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A emoção dos agentes de trânsito que ajudaram mulher a dar à luz em viatura no Recife

Experiência foi única para os servidores, que também são pais

Maria Lígia Barros
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Maria Lígia Barros
Publicado em 21/05/2020 às 13:28 | Atualizado em 21/05/2020 às 15:38
CORTESIA
Experiência foi única e emocionou os agentes, que também são pais - FOTO: CORTESIA

Gestante de 8 meses e 8 dias, Gisela Evânia Almeida, de 28 anos, saiu de sua casa em Jardim Brasil, Olinda, até o Recife, nessa quarta-feira (20), para tirar a carteira de identidade. O documento é necessário para ter direito ao auxílio emergencial de R$ 600 do Governo Federal, ao qual foi contemplada na sexta-feira. Um grande imprevisto, no entanto, interrompeu a viagem: por volta das 11h50, a bolsa do líquido amniótico rompeu e Gisela começou a entrar em trabalho de parto no meio da parada de ônibus. Por sorte, em frente à unidade da Autarquia de Trânsito e Transporte (CTTU) na Av. Cruz Cabugá, em Santo Amaro, área central da Capital. Uma mulher não identificada, que se sensibilizou com a situação, correu até os servidores da companhia na esperança de conseguir ajuda.

Treinados em primeiros socorros, o coordenador Raí Eduardo Pereira, 26, e o agente de trânsito Weidson de Lima Pereira, 32, assistiram à mulher que, àquela altura, já estava tendo o neném. Mesmo não sendo a atribuição principal da corporação, os homens se sentiram compelidos a agir. “Era notório entender que ela estava em um estágio muito avançado do trabalho de parto, e não teria condições de esperar o Samu. Como a CTTU proporciona cursos avançados de salvamento, a gente tem conhecimento de como proceder”, disse.

“A gente colocou ela na viatura, e foi quando o bebê saiu, com a ajuda de da mulher que estava no local”, relatou Raí. “Ela pegou o bebê e entregou para a mãe, que colocou no colo e ficou esquentando ele, porque não tinha lençol nem nada”, disse. 

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A ida da Cruz Cabugá até a Maternidade da Encruzilhada, o Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros Maternidade da Encruzilhada (Cisam), levou 8 minutos. Do banco da frente, enquanto Weidson dirigia o carro, Raí navegava o procedimento. “Quando a gente olhou para o pequeno Enzo Gabriel, o sentimento foi de dever cumprido. Não tinha como dizer de certeza que ele estava bem ou não, mas os primeiros contatos - batimento cardíaco e respiração - indicavam que sim”.

Ao chegarem ao hospital, a mãe e o bebê foram atendidos. Enzo Gabriel, terceiro filho de Gisela, nasceu com 1,8 kg, saudável, mas, por ser prematuro, precisou ser levado à UTI.

A avó da criança chegou logo depois, seguida pelo pai. "Falei com eles, e me explicaram como foi. Agradeci. Só Deus pode pagar a eles, porque a gente não pode pagar nada", falou Jacira Miriam da Silva, 51, mãe de Gisela. Ela lembra que ficou emocionada. "A gente não estava esperando ele agora". Ao ver o netinho, o seu sexto, foi tomada pela alegria. "Mais um para a família", comemorou.

A situação também tocou os agentes. Quando os médicos os informaram de que a família estava bem, Weidson se emocionou. “Foi nessa hora que eu não aguentei, chorei muito. Começaram a nos aplaudir e nos dar parabéns. Eu nunca esperaria isso”, contou. “Eu filmei algumas partes para mandar para minha mãe. Ela mandou um áudio emocionada e chorando, agradecendo a Deus pela minha vida”, disse.

A experiência foi única para os agentes, que também são pais. Nos cinco e três anos que passaram na corporação, respectivamente, Raí e Weidson não vivenciaram nada igual. “A sensação foi inexplicável. Eu nunca tinha passado por isso”, descreveu Raí, pai de duas crianças. “Já tinha assistido o parto do meu filho, mas não é nem a metade do que a gente vivenciou na hora. Poder contribuir ali, salvando uma vida que tava dependendo da gente”, comentou.

“Nunca tinha passado por algo parecido”, complementou Weidson, pai de um menin de sete anos. “Na hora eu me assustei, porque ele é muito pequeno. Fiquei com medo, mas foi muito gratificante”, relatou. “O sentimento é de estar servindo à sociedade da melhor forma. Se não fosse eu, teria qualquer outro profissional.”

No momento do parto, o que os acalmou foi a tranquilidade de Gisela. “Conseguiu passar para nós uma segurança maior. Ficamos nervosos por conta da quantidade de pessoas ao redor (na parada de ônibus). Tínhamos que controlar o público e ajudar no nascimento do bebê”, explicou Raí.

Reencontro

Nesta quinta-feira (21), os homens retornaram à unidade de saúde e reencontraram a família. “O diretor do Cisam nos permitiu entrada na UTI, onde Enzo vai permanecer na UTI por questão de preocupação. Mas não está com febre, com nada, a respiração está ok”, falou Raí.

“A mãe está em perfeito estado. Ela ficou muito agradecida, porque pensou que poderia perder o bebezinho. Como a gente está passando por uma pandemia muito complicada, e o Samu está com muitas ocorrências, ela pensou que podia não dar tempo”, lembrou.

Ajuda

Em apoio à família, a CTTU iniciou uma mobilização para arrecadar doações. “O diretor Fabiano Ferraz concedeu a base da para que seja ponto de entrega de materiais. Podem ser fraldas, roupas, o que tiver e for de coração”, acrescentou.

Segundo Weidson, a ideia foi da coordenadoria e diretoria da agência de trânsito. "Passamos o quadro, de que a família era humilde, e eles tomaram a iniciativa de fazermos a campanha". 

Interessados em ajudar podem entrar em contato com a Autarquia através do número 3355.5329 ou pode deixar as doações no prédio da companhia de trânsito, na Av. Cruz Cabugá, número 304, em Santo Amaro.

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