Editorial JC: O destino de Gaza
Enquanto o Hamas e o governo de Israel não chegam a um consenso após o cenário de destruição, a incerteza continua no horizonte dos palestinos

O custo financeiro da reconstrução já é estimado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em mais de 50 bilhões de dólares. Mas a terra arrasada na Faixa de Gaza pode trazer outros custos que não são estimáveis neste momento.
Até a proposta de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, de impedir o retorno dos palestinos e utilizar a área para fins turísticos, não deixa de ser um reflexo da falta de rumos para a região, depois do ataque terrorista do Hamas e do revide bélico dos israelenses, que matou dezenas de milhares de palestinos sem qualquer ligação com o terrorismo.
O que for definido para Gaza pode ser simbólico, de outra parte, para o destino da humanidade, que precisa resolver se mira na paz como fundamento, ou na guerra como solução para os problemas entre os povos.
De partida, a crise humanitária resultante do conflito não pode ser simplesmente atirada para fora do território. Há responsabilidades a serem assumidas, tanto pelo governo israelense e seus aliados, quanto pelo Hamas, e ainda, pelo resto do mundo que tem, na religiosidade da área, um espelho de contradições mais profundas e amplas do que a relação entre judeus e palestinos.
As viúvas e os órfãos que sobreviveram, bem como os homens jovens e adultos, que passaram privações denunciadas diariamente pelos observadores internacionais, merecem mais do que a visão deturpada por uma guerra desproporcional. A situação de habitação, alimentação e segurança dos palestinos expulsos de suas casas precisa ser alvo da preocupação global, mas sobretudo, de norte-americanos e israelenses.
Os recursos bilionários para uma reconstrução dos prédios abatidos – residências, hospitais, escolas, comércio e serviços – também devem ser aproveitados para a reerguer um ambiente de convivência entre os povos radicalizados por grupos terroristas e governantes adeptos da força de mísseis e balas.
O cessar-fogo não pode ser visto como um favor de lado a lado, mas o predomínio de um consenso entre as populações, sobre a necessidade de estancar o derrame de sangue e dar uma chance à vida em paz, com liberdade e dignidade para todos.
Para a ONU, apenas nos primeiros três anos sem conflitos, serão demandados mais de 20 bilhões de dólares em investimentos, especialmente para os 60% de moradias destruídas pelos bombardeios israelenses. “Essa avaliação parcial fornece uma indicação inicial da escala considerável das necessidades de recuperação e reconstrução no território”, aponta o relatório das Nações Unidas, divulgado esta semana. A escala das necessidades de resgate da tolerância e de aproximação na região são ainda maiores, e não se mede em qualquer moeda.
A superação de rancores e mágoas advindas do sofrimento de parte a parte, desde a barbaridade do Hamas e os ataques de revide por Israel, impõe-se como foco dos esforços diplomáticos e políticos, a fim de que o destino almejado não volte a ser negado pela violência e pela insensatez.
Confira a charge do JC desta quarta-feira (12)