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Editorial JC: Na garupa do perigo

Novos dados de São Paulo e região repetem estatísticas da Região Metropolitana do Recife: os aplicativos de motos são um risco à saúde pública

Publicado em 30/01/2025 às 0:00 | Atualizado em 30/01/2025 às 7:08
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O crescimento do número de mortes entre motociclistas e passageiros no trânsito de quase 30 cidades da Região Metropolitana de São Paulo, desde 2022, vem a ser mais uma evidência do alto risco imposto pelos aplicativos de transporte que se aproveitam da demanda mal atendida por transporte público, para transferir para as motos o desejo da população de viagens rápidas e baratas.

O ano de 2022 foi quando os aplicativos ativaram o serviço para as motos em São Paulo. A constatação do aumento de óbitos vem reforçar dados de outros cantos do país, inclusive Pernambuco, que denunciam o transporte de passageiros sobre duas rodas como um grande risco à saúde pública.

Dados mostram a realidade

A variação registrada foi de 8% de óbitos antes da pandemia, em 2019, até 2024, no cômputo das mortes no trânsito com motos – de 38% para 46%. De 2022 a 2024, as mortes de ocupantes de motocicletas subiram 23%, enquanto aquelas no âmbito dos demais modais de transporte cresceram 10%.

Quase 100 passageiros de motos perderam suas vidas, no ano passado, na região, maior quantidade já anotada. Em São Bernardo do Campo, os óbitos dispararam, quase dobrando, de 2022 para 2023, quando 55 pessoas morreram porque estavam de carona em motos. Algumas prefeituras até que tentaram frear a epidemia, mas a justiça impediu a proibição, alegando que se trata de legislação federal que não pode ser alterada pelos municípios.

A Prefeitura de São Paulo vem travando duelo de comunicação e jurídico com as empresas de aplicativos de transporte, buscando a proibição dessa modalidade na maior cidade da América Latina. O problema não é apenas de ordem formal, nem incide sobre a liberdade de ir e vir. Trata-se de questão mais complexa, que diz respeito à insuficiência da oferta de transporte público, por um lado, e à desordem urbana que serve de pano de fundo para a atuação dos aplicativos de mobilidade, por outro.

A situação vem ganhando contornos trágicos no Brasil, nos últimos anos, por causa da popularização do serviço e da falta de gestão dos governos que não se incomodam com as estatísticas – a maioria faz de conta que o deslocamento seguro das pessoas nos territórios municipais e estaduais, não pertence à sua responsabilidade.

A regulação com severas restrições de segurança precisa da atenção das autoridades, em todo o país. Pois as empresas de aplicativos não são exclusivamente responsáveis pelo que vem ocorrendo, num cenário em que o serviço já era prestado de maneira autônoma, por motociclistas, antes da entrada dessas empresas no mercado.

Se os gestores municipais e estaduais devem fazer a sua parte, por exemplo, pressionando para a modificação necessária na lei federal, o governo Lula, o Congresso e o Judiciário não podem permanecer alheios. Afinal, a população está sendo duplamente castigada: pelo transporte público ausente ou de má qualidade, e pelo risco coletivo que vem da omissão do poder público.

Confira a charge do JC desta quinta-feira (30)

Thiago Lucas
EUA e China disputam o domínio sobre a inteligência artificial - Thiago Lucas

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