Pandemia

Audiência pública discute prós e contras da volta às aulas presenciais no Estado

Evento, promovido pelo Tribunal de Contas do Estado, está sendo realizado, durante a manhã e tarde desta quinta-feira (6), com a participação de especialistas e representantes das áreas de Educação, Saúde e da sociedade civil

Ciara Carvalho
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Ciara Carvalho
Publicado em 06/08/2020 às 16:18 | Atualizado em 06/08/2020 às 17:02
Marília Auto/Divulgação
Audiência pública virtual promovida pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) para discutir a volta às aulas presenciais em Pernambuco - FOTO: Marília Auto/Divulgação

Uma audiência pública, que está sendo promovida pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), durante a manhã e tarde desta quinta-feira (6), revelou o quanto a discussão em torno da volta às aulas presenciais em Pernambuco é tema polêmico e está longe do consenso. Em um debate, que já dura mais de sete horas, especialistas e representantes das áreas de Educação, Saúde e da sociedade civil no Estado abordaram a complexidade que envolve o retorno dos alunos à sala de aula.

De um lado, o prejuízo pedagógico de manter os estudantes distantes fisicamente por quase cinco meses. Do outro, as condições das escolas, sobretudo da rede pública, para um retorno seguro de alunos e professores, diante de uma pandemia que já causou quase sete mil mortes e contaminou mais de 100 mil pessoas em Pernambuco.

O presidente do TCE, Dirceu Rodolfo, ressaltou o quanto o tema virou um dos pontos centrais e mais revelantes da discussão em torno da retomada das atividades em meio à pandemia. "É uma questão que tem provocado dúvidas, angústias e medo entre nós, em toda a sociedade. Principalmente pela vulnerabilidade que envolve os alunos de escolas públicas, porque eles são os mais expostos, os que sofrerão as maiores perdas, em função das dificuldades que enfrentam", destacou.

O impacto negativo provocado pelo distanciamento físico dos alunos foi apontado pelo secretário Estadual de Educação, Fred Amancio, como uma preocupação que não pode mais ser colocada em segundo plano. "Precisa virar uma prioridade. É claro que qualquer decisão será tomada com base nas orientações da área da Saúde, mas é preciso mostrar que, quanto mais demorada essa retomada, maior o prejuízo para os estudantes. Muitos desses alunos não voltarão mais à sala de aula", afirmou.

Fred disse que, por mais esforço que esteja sendo feito para melhorar a eficiência das aulas remotas, elas não substituem o ensino presencial. "O problema não é tanto de equipamento, mas de conexão. Acabamos de lançar um novo aplicativo, o Conecta Aí, que vai garantir acesso gratuito à internet para mais de 500 mil estudantes", afirmou. Ele mostrou todas as etapas que estão sendo discutidas para o retorno seguro dos alunos, mas não fez referência a nenhuma data de previsão de volta presencial às escolas. O decreto estadual prorrogando as aulas remotas se encerra no dia 15 deste mês.

REALIDADES DISTINTAS

Ao mostrar o comportamento das curvas epidemiológicas da pandemia no Estado, o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, afirmou que as realidades regionais são bastante distintas, o que poderá significar calendários diferentes de retomada na educação. O mesmo que já foi observado na reabertura das atividades econômicas. "Para cada situação, temos que estudar o momento mais adequado. As experiências internacionais mostram que esse retorno às aulas pode ter diferentes impactos, dependendo do planejamento e dos protocolos adotados", destacou, citando os casos do Reino Unido, Israel e Uruguai.

Para o professor Mozart Neves Ramos, atual coordenador da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), esse é o tema do momento, não só em Pernambuco, mas no mundo inteiro. Ao trazer estudos internacionais que mostram o impacto negativo que o longo período de distanciamento dos alunos provoca no aprendizado, ele diz que as desigualdades de acesso à educação ficarão ainda maiores com a pandemia. "Corremos o risco de enfrentarmos uma catástrofe geracional. O custo a médio e longo prazo poderá ser irreversível para o País. Esse tema precisa ser visto com a urgência que merece", pontuou.

AINDA NÃO É O MOMENTO

Apesar de concordar com a importância do retorno físico dos alunos à escola, a infectologista Ana Brito, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), avalia que ainda não há condições seguras para a retomada das aulas presenciais. Ela apontou uma série de problemas que precisam ser enfrentados para a adequação aos protocolos sanitários.

"Precisamos garantir em todas as escolas estações de limpeza, com água, torneira, sabão, álcool gel; a higienização dos espaços coletivos; a reformulação da força de trabalho da comunidade escolar, o monitoramento e a testagem em massa dos adultos que estão no entorno das crianças, circulando da comunidade escolar. Sem todos esses cuidados e garantias, não podemos falar em volta segura", defendeu a especialista.

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