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Intervenção artística faz homenagem à Roberta, mulher trans que morreu após ter sido queimada no Recife

Roberta teve 40% do seu corpo queimado enquanto dormia no Cais de Santa Rita, no Centro do Recife. Após passar 16 dias internada no Hospital da Restauração, ela não resistiu ao atentado e morreu

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Bruna Oliveira

Publicado em 29/07/2021 às 19:38 | Atualizado em 29/07/2021 às 20:10
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Como forma de conscientizar a população que circula pela área central do Recife contra o extermínio de mulheres trans, a Escola Livre de Redução de Danos, em parceria com outras organizações e movimentos que lutam por pessoas em situação de vulnerabilidade, realiza, nesta quinta-feira (29), uma intervenção de arte urbana no Cais de Santa Rita. O local é próximo de onde a mulher trans Roberta Nascimento da Silva, de 33 anos, teve 40% do seu corpo queimado por um adolescente enquanto dormia no mês passado. Ela não resistiu à investida e morreu após passar 16 dias internada no Hospital da Restauração, no Derby, no dia 9 de julho. Além de Roberta, pelo menos outras três mulheres trans foram assassinadas em junho em Pernambuco.

"A ação irá contemplar duas questões: a primeira é o mês da campanha global 'Acolha, Não Puna', além de abordar a exclusão da população de rua e pedir por políticas públicas que venham garantir a segurança da mulher. É um ato que luta contra contra a transfobia", declarou a co-fundadora da Escola Livre de Redução de Danos, Ingrid Farias.

BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
Ingrid Farias é co-fundadora da Escola Livre de Redução de Danos - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

Acolha, Não Puna é uma iniciativa global que tem como objetivo dar apoio à redução de danos e políticas de drogas que priorizam a saúde pública e os direitos humanos. A campanha busca, anualmente, colocar a redução de danos na agenda política, além de fortalecer a capacidade de mobilização das comunidades afetadas e seus aliados, viabilizando o diálogo com os formuladores de políticas e aumentando a conscientização das pessoas.

Com início às 16h15, a intervenção conta com a presença de artistas grafiteiros, que, juntos, irão pintar um painel com mensagens contra a transfobia, pela conscientização ao direito à vida e dignidade das pessoas trans. A ação também irá homenagear a memória de Roberta, que antes de morrer passou por uma cirurgia para a amputação do braço esquerdo, a nível do ombro, no dia 26 de junho. Já no dia 30 do mesmo mês, ela precisou amputar o braço direito. 

>> "Não vamos sucumbir ao medo", diz associação após mais uma mulher trans ser morta em Pernambuco

Para Ingrid Farias, é importante que a intervenção seja feita no Cais de Santa Rita, já que, segundo ela, o local é um terminal de ônibus que conta com grande movimentação de pessoas, mas não oferece nenhuma segurança. "Estamos aqui para lembrar a memória de Roberta, uma mulher que ocupava esse espaço, e para lembrar também que o Cais de Santa Rita precisa ser um lugar seguro para toda a população. Cada vez mais ele é um ponto de violência para mulheres", declarou.

A  intervenção de redução de danos, realizada nesta quinta-feira, também fez distribuição de água, alimentação, preservativos e outros itens e insumos. 

BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
Intervenção teve início na fim da tarde e seguiu até a noite - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
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Intervenção teve início na fim da tarde e seguiu até a noite - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
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Ingrid Farias é co-fundadora da Escola Livre de Redução de Danos - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
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Intervenção teve início na fim da tarde e seguiu até a noite - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
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Intervenção teve início na fim da tarde e seguiu até a noite - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
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Intervenção teve início na fim da tarde e seguiu até a noite - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
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Intervenção teve início na fim da tarde e seguiu até a noite - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

Mulheres trans mortas em Pernambuco

Um dossiê dos assassinatos e da violência contra travestis e transexuais brasileiras em 2020 produzido pela Articulação Nacional de Travestis e Transexuais aponta que, no ano passado, Pernambuco, ao lado do Rio Grande do Norte, ocupou o 7º lugar do ranking dos estados que mais matam pessoas trans, com sete assassinatos.

Neste ano, o cenário também não tem sido dos melhores. Além de Roberta, outras três mulheres foram mortas entre junho e julho em Pernambuco. Em 18 de junho, Kalyndra Selva Guedes Nogueira da Hora, de 26 anos, foi encontrada morta, dentro de casa, no Ipsep, na Zona Sul do Recife. De acordo com a Polícia Militar, o companheiro dela é o principal suspeito de cometer o crime.

No dia 5 de julho, a cabeleireira transexual Crismilly Pérola Bombom, de 37 anos, mais conhecida como 'Piu Piu' na região onde morava, foi encontrada morta no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife. O caso, foi encarado pela polícia como um caso de transfobia. Segundo o órgão, ela foi morta por um adolescente após os dois estarem presentes em um mesmo local, no qual o suspeito havia solicitado que a vítima se retirasse. Como Piu Piu se negou, ela foi morta por ele de forma bárbara.

Já em 7 de julho, a vítima da vez foi Fabiana da Silva Lucas. A mulher trans, que era natural da Paraíba, foi morta em Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste de Pernambuco. Ela foi surpreendida pelo suspeito, que deferiu diversos golpes de faca na vítima.

Como denunciar LGBTfobia

A sociedade em geral e a população LGBTI podem denunciar qualquer ato violador dos seus Direitos pelo CECH, através dos números (81) 3182-7665/ 3182-7607, do e-mail [email protected], ou presencialmente na sede do órgão localizado na Rua Santo Elias, 535, bairro do Espinheiro. O governo do estado garante sigilo das informações. Já a Prefeitura do Recife disponibiliza plataforma online de denúncias contra LGBTfobia através do link https://bit.ly/DenunciaLGBTRecife. Vítimas também podem procurar o Centro de Referência em Cidadania LGBT do Recife. O equipamento fica na Rua dos Médicis, nº 86, Boa Vista, e funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h. 

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