São mais de 120 dias de uma nova rotina. Desde março, quando os Estados brasileiros passaram a endurecer as medidas restritivas para evitar a disseminação do novo coronavírus (covid-19) e o distanciamento social foi instituído, lidar com a solidão têm sido um dos maiores desafios, principalmente para pessoas que fazem parte de grupos de risco, como os idosos. Mas uma corrente do bem tem mostrado que os dias podem ser mais fáceis quando as angústias são compartilhadas. Há pouco mais de três meses, a plataforma Meu Bom Amigo tem conectado voluntários a pessoas isoladas, idosas ou não, em mais de vinte Estados do Brasil.
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Foi assim que Rivani Gertrudes da Silva, de 78 anos, ganhou novas amigas. A idosa, que é pernambucana, mas vive em Brasília, conheceu o projeto através de uma vizinha e hoje conversa com três voluntárias, dos estados de Minas Gerais, Santa Catarina e Pernambuco. “Estou muito feliz e amo todas de paixão. Vivo sozinha em Brasília e tenho recebido palavras de apoio e de amor. Não consigo passar um dia sem ouvir a voz delas”, conta.
Sempre fui muito bem tratada. Estou muito feliz e amo todas de paixão. Vivo sozinha em Brasília e tenho recebido palavras de apoio e de amor. Não consigo passar um dia sem ouvir a voz delas. Espero que esse grupo aumente cada vez mais.”Rivani Gertrudes da Silva, 78 anos, que vive em Brasília
A ideia foi do empreendedor Igor Mallagoli, de 30 anos, que vive em São Paulo. Quando a pandemia chegou ao País, ele havia iniciado uma startup no setor de turismo, mas o isolamento social acabou afetando o negócio. “Fiquei sem ter o que fazer, bem preocupado com a situação, já que não tinha como seguir em frente naquele ramo, que foi um dos mais afetados. Foi aí que decidi que queria usar o meu tempo para ajudar outras pessoas”, conta. Igor percebeu que muitos grupos estavam se mobilizando para adquirir Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e equipamentos como respiradores, mas que pouco estava sendo pensado em prol da maioria: as pessoas que estavam em casa. “Como fica a saúde mental? Como fica a vida da pessoa que é grupo de risco? O idoso que gostava de ir na feira, jogar um baralho? Foi aí que tive a ideia de unir quem queria ajudar a quem precisava do outro lado.”
Tenho três avôs e vejo de perto como muitas vezes eles não recebem a devida atenção. Isso me motivou a querer conversar com outros idosos, mesmo que minha rotina tenha ficado mais puxada com o home office. Hoje eu falo com dona Conceição. É uma experiência que está agregando pra mim e para ela. Estamos apresentando a vida uma a outra"Bruna Oliveira, 31 anos, vive em São Paulo e é voluntária do projeto
Igor contou a ideia a um amigo, que é desenvolvedor, e o site foi criado em um dia. A partir daí, começou a divulgar a iniciativa através de grupos de WhatsApp. O projeto foi um sucesso. Em um único dia, 40 cadastros foram feitos. Desde então, a causa tem sido abraçada por um número cada vez maior de pessoas. Entre voluntários e isolados, são mais de 300 pessoas cadastradas. A maioria, no entanto, é formada por voluntários. “Chegar até a pessoa isolada, principalmente quando é idosa, é o maior desafio. Pelos dados que levantei, ao menos 5 milhões de pessoas na terceira idade utilizam smartphones e dessas 98% têm WhatsApp. A dificuldade é chegar até eles, porque não são pessoas que ficam navegando na internet e nas redes para encontrar o Meu Bom Amigo.”
Tenho depressão e ansiedade há alguns anos. Estava desempregada e na correria da faculdade e uma amiga me indicou a plataforma para que eu pudesse conversar com outras pessoas. Hoje falo com o Rodrigo e a Ana, que mandam mensagens sempre para saber como estou. Quando uma pessoa não está bem psicologicamente, esse contato se torna muito importante.Tatiane Teixeira tem 23 anos e é uma das isoladas atendidas pelo projeto
Assim, o grupo aposta na conscientização. “Se você tem alguém perto de você que precisa de apoio neste período, estimulamos que fale sobre a plataforma e que a pessoa possa fazer o seu cadastro.” Não é necessário ser idoso para receber ajuda. Hoje o Meu Bom Amigo tem isolados de diferentes faixas etárias. “Começamos a receber outro perfil de isolado, pessoas mais jovens, com demandas mais clínicas”, conta Igor. Nesses casos, os isolados são atendidos por uma equipe formada por profissionais e estudantes da área de psicologia, que podem fornecer orientações.
Estou há três meses sem ver ninguém. Converso com meus familiares pelo celular, mas sem visitas, porque sou do grupo de risco. Meu filho me colocou no grupo e eu estou gostando muito. A gente bate papo e troca ideia sobre várias coisas pelo telefone."Conceição Sedano tem 81 anos, mora em Santos e é uma das pessoas isoladas do projeto
O contato é via WhatsApp, mediado por um facilitador do projeto. A ideia é que voluntários e isolados possam trocar experiências sobre o dia a dia, além de compartilhar os sentimentos deste período de quarentena. O professor Pablo Silva, 30, entrou para o Meu Bom Amigo como voluntário e acabou se tornando um dos facilitadores. “Me encantei pelo trabalho de fazer o match entre quem quer ajudar e quem precisa de ajuda. Quando recebi a primeira mensagem de uma idosa falando sobre como estava se sentindo sozinha antes do contato, entendi a importância que o projeto tem. A gente consegue fazer com que essas pessoas se sintam pertencentes à sociedade. Mesmo à distância, a gente consegue transmitir amor.”
Moro sozinho e fiquei três meses sem ver os meus pais. Tenho bastante gente próxima para manter contato, mesmo que por telefone, e penso em quem não tem esse mesmo acesso. Aqui em São Paulo mesmo, muita gente vem para morar e acaba ficando longe da família, aí a preocupação e a ansiedade aumentam neste período de isolamento."Rodrigo Arraes, de 33 anos, é voluntário do Meu Bom Amigo
Se você é ou conhece alguma pessoa isolada e deseja se inscrever ou conhecer mais sobre a iniciativa, basta acessar o site www.meubomamigo.com.br ou as redes sociais do projeto (@omeubomamigo, no Instagram, e facebook.com/oMeuBomAmigo, no Facebook).
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Sempre fui muito bem tratada. Estou muito feliz e amo todas de paixão. Vivo sozinha em Brasília e tenho recebido palavras de apoio e de amor. Não consigo passar um dia sem ouvir a voz delas. Espero que esse grupo aumente cada vez mais
Rivani Gertrudes da Silva, 78 anos, que vive em BrasíliaCitação
Tenho três avôs e vejo de perto como muitas vezes eles não recebem a devida atenção. Isso me motivou a querer conversar com outros idosos, mesmo que minha rotina tenha ficado mais puxada com o home office. Hoje eu falo com
Bruna Oliveira, 31 anos, vive em São Paulo e é voluntária do projetoCitação
Tenho depressão e ansiedade há alguns anos. Estava desempregada e na correria da faculdade e uma amiga me indicou a plataforma para que eu pudesse conversar com outras pessoas. Hoje falo com o Rodrigo e a Ana, que mandam mensagens sempre par
Tatiane Teixeira tem 23 anos e é uma das isoladas atendidas pelo projetoCitação
Estou há três meses sem ver ninguém. Converso com meus familiares pelo celular, mas sem visitas, porque sou do grupo de risco. Meu filho me colocou no grupo e eu estou gostando muito. A gente bate papo e troca ideia sobre várias
Conceição Sedano tem 81 anos, mora em Santos e é uma das pessoas isoladas do projetoCitação
Moro sozinho e fiquei três meses sem ver os meus pais. Tenho bastante gente próxima para manter contato, mesmo que por telefone, e penso em quem não tem esse mesmo acesso. Aqui em São Paulo mesmo, muita gente vem para morar e ac
Rodrigo Arraes, de 33 anos, é voluntário do Meu Bom Amigo
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