Eficaz na prevenção ao novo coronavírus, o álcool é uma substância a qual muitas pessoas recorrem para não serem infectadas pela covid-19. No entanto, a sua utilização de forma errada pode ser um vilão e ocasionar graves queimaduras, que atingem, em grande parte, crianças. Dados da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), por exemplo, apontam que 40% das ocorrências por queimaduras em todo o país são crianças, causadas por choques em tomadas e incidentes com líquidos, como o álcool.
>>Médico alerta para os riscos do uso doméstico do álcool a 70% para combater o novo coronavírus
Sabendo disso, o Departamento Científico de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) publicou uma nota nesta segunda-feira (20) em alerta aos acidentes gerados neste período pandêmico. No texto, pediatras chamam a atenção para o expressivo aumento na incidência de queimaduras desde o início do isolamento social. De acordo com os médicos, a maioria destes acidentes estão relacionados ao uso do álcool. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), este acidente cresceu 25% após início da pandemia.
Dados do Ministério da Saúde também indicam que os acidentes não intencionais são a principal causa de morte entre um e 14 anos de idade. Em 2017, o número de óbitos deste grupo foi 3.661, sendo 5,9% vítimas de queimaduras. Já em 2018, dos 111.555 indivíduos nesta mesma faixa etária que foram hospitalizados por conta de acidentes, 18,4% eram relacionados a queimaduras.
De acordo com a SBP, este grande número de crianças vítimas de queimaduras está diretamente associado com o fato delas serem "naturalmente mais curiosas e interessadas em explorar o ambiente". Por conta disso, e também por não terem muita noção dos riscos, elas se envolvem facilmente em acidentes.
Para o doutor Marco Antônio Chaves Gama, presidente do Departamento Científico de Segurança da SBP, a maioria dos acidentes não intencionais ocorridos neste período poderiam ser facilmente prevenidos. De acordo com ele, orientar e conscientizar a população é a melhor e mais eficaz maneira de assegurar um ambiente seguro para crianças e adolescentes.
“As lesões por queimaduras podem provocar sequelas estéticas e funcionais, além de afetar a dimensão emocional do indivíduo. O pediatra tem a missão de ajudar os pais a identificar potenciais ameaças no ambiente doméstico e esclarecer quais as medidas de prevenção e socorro à vítima devem ser adotadas”, afirmou.
Hospital da Restauração
De acordo com o médico Marcos Barreto, que é vice-presidente da SBQ e chefe da Unidade de Tratamento de Queimados (UTQ) do Hospital da Restauração (HR), localizado no bairro do Derby, área Central do Recife, o número de pessoas com queimaduras, que procuraram a instituição durante a pandemia, foi menor do que no ano passado. Isto, porque, segundo ele, as pessoas evitaram ir ao hospital, com medo de ser infectadas pelo vírus.
"As pessoas com medo, deixaram de procurar o hospital ou demoraram muito pra isso, o que fez com que muitos ferimentos fossem tratados fora do período ideal e necessitassem de internação", declarou o médico que informou, ainda, que 50 pessoas foram internadas no HR por queimadoras por álcool desde o início da pandemia. Destas, três eram crianças.
Para o médico, é preciso que as pessoas façam o manuseio do álcool de forma correta e só o façam quando necessário. "Em casa, a melhor solução é lavar as mãos com água e sabão. O uso do álcool tem que ser feito na rua, quando as pessoas tiverem contato com
Prevenção
Para prevenir resultados desastrosos, é fundamental que as crianças estejam em constante supervisão de um adulto. De acordo com Marcos Barreto, que é vice-presidente da SBQ e chefe da Unidade de Tratamento de Queimados (UTQ) do Hospital da Restauração, neste período de pandemia, em que as crianças passam muito tempo em casa, é importante estar atento a todos os cômodos da casa.
"Estamos vivenciando uma experiência nova em 2020, com as crianças passando grande período dentro de suas casas e tendo acesso a diversos meios causadores de acidentes. É importante observar todos os cômodos da casa e limitar o acesso a determinados lugares”, disse o médico.
A SBP preparou uma lista com alguns cuidados que devem ser tomados pelos pais e responsáveis para evitar que seus pequenos se envolvam em acidentes relacionados a queimaduras.
Prevenção para queimaduras térmicas
1 - Permanecer em casa e treinar com as crianças a lavagem correta de mãos com água e sabão, reservando o uso do álcool em gel para a necessidade absoluta de ter que ir na rua;
2- Evitar usar álcool para limpeza doméstica habitual. Há produtos que o substituem, como o hipoclorito de sódio, que é um desinfetante de superfície eficaz contra o coronavírus
3- Não segurar e nem manusear líquidos quentes com uma criança no colo;
4- Não deixar copos com líquidos quentes próximos de bebês;
5- Materiais quentes devem ser colocados no centro da mesa, distante da criança, observando o tamanho da toalha, para evitar que possa ser puxada pela criança;
6- Mantenha crianças longe de aquecedores, lareira, fogueira e fogos de artifício;
7- Manter o ferro de passar roupa fora do alcance e nunca deixar o ferro esfriando no chão.
Prevenção de queimaduras químicas
1- Manter produtos tóxicos fora da visão e do alcance. Devem ser trancados em local seguro e nunca transfira produtos tóxicos para embalagens atrativas, como garrafas de refrigerante (mantenha em suas embalagens originais);
2- Nunca deixar ao alcance de crianças pilhas e baterias.
Prevenção de queimaduras elétricas
1- Usar protetores de tomada em todas as tomadas que não estão sendo usadas;
2- Dentro do possível, encostar os móveis, escondendo as tomadas;
3- Evite ligar vários aparelhos eletrônicos em uma mesma tomada e evite usar benjamins ou extensões.
4- Manter fios fora do alcance das crianças;
5- Não deixe uma criança brincar com objetos metálicos que possam ser introduzidos em tomadas elétricas;
Álcool em gel
Eficaz na prevenção do vírus, o álcool em gel ou o álcool 70% podem causar grandes acidentes se utilizados de forma imprudente, por ser altamente inflamável.
O médico Marcos Barreto orienta que, sempre que possível, a higienização das mãos feita com água e sabão devem ser priorizadas, e o uso do álcool reduzido à pequenas quantidades e em casos específicos.
"O álcool na forma de gel deve ser manuseado e carregado em pequenas quantidades. O que não devemos fazer é usá-lo de forma indiscriminada em casa, pois no ambiente doméstico contamos com o acesso a água e sabão com frequência. O uso de álcool em gel é para situações emergenciais, em transporte público onde você toca nas cadeiras e nos corrimões, por exemplo. É extremamente importante também retirar a substância do alcance das crianças", disse ele, que reiterou, “quanto menos álcool dentro de casa melhor".
Já aconteceu o acidente, e agora?
Em casos de acidentes, a SBP também disponibilizou uma série de orientações sobre abordagens de primeiros socorros que devem ser tomadas.
- Na abordagem inicial, é necessário que os responsáveis mantenham a calma para diminuir o efeito da queimadura em tempo oportuno tomando os cuidados adequados;
- Em primeiro lugar, deve-se fazer o resfriamento da área lesada debaixo de água corrente fria (não é gelada) por vários minutos;
- Retirar bijuterias ou joias que possam estar pressionando a região, antes que ocorra edema;
- Medicar com analgésico para alívio da dor;
– Nunca fure as bolhas;
– Não utilize gelo nas lesões;
– Não passe nenhuma substância no local e nenhum tipo de produto caseiro como sugere a crença popular, como pó de café, clara de ovo, pasta de dente ou banha, pois além de não ajudar, podem infeccionar a lesão;
– Não toque com as mãos a área afetada.
- Em seguida cobrir a queimadura com um pano ou toalha (limpa) e dirigir-se até uma emergência.
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