A maior parte da população do Grande Recife cumpriu o decreto do governo de Pernambuco que determina o fechamento de praias e parques do Estado até a próxima segunda-feira (6), como tentativa de conter o avanço do novo coronavírus (covid-19), porém houve quem ignorou a norma e tomou banho na Praia de Boa Viagem, a mais famosa da capital pernambucana, na manhã deste sábado (4). No calçadão da orla, várias pessoas — algumas delas com máscaras — eram vistas caminhando e correndo. Além dessas, era possível notar também ciclistas andando de bicicleta na região. Praticadas bem próximo à areia e ao mar, as atividades, segundo o decreto, estão permitidas, desde que os devidos cuidados de distanciamento e prevenção sejam tomados.
Considerada rigorosa por muitos frequentadores da praia, a ordem governamental foi criticada pela aposentada Lucila Boudoux, 75 anos. Para ela, a proibição é “um absurdo” e não é necessária. "Bastava orientar as pessoas para que elas mantenham uma distância de segurança", disse ela, que é moradora do bairro, e conta que antes da norma costumava caminhar pela areia, mas passou a andar pelo calçadão ao observar algumas pessoas sendo retiradas da praia por equipes de fiscalização.
Segundo o decreto assinado pelo governador Paulo Câmara (PSB), na sexta-feira (3), são responsáveis pelo controle do acesso à praia os agentes da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU), a Guarda Municipal da capital, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros. No entanto, estes só atuaram para retirar banhistas do mar quando avistaram a equipe de reportagem do Jornal do Commercio.
Uma das pessoas que foram abordadas pelos agentes foi o aposentado Rafael de Almeida, 73. Segundo ele, a determinação estadual é semelhante a práticas de uma "ditadura". Apesar disso, Almeida elogiou a forma com que foi orientado. "Eles [os policiais] vieram muito gentilmente, trabalharam muito bem e foram educados”, afirmou o aposentado, para quem a proibição deveria ser suspensa, contando que diariamente caminha na beira da praia por recomendação médica. “Pode lá em cima [no calçadão] e aqui [na areia] não?”, questionou.
Assim como Rafael de Almeida, o ambulante Jairon Lima, 46, que trabalha na praia há 23 anos, criticou o decreto do governador Paulo Câmara e afirmou que a ordem relembra medidas impostas pelo regime militar nos anos 1970. “Nós voltamos para a ditadura? Daqui a pouco a polícia vai nos prender ou, no mínimo, escoltar para sair da praia", disse ele que, com a voz embargada, contou que foi à praia neste sábado porque receberia uma cesta básica de uns clientes que atendia antes da pandemia. "Minha família está passando necessidade, por isso vim atrás de comida", explicou.
Já o chapeiro José Hélio de Santana, 49, que costuma ir à praia de Boa Viagem nos finais de semana, considera que as recomendações do governo de Pernambuco para evitar aglomerações são adequadas, porém o fechamento das praias do Estado deveria ser flexibilizado. "O banho de mar faz parte da nossa vida e poderia ser liberado entre as 7h e 9h da manhã”, declarou ele, que, equipado com máscara, luvas e álcool gel, chegou a molhar os pés nas águas de Boa Viagem.
No mesmo bairro, quem foi ao Parque Dona Lindu encontrou o espaço vazio e com as atrações fechadas. No local, fitas de isolamento foram fixadas para proibir a utilização dos brinquedos e outros equipamentos. Por causa disso, o cenário encontrada na manhã deste sábado no Dona Lindu foi de tranquilidade. No entanto, algumas pessoas insistiram em deixar suas residências e decidiram passear pelo parque. Esse é o caso da turista Mirian Oliveira, 52. "Como eu estou vindo de São Paulo, estou só andando um pouco [para conhecer]”, afirmou ela, que precisou vir até a capital pernambucana após o pai ficar doente e precisar ser internado em um hospital da cidade. Mirian disse ainda que os pernambucanos deveriam seguir as recomendações das autoridades de saúde e não sair de casa.
Do outro lado da cidade, no Parque da Jaqueira, na Zona Norte do Recife, a movimentação também era fraca. No local, uma placa informava que o equipamento público de lazer estava fechado temporariamente. Do lado de fora, comerciantes amargavam baixo movimento e, consequentemente, pouco rendimento. Além dos trabalhadores informais e orientadores de trânsito, os famosos “amarelinhos”, não havia ninguém nas redondezas do lugar, nem mesmo equipes de fiscalização, que, segundo os barraqueiros, passaram na região apenas nas primeiras horas do dia para orientá-los.
Dono de uma banca de jornais e revistas na entrada do parque há 20 anos, o comerciante Geraldo Rodrigues afirmou que, apesar do impacto negativo sobre a economia, a determinação do governo de Pernambuco é necessária. "Espero que com essa medida, todos entendam a importância de evitar aglomerações", declarou ele, afirmando que as pessoas não respeitavam a distância de segurança. "Basta olhar a foto que saiu hoje no jornal para constatar isso", disse Rodrigues, mostrando a reportagem sobre o decreto estadual veiculada na edição do JC deste sábado (4).
No mesmo sentido, o comerciante Luciano Costa, 56, defendeu o fechamento dos parques e praias do Estado e disse ser favorável a “qualquer medida que vise conter o coronavírus”. Para ele, as autoridades sanitárias devem observar o exemplo de outros países afetados pela covid-19 e, por isso, não podem recuar nas medidas para frear o avanço da doença, como o fechamento de comércios e serviços não essenciais. “A pressão para antecipar a abertura das coisas pode resultar num problema maior”, argumentou.
A reportagem do JC também visitou as praias do Pina, no Recife, de Pau Amarelo, em Paulista, e de Muro Alto, em Ipojuca, município que decretou, no dia 23 de março, a interdição de todas as praias do litoral, rios e mangues, e, inclusive, proibição do banho de mar. Quem descumprir a regra, pode ser encaminhado à delegacia por crime de desobediência. Nestas costas, não havia banhistas, apenas poucas pessoas caminhando, e o comércio estava fechado.
Veja a lista dos parques fechados temporariamente
- 13 de Maio,
- da Jaqueira,
- Santana
- Arnaldo Assunção
- Robert Kennedy
- Apipucos
- Caiara
- Arraia do Forte Novo do Bom Jesus
- Dona Lindu
- Macaxeira
- Sítio Trindade
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O que é coronavírus?
Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.
A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.
Como prevenir o coronavírus?
O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:
- Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
- Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
- Evitar contato próximo com pessoas doentes.
- Ficar em casa quando estiver doente.
- Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
- Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com freqüência.
- Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (mascára cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).
Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.
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