Desde a quinta-feira da semana passada, saber notícias do irmão tem sido um desafio para a dona de casa Vânia Maria Ortiz, de 61 anos. O homem de 62 anos deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Engenho Velho, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, naquele dia com sintomas do novo coronavírus (covid-19) e precisou ficar internado. De lá pra cá, os dias têm sido de agonia. Assim como ela, familiares de pessoas com suspeita ou confirmação laboratorial da doença precisam lidar com a falta de informações sobre os pacientes internados em unidades de saúde do Estado.
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O irmão da dona de casa, que é diabético, hipertenso e também tem problemas cardíacos, procurou a UPA após sentir febre e falta de ar. Na unidade, apresentou piora e precisou ficar o fim de semana à espera de uma ambulância com suporte para que fosse transferido para um leito de UTI. "No início, a gente conseguia falar com ele pelo celular, mas descarregou. Foi quando a gente começou a ficar sem informações. No domingo à noite, ele foi transferido para o (antigo) Hospital Alfa, sem que ninguém nos avisar. A gente só soube porque minha filha ligou para a UPA atrás de notícias dele", conta Vânia.
Na última segunda-feira (27), Vânia foi até o hospital, em Boa Viagem, Zona Sul, para saber sobre o estado de saúde do irmão. O antigo Alfa, hoje Hospital Nossa Senhora das Graças, estava desativado e foi adquirido administrativamente pelo governo do Estado para atender casos de coronavírus. "Cheguei cedo, falei com a assistente social e pedi notícias. Uma pessoa ligou para a médica e informou que o quadro era estável. Ficaram de ligar à tarde para dar informações, mas nada."
Sem notícias sobre o estado de saúde do irmão, ela voltou à unidade de saúde na manhã desta terça (28). "Novamente me disseram que iriam ligar, mas não fizeram. É uma falta de respeito com as famílias. Tem muita gente lá querendo saber dos seus parentes. Encontrei uma família que está desde domingo atrás do corpo de uma senhora que faleceu e ninguém sabe dizer onde está, para que seja liberado", relata.
Em coletiva de imprensa, o secretário de Saúde do Estado, André Longo, afirmou que existe recomendação de que informações sejam repassadas às famílias, mas que a dinâmica é própria de cada unidade de saúde. Segundo Longo, o Estado distribuirá tablets nos próximos dias para melhorar esse processo, mas não detalhou como funcionará a comunicação. "Hoje pedimos auxílio ao Conselho Regional de Medicina para saber como podermos fazer da melhor forma, passando informações essenciais às famílias. Esperamos que todos os casos atendidos nas redes estadual e municipal tenham orientações adequadas aos parentes."
Secretário de saúde do Recife, Jailson Correia explicou sobre a impossibilidade de um paciente com sintomas do novo coronavírus ficar acompanhado na unidade de saúde. "É importante que tanto pessoas internadas em leitos de enfermaria como em UTIs se mantenham sem acompanhante ou visitas. Isso se dá porque esse ambiente do hospital exige mais do que apenas o uso de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual); exige um treino adequado que só profissionais de saúde têm para se protegerem e também protegeram o ambiente", afirmou. "Isso cria um grande desafio de comunicação, mas temos feito esforços importantes para que as pessoas possam se comunicar com seus entes queridos", completou.
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O que é coronavírus?
Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.
A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.
Como prevenir o coronavírus?
O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:
- Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
- Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
- Evitar contato próximo com pessoas doentes.
- Ficar em casa quando estiver doente.
- Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
- Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com freqüência.
- Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (mascára cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).
- Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.
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