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Oito em cada dez famílias permitem maior uso de telas por crianças durante pandemia

Pesquisa aponta as telas como as novas "babás" e alerta para riscos

Amanda Rainheri
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Amanda Rainheri
Publicado em 26/07/2020 às 10:13 | Atualizado em 26/07/2020 às 10:13
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Isadora e Betina têm usado mais os eletrônicos durante a pandemia - FOTO: Cortesia

Trabalho em home office, tarefas de casa e cuidados com os filhos. Equilibrar essa balança tem sido desafiador para os pais neste período de distanciamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus (covid-19). Para entreter as crianças e conseguir dar conta das atividades do dia a dia, grande parte das famílias têm permitido maior acesso aos eletrônicos, como televisão, computador tablet, celulares e videogames. De acordo com uma pesquisa realizada em 21 Estados brasileiros, as telas têm sido a saída para 8 em cada 10 lares. Especialistas, no entanto, alertam para os riscos da exposição excessiva.

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O levantamento foi realizado pela pesquisadora Daniela Teixeira, que é mestre em consumo pela Bournemouth University, na Inglaterra, e se dedica ao estudo do consumo infantil. A pesquisa foi realizada entre 25 e 30 de maio, através de um questionário, respondido por 1.657 pais e mães de crianças de até 12 anos. Os resultados mostram uma realidade que Daniela já previa. A maioria dos pais relatou aumento da exposição dos filhos às telas durante o período de distanciamento social. O eletrônico a que eles mais recorrem para entreter os pequenos é a televisão, cujo tempo de exposição aumentou em 60% dos lares. Além da televisão, mais da metade dos pais relataram o aumento do uso de celulares, um terço afirmou que o uso de tablets cresceu e quase 25% afirmaram que o uso de videogames aumentou.

Na casa da servidora pública Carolina de Souza, de 41 anos, o consumo de telas aumentou durante a pandemia. Giovanna, de 3 anos, que não utilizava eletrônicos, hoje utiliza durante cerca de uma hora e meia a televisão. “Estou conseguindo controlar, mas essa acabou virando uma opção de entretenimento.” Segundo a mãe, existem acordos com a filha, mas há uma certa resistência na hora de desligar o aparelho. “Temos sempre combinados, mas ela pede mais”, conta.

O uso de eletrônicos também aumentou para Isadora e Betina, de sete e quatro anos, respectivamente. As meninas são filhas da comerciante Juliana Alves, 41. “Hoje elas têm um acesso maior, porque utilizam pela manhã como entretenimento e à tarde para as aulas online. Mudou muito, mas sempre aviso que quando isso passar, a rotina vai mudar.”

“O isolamento em tempo integral dentro de casa fez com que as telas ficassem muito mais presentes. Elas se tornaram as novas babás eletrônicas. Se por um lado isso traz soluções para os pais distraírem as crianças, ao mesmo tempo traz outros problemas”, alerta Daniela Teixeira. A especialista afirma que existem dois grandes riscos, o primeiro em relação a saúde, que engloba uma série de fatores, como transtornos alimentares, emocionais, sedentarismo e distúrbios do sono, e um segundo risco, que diz respeito à exposição à publicidade. Esse último, muitas vezes passa despercebido pelos pais. “Ao contrário da TV, a publicidade na internet é muito mais camuflada como entretenimento. Isso faz com que a criança entenda aquele conteúdo como verdade absoluta. Fora os riscos de violação de privacidade e roubo de dados”, explica.

Para ela, preocupa ainda a questão do ciberbullying. “Muitos pais acham que porque o filho está ali do lado, está seguro. Isso não poderia ser mais distante da realidade. Temos casos recentes de ciberbullying sendo praticado por crianças e adolescentes nas redes”, aponta.

A mudança na rotina desagrada os pais, segundo a pesquisa. Mais de 74% dos pais e mães se dizem insatisfeitos com o tempo que os filhos gastam em frente a telas, mas 9 em cada 10 pais vê a situação como passageira. “A questão é que o isolamento evidenciou um problema que já existia antes da pandemia. É comum vermos bebês sendo expostos a celulares para que fiquem entretidos. Os pais precisam educar sobre as telas como educam sobre outros perigos do mundo real.”

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