Olhar para uma rua do Recife e não encontrar fios pode ser considerado um desafio. Nos postes, emaranhados, caídos, pendurados. São diversas modalidades que, juntas, causam poluição visual e representam perigo. Mas não era para ser assim. Aprovada em 2014, a Lei Municipal 17.984 prevê que empresas públicas e privadas que operam fiação elétrica ou de telecomunicações são obrigadas a "embutir no subsolo todo o cabeamento ora existente". Além da legislação, sancionada parcialmente pelo prefeito Geraldo Julio, com veto no artigo 2º — que estipulava o prazo de dois anos para que as mudanças começassem — projetos começaram a ser desenvolvidos e executados pela gestão municipal, mas não foram concluídos.
No mesmo ano da sanção da lei, um projeto foi anunciado, prevendo o embutimento da fiação em 16 ruas do Centro do Recife, a um custo de R$ 4 milhões, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal. As vias contempladas seriam dos bairros de São José e Santo Antônio, entre elas, a Rua do Imperador, a das Calçadas e a Avenida Nossa Senhora do Carmo. O projeto, no entanto, não foi para frente, mesmo após a regulamentação da lei.
O professor do curso de engenharia elétrica-eletrotécnica da Universidade de Pernambuco (UPE), Antônio Gonçalves, explica que existem várias vantagens no embutimento da fiação. Entre elas, a diminuição do risco de choque elétrico, da poluição visual, da frequência na poda das árvores e dos transtornos quando um poste cai. "Nas ruas do Recife, há uma verdadeira confusão. Qualquer colisão em um poste falta energia em uma área enorme. Com a fiação subterrânea, eliminaria completamente isto", relata.
Para que o embutimento aconteça com segurança, é preciso envolver os cabos em um duto, para protegê-los contra chuva, sol e peso. De acordo com Antônio Gonçalves, a desvantagem do processo é o custo. "No caso do Recife, o que encarece mais é que é uma cidade baixa, o solo é formado por antigos mangues, então, tem que ser feito de uma forma que não entre água. Torna-se caro, mas não tem como voltar atrás. Esse é o caminho a seguir", comenta.
Algumas regiões da capital contam com a parte da iluminação já subterrânea, como é o caso da Avenida Agamenon Magalhães e outras grandes avenidas. "Na Agamenon, os postes são bem feitos, com a iluminação toda embutida. Mas na pista local da avenida já é horrível. Além dos fios esticados, tem os que sobram e ficam amontoados. Toda aquela visão é horrível e perigosa", declara o professor, acrescentando que, com a fiação subterrânea, há uma redução de quase 100% nos riscos de choque elétrico. "Só o pessoal da manutenção tem acesso. É um sistema seguro e ainda evita roubo. Atualmente muita gente rouba os fios para vender", acrescenta.
No Bairro do Recife, a paisagem é diversificada. Na Rua da Guia, por exemplo, a fiação é aérea e confusa. O mesmo acontece em frente à Torre Malakoff, onde até ninho de passarinhos existe entre os cabos pendurados. Já na calçada do Paço do Frevo e da Rua do Bom Jesus, não há fios emaranhados ou pendurados. Nos dois locais, existe o embutimento de todo tipo de fiação.
SEM PREVISÃO
A Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) da Prefeitura do Recife afirma estar em fase de conclusão o projeto executivo, elaborado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Recife, que prevê o embutimento da fiação no Centro da capital. A prefeitura, no entanto, não estabelece prazos para finalizar a proposta, menos ainda para iniciar as mudanças. Sobre o Bairro do Recife, sinaliza que o projeto deve ser ainda mais complexo. "Não apenas fará o embutimento da fiação elétrica e de telecomunicações. Ele (o projeto) representará uma verdadeira modernização do bairro", diz a nota.
Segundo a Companhia Energética de Pernambuco (Celpe), o projeto para o Bairro do Recife está sendo rediscutido. "Por uma questão de ordenamento urbano e competência institucional, projetos de fiações subterrâneas devem ser liderados pelo poder público para obter efetividade", avisa, também em nota, apontando que a substituição da fiação aérea exige mapeamento do solo da cidade porque o serviço depende da realização de escavações de calçadas e vias públicas.
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