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'Passei uns dez minutos nadando com ele', relata surfista que participou de resgate de banhistas na praia de Boa Viagem

Cinco jovens se afogaram na manhã desta segunda-feira (7)

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Rute Arruda

Publicado em 07/06/2021 às 18:31 | Atualizado em 07/06/2021 às 22:46
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atualizada às 19h08

O surfista Luizito Almeida, 50 anos, participou do resgate de cinco banhistas que se afogaram na Praia de Boa Viagem, Zona Sul do Recife, na manhã desta segunda-feira (7). O caso ocorreu na altura do Posto 6, próximo ao Edifício Acaiaca. Morador de um prédio próximo, Luizito, que também trabalha com turismo, relatou que tinha chegado em casa momentos antes dos afogamentos. Ele estava próximo da varanda quando percebeu o momento em que os cinco se afastaram da parte mais rasa. 

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"Eu vi aquele grupo de adolescentes se afastando muito da areia. Então, eles foram entrando, e estava com mudança de maré, o que torna o mar muito mais forte tanto para dentro quanto para fora. Estava ventando, chovendo. Vi que os bombeiros imediatamente correram para ajudar. Só que eram cinco se afogando para apenas dois bombeiros. Na hora, eu pensei: 'vai ser difícil para eles conseguirem tirar os cinco'. Porque como eles [os adolescentes] começaram a ficar assustados, eles começaram a se espalhar muito", relatou. 

Luizito contou que, desde o início da pandemia tem passado a maior parte do tempo em Serrambi, no município de Ipojuca, Litoral Sul de Pernambuco, mas foi até o apartamento onde mora para acompanhar o andamento de uma obra. Quando percebeu a movimentação dos bombeiros na praia, imediatamente pegou a prancha e foi até o mar para ajudar o resgate. Os dois guarda-vidas já estavam com quatro adolescentes. No entanto, o quinto estava distante dos outros.

"Ele se afastou muito. Daí eu perguntei (aos bombeiros) se tinha ficado alguém. O bombeiro disse que tinha ficado um. Quando eu olhei, comecei a procurar o rapaz, vi que ele estava muito longe. Mas como eu estava com prancha, eu fui remando", contou. 

Ele disse, ainda, que o jovem parecia estar em estado de choque. "Ele não se mexia. Ele foi muito guerreiro porque ele estava boiando só com a cabeça para o lado de fora, como se estivesse olhando para o céu. Mas como ele estava muito assustado ele meio que já estava se entregando, porque ele estava paralisado. Foi quando eu entreguei a prancha para ele", relembrou. Segundo o surfista, o adolescente estava distante cerca de 400 metros da faixa de areia. 

"Eu passei uns dez minutos nadando com ele, empurrando de volta para a areia. Tudo durou aproximadamente meia hora. Desde o momento em que eu percebi a movimentação até retirá-lo da água. Quando eu vi que os bombeiros estavam com dificuldades, não por falta de capacidade, pelo contrário, eles foram heróis, eu fui. Dois tiraram quatro. Mas, humanamente, ia ficar muito difícil sair com quatro pessoas, em um esforço grande, depois ir buscar um que estava muito longe", disse.

Apesar do ato heroico do surfista, o Corpo de Bombeiros não aconselha que pessoas sem o devido treinamento realize a retirada por causa dos riscos de um novo afogamento.

"É fato que o treinamento instrua que as guarnições dos bombeiros tenham capacidade para atuar nesses casos com nossos flutuadores, com nossas técnicas aplicadas e, na hora, a presença de uma prancha ajuda bastante sob essa orientação. Mas é desaconselhável que uma pessoa sem essas técnicas de treinamento se encoraja a fazer salvamentos. É muito complexo a gente orientar como se faz um salvamento através de uma fala tão rápida, mas a prancha ajuda bastante. E tudo isso contribuiu para que as cinco vítimas fossem retiradas de dentro do mar", disse o sargento Júlio. 

Dos cinco jovens segundo o Corpo de Bombeiros, apenas um, de 14 anos, precisou ser levado para o Hospital da Restauração por apresentar, possivelmente, grau 3 de afogamento, quando há aspiração moderada de água.

As outras vítimas, duas do sexo masculino, de 16 e 22 anos, e duas do sexo feminino, de 15 e 19 anos, não necessitaram de atendimento pré-hospitalar.

O sargento Júlio explicou que o local onde ocorreu os afogamentos tem condições de banho de mar desfavoráveis. O militar deu dicas sobre como evitar situações semelhantes:

"A primeira orientação é sempre que chegar na praia procurar a informação do guarda-vidas, ele vai ter maiores condições de indicar melhor local de banho. Na ausência, nas praias onde eles não estiverem presentes, é importante a gente reconhecer quando termina arrecifes, pois sempre é uma área de correnteza, de retorno. Historicamente esses locais, muitas vezes, elas já são presentes em toda faixa de areia. Então você tem um arrecife, quando acabar você tem uma vala. Existem valas, correntes de retorno, que não puxam para dentro. Elas também fazem uma força puxando paralela à linha de areia, enganando assim o banhista. Então, é bastante traiçoeiro. Além dos guarda-vidas, as bandeiras que ajudam a identificar esse local da maior probabilidade de acidentes são importantes", reforçou. 

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