PANDEMIA

Em meio à pandemia da covid-19, semáforos do Recife viram palco para frevo e ganha pão

Sem trabalho fixo por causa do coronavírus, músico Danilo Ricardo está todos os dias em cruzamentos do Recife para tocar saxofone e conseguir dinheiro para sobreviver

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Margarida Azevedo

Publicado em 09/06/2021 às 18:28 | Atualizado em 09/06/2021 às 19:56
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Em pleno mês junino, às vésperas do dia de Santo Antônio (próximo domingo, 13), não estranhe se ao parar num semáforo de Recife você ouvir um frevo em vez de forró. É tocando o Hino de Elefante, Cabelo de Fogo ou Vassourinhas, canções tão executadas durante o Carnaval, que o músico Danilo Ricardo Souza, 29 anos, tem conseguido sobreviver em plena pandemia de covid-19. Desde fevereiro, ele está todos os dias com seu saxofone em algum cruzamento da capital pernambucana para levar um pouco de alegria para motoristas e pedestres. Em troca, quem pode ajuda com algum dinheiro e assim Danilo garante alimento para ele e a esposa.

"Sou apaixonado por frevo. Quase todo pernambucano, mesmo que não brinque Carnaval, gosta do ritmo ou conhece algum frevo. Além de ser a cara de Pernambuco. Tocava em bares, restaurantes, eventos. Com a pandemia ninguém mais está contratando. O jeito foi vir para a rua. Por necessidade, toco nos sinais e as pessoas ajudam com algum trocado", diz Danilo. Ele começa por volta das 10h. Tem uma meta diária: arrecadar 150 reais. "Só volto para casa quando consigo esse valor", explica o músico, que não tem ponto fixo e reside em Paulista, no Grande Recife.

Danilo já esteve em Boa Viagem, na Zona Sul, perto da igrejinha. Na Avenida Rosa e Silva, no bairro dos Aflitos, Zona Norte. Nesta quarta-feira (09) escolheu tocar no cruzamento da Avenida João de Barros com a Rua Monte Castelo, na Boa Vista, área central do Recife. "É muito bom ver a expressão de alegria no rosto das pessoas. Muitas estão cabisbaixas dentro dos carros. Quando escutam o frevo levantam a cabeça, batem palmas, vibram com a música. Em um tempo tão difícil para tanta gente por causa da pandemia, isso me deixa feliz", afirma o rapaz.

Além do saxofone, ele toca flauta. Estudou na Escola Municipal de Arte João Pernambuco, localizada na Várzea, Zona Oeste da cidade. Também sozinho. Mas a música não foi seu primeiro ganha pão. Danilo era soldador offshore. Trabalhou em Suape, no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, até 2014. Com a crise no complexo portuário, perdeu o emprego. Ainda tentou trabalhar fora de Pernambuco. Esteve na Bahia, Paraíba, Rio Grande do Norte e Santa Catarina. "Para onde fui, levei comigo o saxofone. O instrumento era minha companhia nos alojamentos. À noite, depois do serviço, estudava sozinho", conta Danilo.

A música passou a ser sua fonte de renda em 2016. Tocou em orquestras como a da Pitombeira. "A covid-19 me fez perder um contrato de R$ 6 mil", diz Danilo, que lamenta a desvalorização da classe artística. "Não queremos auxílio emergencial. Nosso desejo é voltar a tocar, a trabalhar. Desejamos que os bares e restaurantes possam abrir todos os dias, haja shows e eventos", comenta Danilo. Enquanto isso não acontece, é nos semáforos do Recife que ele nos faz lembrar o refrão de outra música. "A nossa vida é um carnaval, a gente brinca escondendo a dor".

Quem quiser ajudar pode transferir qualquer valor para o pix da esposa dele, Fernanda Rodrigues. O número é 11 05 13 07 465 (CPF).

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