ZONA OESTE

Professores e estudantes da UFPE questionam corte de cinco árvores da instituição durante pandemia

O problema apontado por docentes e alunos da instituição é que o corte acontece em meio à pandemia do novo coronavírus, sem ter ocorrido o debate com os membros da comunidade acadêmica

Mayra Cavalcanti
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Mayra Cavalcanti
Publicado em 07/10/2020 às 17:24 | Atualizado em 07/10/2020 às 17:31
CORTESIA
As cinco árvores que serão cortadas ficam no Centro de Biociências (CB), no Centro de Artes e Comunicação (CAC), no Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) e no Centro de Ciências Médicas - FOTO: CORTESIA

O corte de cinco árvores dentro da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que fica no bairro da Cidade Universitária, na Zona Oeste do Recife, tem causado reação de professores e estudantes, que são contrários à retirada das espécies. O processo de erradicação teve início no mês de julho, após a UFPE conseguir a autorização junto à Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano da Prefeitura do Recife (Semoc). O problema apontado por docentes e alunos da instituição é que o corte acontece em meio à pandemia do novo coronavírus, sem ter ocorrido o debate com os membros da comunidade acadêmica.

As cinco árvores estão distribuídas no Centro de Biociências (CB), sendo um Sombreiro e uma Orelha de Macaco; na área destinada ao mestrado em Patologia, onde há um Jambeiro; no Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), com uma figueira; além do Centro de Artes e Comunicação (CAC), com uma Espatódea. De acordo com o professor Gilberto Rodrigues, do Departamento de Zoologia da UFPE, o sombreiro e a figueira já foram totalmente erradicadas, enquanto a Orelha de macaco encontra-se com apenas 50% de sua estrutura. Segundo ele, entre as justificativas dadas pela instituição à Semoc para a remoção das árvores estava o comprometimento de tubulações e de calçadas e a queda de galhos.

“As árvores são como museus. Elas contam a história de centenas de pessoas. Os motivos que foram alegados demonstram que sempre há um cuidado com a infraestrutura, não com o organismo vivo. E as técnicas utilizadas são retrógradas, que são poda e erradicação. Existem técnicas como transplante e germoplasma que poderiam ser utilizadas”, explica. Nesta quarta-feira (7), o Coletivo SAF, criado em 2010 por estudantes do curso de Ciências Biológicas, chegou a convocar um ato na instituição, para evitar que uma das árvores que tinha o ordem de serviço marcada para a data fosse cortada. Porém, ao chegar ao local, encontraram o centro fechado e parte da árvore já retirada.

“Falta a gestão perceber um contexto maior, de memória, de patrimônio. A árvore na frente do CFCH tinha mais de 100 anos. Não é somente fazer o plantio de outra árvore. Nenhum filho substitui o outro”, completa o professor. Para ele, a ação poderia ter sido realizada em outro momento, com a participação e contribuição dos estudantes e docentes, para chegarem a uma melhor alternativa. “Não tem justificativa ter um departamento de Gestão e Sustentabilidade na universidade se não tem diálogo”, relata. De acordo com Rodrigues, esta não é a primeira vez que as árvores da UFPE sofrem ameaça de corte.

CORTESIA
Os professores e estudantes chegaram a se mobilizar para ir à UFPE nesta quarta impedir que uma das árvores fosse erradicada, mas parte dela já estava cortada - CORTESIA
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Os professores e estudantes chegaram a se mobilizar para ir à UFPE nesta quarta impedir que uma das árvores fosse erradicada, mas parte dela já estava cortada - CORTESIA
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Os professores e estudantes chegaram a se mobilizar para ir à UFPE nesta quarta impedir que uma das árvores fosse erradicada, mas parte dela já estava cortada - CORTESIA

Em 2018, foi levantada a possibilidade de retirar o Sistema Agroflorestal Experimental (SAFe), jardim ecopedagógico e laboratório vivo que fica no CB. "Queriam destinar o espaço para outra atividade, mas não aconteceu. A própria prefeitura não autorizou porque lá tem algumas espécies nativas. Mas o que a gente tem receio é esse momento de pandemia, em que pode acontecer algo e a gente não ficar sabendo ou, quando ficar sabendo, já ser tarde demais", acrescenta.

Sobre o caso, a assessoria de comunicação da UFPE informou, por meio de uma nota, que a erradicação das árvores se deu devido ao risco que elas apresentavam "à vida das pessoas pela iminência de tombamento, além de ameaçarem estruturas prediais, podendo vir a ocasionar graves danos à segurança de toda a comunidade universitária". A instituição declarou que uma inspeção técnica é feita periodicamente pela Superintendência de Infraestrutura da UFPE (Sinfra), por meio da Diretoria de Gestão Ambiental (DGA).

A UFPE comenta que, para a compensação ambiental, foi feito o plantio de 40 espécies da Mata Atlântica em áreas reservadas no campus. Em 2019, a instituição havia promovido o plantio de mil mudas. "Os pareceres/laudos possuem assinatura de especialistas nas áreas de Botânica, Gestão Ambiental e Engenharia Civil da UFPE e também de instituições externas, como analistas ambientais da Secretaria Executiva de Licenciamento e Controle Ambiental", diz a nota.

A instituição acrescenta que as medidas vinham sendo dialogadas, desde o ano passado, com os gestores locais, como as diretorias do CFCH e do CB. "Um novo plano paisagístico está em construção com a participação de professores e técnicos, tanto da própria SINFRA quanto de outros setores, como o Laboratório da Paisagem do Centro de Artes e Comunicação (CAC) da UFPE". O contato com a UFPE pode ser realizado através do site, telefone (81-2126.8076), e-mail ([email protected]) e redes sociais: Instagram e Facebook.

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