As pessoas que usam o transporte público foram surpreendidas na manhã desta quinta-feira (5) com uma assembleia de motoristas e cobradores de ônibus em frente à garagem da empresa Metropolitana, que fica no bairro do Barro, Zona Oeste do Recife. Por conta da paralisação, os ônibus não estão circulando e os passageiros estão encontrando preços maiores ao buscar o transporte por aplicativo para se deslocar.
Por exemplo, uma viagem com o aplicativo Uber e 99 pop do Terminal Integrado do Barro, na Zona Oeste da capital, até a Avenida Guararapes, no Centro do Recife, está custando, em média, R$ 30. Já do Terminal Integrado da Macaxeira, no bairro de Dois Irmãos, Zona Norte do Recife, até a Avenida Guararapes, na 99 pop está custando, em média, R$ 40. Pela empresa Uber, a média de preço é de R$ 25.
Impasse entre rodoviários e Urbana-PE
Para entender as polêmicas envolvendo a retirada dos cobradores das linhas de ônibus do Grande Recife, é preciso retornar ao ano de 2016. Em julho daquele ano, a primeira linha, a 901 - TI Abreu e Lima/TI Macaxeira, deixava de trafegar com os profissionais, em uma tentativa do Governo de Pernambuco e da Urbana-PE de diminuírem a circulação de dinheiro dentro dos veículos, estimulando o uso do Vale Eletrônico Metropolitano (VEM) e, consequentemente, reduzindo os assaltos.
Em março de 2017, o anúncio de mais oito linhas aderindo à, então, novidade, fez com que o governador Paulo Câmara determinasse que a retirada dos cobradores fosse suspensa. O pedido ocorreu em abril de 2017, quando 32 linhas já trafegavam apenas com os motoristas. A retirada dos profissionais, à época, chamou a atenção do Ministério Público de Pernambuco (MPPE). Mesmo com a suspensão, duas linhas deixaram de ter cobradores em dezembro do mesmo ano.
O histórico de protestos realizados pelo Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco contra a demissão dos profissionais, e mais recentemente contra o acúmulo de função por parte dos motoristas, o que a categoria chama de dupla função, não é pequeno. Mesmo com a determinação do governador, em 2017, foram quatro manifestações relacionadas ao tema, entre março e abril.
Com a retomada da saída dos cobradores das linhas, que ocorreu em maio de 2019, e a intensificação da retirada, em novembro do ano passado, vieram novas manifestações relacionadas ao tema. Além dos protestos, ocorreu também a eleição de um novo representante para o Sindicato dos Rodoviários, que até então era comandado pelo presidente Benilson Custódio. Foi durante a gestão dele, inclusive, que foi acordando com os empresários de ônibus, em convenção coletiva dos motoristas e cobradores, e em seguida validada pelo governo de Pernambuco, a dupla função. Nas assembleias realizadas em julho de 2019, inclusive, houve a proposta de aumento em 35% na gratificação dos motoristas que tivessem acumulando função, que ganhavam R$ 100 até então.
Com as eleições, desde o dia 23 de dezembro de 2019, o novo líder da categoria é Aldo Lima, que já comandava algumas das manifestações realizadas pelos rodoviários, mas como oposição ao Sindicato. De outubro de 2019 a dezembro, foram seis mobilizações, em diversos pontos do Recife. Em 2020, já foram dois atos, sendo um em fevereiro e outro realizado na manhã desta quarta-feira (4), em frente à empresa Caxangá, no bairro de Peixinhos, em Olinda.
Diante de todo o histórico, mesmo após suspensão e retorno da retirada dos cobradores, protestos da categoria e a convenção coletiva, o que impera é o impasse. De um lado, os rodoviários alegam que vão continuar mobilizados e que são contrários à dupla função e à demissão dos cobradores. De outro, a Urbana-PE e do Grande Recife Consórcio dizem que o acúmulo foi acordado com a categoria, que aceitou o acordo durante a convenção coletiva.
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