COVID-19

Pandemia atrasa consultas e exames de rotina e de pacientes com doenças crônicas

Agravamento em alguns quadros já é sentido por especialistas

Amanda Rainheri
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Amanda Rainheri
Publicado em 07/11/2020 às 7:54 | Atualizado em 07/11/2020 às 8:47
ILUSTRATIVA/PIXABAY
As orientações foram elaboradas nesta terça-feira (16), durante reunião realizada com a participação do secretário estadual de Saúde, André Longo - FOTO: ILUSTRATIVA/PIXABAY

Gineco, oftalmo, reumato, gastro e cardiologista. A lista de pendências em consultas e exames da psicóloga Fátima Arruda, de 58 anos, é grande. Devido à pandemia do novo coronavírus (covid-19), a maior parte dos compromissos anuais ou semestrais acabou ficando para depois. Os efeitos já são sentidos. A gastrite e o refluxo pioraram, bem como as crises de artrite. Assim como ela, muitos pacientes precisaram adiar a ida aos consultórios, principalmente pessoas que fazem parte do grupo de risco para a covid-19. Para quem tem problemas crônicos, isso pode significar o agravamento de sintomas. Já para aqueles que perderam check-ups anuais, pode haver um atraso na detecção de doenças.

Em tratamento oncológico contra um quadro de leucemia linfótica crônica desde 2017, o aposentado Marcos Antônio dos Santos, de 66 anos, entrou em quarentena total desde que a pandemia chegou a Pernambuco, em março. Deixou de frequentar, inclusive, consultas médicas de outras especialidades, para acompanhar problemas de saúde como diabetes. Há seis meses, sentiu a visão escurecer. “Mas não podia sair de casa. Os médicos diziam que se ele pegasse a doença, não iria resistir. Três meses depois, acabou tendo um derrame na vista, por não ter ido ao oftalmologista”, conta a esposa Lisete Garrido, 64. Marcos foi diagnosticado com um descolamento de retina e precisou passar por cirurgia neste mês de outubro.

Lisete também deixou de ir aos consultórios. “Adiei tudo. Antes da pandemia, fiz uma cirurgia de tireoide e não consegui fazer o pós-operatório nem nada. É um prejuízo para a vida da pessoa essa questão. Estamos presos dentro de casa há meses. Os filhos não entram aqui, também não temos contato com amigos, com o pessoal da igreja, tudo isso é afeta o emocional, o psicológico também”, pontua.

Segundo a médica Rafaela Lemos, que atua nas redes pública e privada, já se tem observado uma piora nas doenças crônicas por descontrole e dificuldade de acesso às medicações. “No SUS atuo na área de dermatologia, que é completamente ambulatorial. Ficou fechado por dois meses e muitos pacientes perderam o segmento das consultas nesse período. Com a volta, a maioria tem referido certa piora, principalmente porque os aspectos mentais, que aumentaram muito durante a pandemia, influenciam em quadros dermatológicos”, explica.

A essa questão ainda se soma a dificuldade de acesso à medicação. “Foi um problema a nível Brasil. Algumas medicações ficaram indisponíveis pelo Ministério da Saúde durante a pandemia. Isso foi muito forte no setor da hanseníase, por exemplo. O governo não se posicionou e como consequência vemos o agravamento de doenças que estavam controladas inicialmente”, completa a médica.

A única consulta que a artesã Marilú Moreira, de 61 anos, fez durante a pandemia foi através da internet, após contrair a covid-19. Ela conta que havia feito exames de rotina pouco antes da pandemia começar. “Fiz mamografia, várias ecografias preventivas e exames laboratoriais. Não levei nada a nenhum médico. Tive muito medo no início. Quando resolvi voltar às consultas, descobri que muitos médicos estavam com os consultórios fechados, sem nenhuma informação para os pacientes”, afirma.

Para a médica Rafaela Lemos, o atraso nas consultas e exames de rotina não devem trazer prejuízo na prevenção, mas na detecção precoce das doenças. “Para prevenção, não muda muito, mas deixaremos de diagnosticar pacientes. Como consequência, encontraremos casos mais graves, com sintomas mais avançados lá na frente. Essa é a maior preocupação”, pontua. Ainda assim, o momento é de cautela nesta fase de retomada das atividades. “Algumas doenças precisam de acompanhamento rigoroso. Nesses casos, ele deve ser mantido, com todos os cuidados necessários, como uso de EPIs e respeito às novas normas implementadas pelas clínicas. Mas quem precisa de acompanhamento anual ou semestral pode esperar um pouco mais. Na maioria dos casos esses serviços estão dentro dos hospitais, onde existe circulação de profissionais da saúde e exposição à carga viral. É uma tomada de decisão que deve ser feita com cuidado, conversando com o médico para analisar a real necessidade”, completa.

Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que a assistência e o atendimento aos pacientes crônicos não foram suspensos. “Os serviços de saúde articularam atendimentos remotos, por exemplo, como a Teleoncologia de Pernambuco (Teleonco-PE), serviço de teleconsulta com assistência especializada e integral aos pacientes com câncer, que foi utilizada como ferramenta pelos usuários do SUS nas unidades que compõem a Rede de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon/Cacon)”, diz um trecho do comunicado. A pasta também informou que a Farmácia de Pernambuco adotou medidas para garantir que os remédios fossem distribuídos a quem precisava, como a permissão de retirada por terceiros e a entrega de insumos para o período de até dois meses. A volta da rede assistencial foi autorizada em 9 de junho, mas cada serviço ficou responsável por determinar o próprio calendário.

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