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Corpo de veterinária que morreu com suspeita de Síndrome de Haff será velado e cremado nesta quinta-feira

Priscyla Andrade passou 12 dias internada na UTI de um hospital particular do Recife, mas não resistiu e faleceu na terça-feira (2)

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JC

Publicado em 04/03/2021 às 9:23 | Atualizado em 04/03/2021 às 9:42
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O corpo da veterinária Priscyla Andrade, de 31 anos, que morreu nessa terça-feira (2) após supostamente ter contraído a a Síndrome de Haff, também conhecida como "doença da urina preta", será velado nesta quinta (4), a partir das 16h, no cemitério Morada da Paz, em Paulista, na Região Metropolitana do Recife (RMR). A cremação do corpo da veterinária irá ocorrer às 21h, no mesmo local.

O último adeus a Priscyla também contará com um momento religioso, que será realizado às 19h, entre o velório e a cremação. A morte da veterinária se deu após ela passar 12 dias internada na unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital particular do Recife.

A veterinária e a irmã, a empresária Flávia Andrade, de 36 anos, foram internadas após comerem um peixe da espécie arabaiana, que supostamente estaria contaminado. Enquanto Flávia recebeu alta hospitalar no último dia 24 de fevereiro, a veterinária permaneceu na unidade de saúde.

Em entrevista à TV Jornal, Flávia falou sobre os primeiros sintomas da doença após a ingestão do peixe comprado no bairro do Pina, na Zona Sul do Recife. "Teve um primeiro consumo na minha casa, do peixe, e eu tive muita dor abdominal, dor torácica, dor no estômago. Já no segundo consumo, meu filho também comeu, e minha irmã. Meu filho consumiu uma quantidade muito pequena, graças a Deus", afirmou.

Segundo a empresária, a irmã foi quem apresentou mais sintomas. "Como ela estava paralisada, fizeram vários exames nela na hora e ela já foi pra UTI naquele mesmo instante", conta. Ainda de acordo com ela, foi no momento em que precisou socorrer a irmã que sentiu os sintomas aparecerem com mais força e chegou a pensar que fosse uma crise de estresse. "No ato do socorro da minha irmã, após quatro horas, mais ou menos, da ingestão do peixe, eu fiquei travada da nuca para o quadril. Eu conseguia mexer apenas pernas e braços, pensei que era estresse, ou dor muscular, fui atendida por um ortopedista e ela ficou sendo socorrida", conta.

Apenas no dia seguinte, após realizar exame, foi constatada a presença da toxina em seu organismo. "No outro dia, quando eu fui conversar com o médico foi que ele explicou o consumo da arabaiana. Ele passou o meu exame na mesma hora e foi constatado que eu estava com a mesma toxina", diz.

Quanto à coloração da urina, Flávia revelou que apenas a de sua irmã teve alterações. A dela, no entanto, permaneceu normal. "A urina dela [da irmã] ficou preta na mesma hora no hospital, já a minha não", completou.

Homenagens

Familiares e amigos utilizaram as redes sociais para prestar homenagens à veterinária. Betânia Andrade, mãe da veterinária, foi uma das pessoas que usou sua conta no Instagram para se despedir da filha. "O céu hoje estará te recebendo com muita luz na casa do Pai", começou a empresária. "Aqui, jamais esqueceremos da sua humildade, caráter, da sua eficiência como profissional. Seu sorriso vai ficar na minha memória eternamente. Te amamos", declarou.

>> Saiba tudo sobre a síndrome de Haff, a "doença da urina preta" transmitida por toxina do peixe


A estudante de medicina Alyne Andrade, irmã de Priscyla, também escreveu uma homenagem. No texto, Alyne ressaltou as características as quais admirava na irmã.

"A vida é um sopro, e você aproveitou cada minuto com sabedoria, ajudou muita gente e continuará ajudando do seu jeitinho ao lado de papai do céu (...) Fizeste tua missão aqui na terra, fizeste história, e você sabe disso, tanto é que és muito querida por todos, és uma batalhadora e guerreira, uma profissional competente, estudiosa e dedicada", escreveu. 

"Que os anjos te recebam com muito amor, e sei que você será meu anjinho da guarda e estará a todo momento ao meu lado me guiando e ajudando no que for necessário. Eu te amo muito, te amarei em todas as vidas", completou.

>> Pernambuco registrou 15 casos da síndrome de Haff, doença da urina preta, nos últimos cinco anos

 

 
 
 
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O que é a Síndrome de Haff

A síndrome acontece de forma repentina e é caracterizada pela ruptura das células musculares, o que leva ao aparecimento de alguns sinais e sintomas como:

  • Dor e rigidez muscular
  • Dormência
  • Falta de ar
  • Urina preta, semelhante a café

A enfermidade é causada, segundo os médicos, pela contaminação com uma toxina que se desenvolve em peixes que não são bem armazenados em temperaturas adequadas. A substância não altera o sabor e nem a aparência do alimento.

“O que chama atenção? O peixe não foi armazenado de forma adequada nem tratado de forma adequada. Aí ele vai produzir uma toxina. Você come o peixe, não nota que tem essa toxina, o gosto não tem alteração, mas, poucos dias depois, você começa a ter a dor muscular intensa e a urina ficando preta, devendo procurar de imediato uma unidade hospitalar, quando isso acontecer”, analisou o médico infectologista Filipe Prohaska, em entrevista à TV Jornal.

O especialista explica que, para evitar este tipo de contaminação, é necessário estar atento ao local onde se compra o peixe. “Muito cuidado em checar como aquele peixe chegou ali e como ele está sendo armazenado no momento da venda. O mais importante é comprar em lugares onde você tenha garantia da segurança”, explicou Filipe Prohaska.

O médico detalhou que o ideal é que o peixe seja transportado e armazenado em temperaturas entre -2º e 8ºC, e que, caso o produto seja adquirido na feira, é necessário identificar se o peixe está sendo mantido no gelo (para preservar a temperatura ideal).

Apesar das duas irmãs terem comido o peixe do tipo Arabaiana, outras espécies já estão relacionadas com casos descritos de Síndrome de Haff. É o caso do Tambaqui. Na Bahia, a doença já foi relacionada com o consumo do Badejo (Mycteroperca) e, no Amazonas, com o consumo do Pacu Manteiga (Mylossoma).

Após a notificação dos possíveis casos no Recife, a SES-PE orientou sobre a investigação epidemiológica de todos aqueles que consumiram o alimento, assim como a coleta do referido insumo para encaminhamento ao Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco (Lacen-PE) para que sejam providenciadas as análises laboratoriais.

Em Pernambuco, entre 2017 e 2021, foram registrados 15 casos de Haff, sendo 10 confirmados por critério clínico epidemiológico (4 em 2017 e 6 em 2020) e 5 (de 2021) ainda em investigação. A Secretaria de Saúde salienta que, por meio da Rede de Centros de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Rede Cievs), acompanha e mantém toda rede de serviços de atenção e vigilância do Estado alerta para a notificação de casos suspeitos da doença.

 

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