Souza. Na perspectiva da democracia, a corrupção intocada vai minando a confiança popular na política, abrindo espaço para os que se dizem alheios ao sistema, com o objetivo de reformar hábitos considerados execráveis. Quando eleitos, os outsiders rezam pela mesma cartilha, podendo fazer pior, descambando para a tentação autoritária. Já vimos esse filme. Será que vamos ter que assistir de novo? Até quando?

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