LUTO

Barruada, vendedor de cachorro-quente que virou exemplo de honestidade, morre no Recife

Joaquim Antônio ganhou espaço nos principais telejornais do País após pedir para que pessoas parassem de doar dinheiro para ele, porque já havia recebido suficiente

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Katarina Moraes

Publicado em 02/03/2021 às 9:51 | Atualizado em 02/03/2021 às 10:26
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O Recife perdeu, na madrugada desta terça-feira (2), Joaquim Antônio, ou Barruada, como era conhecido, aos 73 anos, para problemas respiratórios seguidos de uma parada cardíaca. O vendedor de cachorro-quente, que há mais de 30 anos tinha um ponto em frente ao Colégio Salesiano Recife, na Rua Dom Bosco, área central da capital, ganhou espaço nos principais telejornais do País após protagonizar um ato de, no mínimo, muita honestidade. O enterro será realizado nesta manhã no Cemitério de Santo Amaro, só para os familiares próximos. Ele deixa três filhos e quatro netos.

Com a pandemia da covid-19, o idoso foi mais uma das centenas de milhares de pessoas no Brasil que passaram meses sem trabalhar e enfrentaram dificuldades financeiras. Ele, então, usou as redes sociais para pedir ajuda aos conhecidos. Um grupo se juntou para doar dinheiro para o vendedor, e o resultado foi impressionante: Barruada gravou um vídeo pedindo para que as pessoas parassem de doar, porque já tinha conseguido o suficiente. O ato de gratidão comoveu a internet.

"Aqui é Barruada, que pediu ajuda a vocês. A gente estava olhando a conta que vocês fizeram os depósitos, e queria que vocês parassem um pouco, por favor. O que vocês me ajudaram já dá para eu vencer a batalha. Se eu precisar, eu peço de novo a vocês. Muito obrigado mesmo pela ajuda, vocês me ajudaram muito. Muito obrigado", dizia Joaquim Antônio.

A filha, Camila Maria da Silva, de 26 anos, conta que o pai sofria de asma e problemas respiratórios, e já vinha muito debilitado desde janeiro. Ele realizou dois testes para o coronavírus quando esteve internado no início do ano, que deram negativo.

"Ele foi internado em janeiro com infecção respiratória no Imip. Como estava com sintomas de covid, transferiram-o para o Alfa, em Boa Viagem. Lá, fez dois exames e deu negativo. Deram alta para ele, só que de lá para cá ele não foi mais o mesmo. Ele estava com muito cansaço, secreção, então o levamos novamente e disseram que ele estava com infecção de novo, mas ele estava tomando as medicações em casa", conta.

Nesta madrugada, no entanto, Barruada levantou-se para ir ao banheiro e reclamou que estava muito cansado. Ao perceber que o pai estava pálido, Camila o levou até o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), na Boa Vista, Centro do Recife. Ele já chegou à unidade de saúde morto, após sofrer uma parada cardíaca.

Nas redes sociais do cachorro-quente, sobram mensagens de carinho e luto. "Barruada fez parte da minha infância e adolescência, fiz todo o meu ensino fundamental e médio no Salesiano nas décadas de 70 e 80 e desenvolvi uma grande amizade por ele. [...] É com grande pesar que recebo essa notícia e estendo os meus sentimentos a família do querido Barruada, e peço que Deus o receba na sua morada", diz um seguidor.

"Que triste notícia. Sr Barruada, o melhor cachorro quente que já comi, que Deus conforte toda a família e te receba de braços abertos. Obrigada por tudo e por tanto", agradece uma conhecida. Outro ex-cliente afirma: "que tristeza, meus sentimentos a todos da família, homem íntegro, honesto e trabalhador. Conheci Barruada na década de 1978 no colégio Salesiano. Descanse em paz, amigo".

Assim como para amigos, clientes e para todo o Brasil, o legado do vendedor é, para a família, o da bondade; feita não para os olhos dos outros, mas que exala de forma genuína. "Ele era uma pessoa muito honesta, maravilhosa, ele fez tudo pela família. Ele representou muito bem pela honestidade dele, pela pessoa sincera que ele sempre foi, e ele foi um guerreiro", diz Camila, que seguirá no comando do cachorro-quente do Barruada.

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