Casais pernambucanos consideraram bastante positiva a fala do Papa Francisco, divulgada nesta quarta-feira (21), afirmando que pessoas homossexuais devem ser protegidas por leis de união civil. Membros da comunidade LGBTQI+ reconheceram a importância da fala do Pontífice. A esperança é de que, com a declaração, a aceitação das uniões homoafetivas aumente.
Apesar de não se considerar uma pessoa muito religiosa, o médico Otávio Lino foi criado em família católica e enxerga a fé e a espiritualidade como uma maneira de cuidar da saúde mental e de ter esperança. Há quase 3 anos, ele faz parte de um casal afetivo e vê na fala do Papa Francisco “um impacto enorme para a garantia e manutenção dos meus direitos enquanto homem, preto e gay”. A motivação está na posição do Papa como “líder de uma instituição milenar, a qual sempre posicionou-se contra a união entre pessoas do mesmo sexo”.
Otávio considera que o posicionamento ocorre em um momento oportuno. “Estamos vivendo, no Brasil e no mundo, a ascensão de governos e personalidades conservadoras que pregam como bandeira a família considerada tradicional e abominam, desconsideram e discriminam qualquer outro formato de família, além de ameaçarem os meus direitos enquanto cidadão, utilizando para isso muitas vezes a religião”, afirma o médico.
Apesar de observar os avanços na fala do Pontífice, Otávio ressalta que o caminho a ser percorrido pela comunidade LGBTQI+ ainda será longo e árduo. “Sabemos que na prática esse ainda não é o posicionamento da instituição, nem tampouco de boa parte da comunidade religiosa que certamente não ficou satisfeita com a fala do líder."
Contudo, ele considera que o posicionamento é bem-vindo, especialmente para os LGBTQI+’s que se sentem como pontos fora da curva dentro de sua própria religião. “Talvez, a partir de agora essas pessoas possam se sentir mais acolhidas, ou apenas menos excluídas, dentro de sua própria crença”.
Em um relacionamento sério com Eduarda Menezes desde 2018, a cineasta Isabela Aguiar considera importante a posição do Papa Francisco em defesa da união civil entre os casais homoafetivos. “Temos aí uma forma de rompimento com um tabu, que muitas vezes, resulta na retirada de direitos da comunidade LGBTQI+”.
Ela considera que as falas do Papa se tornam relevantes por conta de sua posição na sociedade. “Acho importante que uma figura da mais alta hierarquia de uma instituição como a Igreja Católica, que historicamente condenou pessoas a partir do espectro da homossexualidade, se retire do lugar de juiz e atue de forma a abrir caminho pra equidade social”, disse.
Kauana Portugal e Scarllate Pedrosa formam um casal há um ano e três meses. A criação religiosa das duas ocorreu de maneira distinta. Enquanto Kauana não foi diretamente influenciada pela Igreja Católica, Scarllate recebeu ensinamentos do catolicismo e da Igreja Evangélica. Apesar de ambas reconhecerem a importância da fala de Francisco para a comunidade, o olhar sobre o posicionamento varia.
Para Kauana, a declaração é vista como um dever, ela considera que era tempo da instituição se posicionar dessa maneira. Já para Scarllate, que costumava frequentar os templos religiosos, existe a esperança de que, caso a fala reverbere, a Igreja possa se tornar um lugar confortável onde ela poderia viver a fé.
Para ambas, a torcida é de que o posicionamento não fique restrito à Igreja Católica, mas se espalhe por outras religiões. Kauana questiona: "Como seria se todas as igrejas defendessem o amor acima de tudo e quais seriam os efeitos disso nas nossas famílias?"
O jornalista João Cruz é casado há um ano com o médico Arthur Cruz. Ele vê com cautela a declaração do Papa Francisco. “Como o papa vem tomando posicionamentos progressistas que são mal vistos por outros cristãos, essa fala, apesar de positiva, pode ser ignorada por algumas pessoas, que muitas vezes tem outros representantes que são lgbtfóbicos”, afirmou.
Apesar disso, o avanço é visto de forma esperançosa pelo jornalista. “Fico torcendo que a fala do Papa reverbere de forma positiva nos cristãos. A gente já tem visto muito avanço no mundo, legalizaram a união em diversos países. E apesar do avanço da extrema direita em alguns deles, acho muito difícil que exista regressão nesses pontos. Isso me faz pensar que agora só podemos caminhar pra frente”.
Questionada, a Arquidiocese de Olinda e Recife não comentou o posicionamento do Papa Francisco, até a publicação desta matéria.
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