Intolerância

Grupos religiosos denunciam pastor que associou painel afro no Recife a "referências satânicas"

Um inquérito policial foi instaurado pela 24ª Circunscrição do Varadouro e está sob a responsabilidade do delegado Vinícius de Oliveira

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JC

Publicado em 24/08/2021 às 19:44 | Atualizado em 24/08/2021 às 22:07
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A Rede de Articulação da Caminhada dos Terreiros, em conjunto com outros representantes de religiões de matrizes africanas, registraram uma queixa contra um pastor da igreja evangélica Ministério Dúnamis, em Cruz de Rebouças, que afirma em um vídeo divulgado nas redes sociais, que os painéis grafitados no Túnel da Abolição, na Madalena, Zona Oeste do Recife, são na verdade "ponto de contato com forças místicas, intrinsecamente ligadas à feitiçaria". 

Um inquérito policial foi instaurado pela 24ª Circunscrição do Varadouro e está sob a responsabilidade do delegado Vinícius de Oliveira. "A investigação segue dentro do prazo e em sigilo para não atrapalhar o seu bom andamento. Demais informações poderão ser repassadas após a completa elucidação", informou a Polícia Civil, por nota.

"No momento, enquanto Caminhada dos Terreiros, nós estamos esperando um retorno da Secretária de Defesa Social (SDS), e também encaminhamos um pedido para que o Caop ( Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça de Defesa da Cidadania) do Ministério Público de Pernambuco averiguasse o caso. Agora é aguardar. O mundo precisa entender que existem mais de três mil religiões e tenho respeito a qualquer credo. A humanidade precisa ter mais amor e respeito", afirmou a coordenadora da Articulação da Caminhada dos Terreiros, Mãe Elza.

Ela também ressalta que os ataques disparados pelo pastor Aijalon Berto devem ser tipificados como crime de racismo e de intolerância religiosa. "Na verdade, sempre quando denunciamos esses casos, eles acabam sendo convertidos para injúria racial e não há penalização. Nós sabemos que não vamos exterminar o preconceito, infelizmente é um mal que assola a sociedade, mas essas falas precisam ser penalizadas", disse Mãe Elza.

Nesta terça-feira (24), segundo uma das integrantes da coordenação executiva colegiada da Rede de Mulheres de Terreiro, Vera Baroni, o MPPE realizou uma audiência de instrução com os representantes das religiões de matrizes africanas e indígenas, em que foi prometida a realização de uma audiência pública formal e presencial para tratar do caso. "Nós pedimos providências do MPPE, que é o guardião do estado democrático de direito, através de uma representação formal. Ele nos notificou para que nós nos reuníssemos para argumentar sobre a nossa denúncia contra o pastor,  contra o racismo religioso e a propagação do ódio', afirmou Vera.

O  MPPE informou, através de nota, que "a 7ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital, com atuação na Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, instaurou, no dia 5 de agosto, o Inquérito Civil nº 02007.000.239/2021 para fins de apuração dos fatos e circunstâncias e, conforme o caso, adoção das demais medidas legais cabíveis, em virtude da possível violação do Direito Humano à Liberdade Religiosa das diversas Comunidades de Terreiro, perpetrada pelo Pastor Aijalon Heleno Berto Florêncio, em suas redes sociais, em 24 de julho deste ano".

Após o anúncio da Rede de Articulação da Caminha dos Terreiros, sobre a queixa prestada na SDS, o pastor Aijalon Berto afirmou em suas redes sociais, que "o Estado não pode ser usado para cercear tiranicamente uma religião que diverge da minha - como querem fazer os feiticeiros Pernambucanos”. Ele ainda declara que as “fundamentações religiosas não podem influir nos rumos políticos e jurídicos da nação". 

Na publicação, Aijalon Berto continua se referindo aos religiosos de matrizes africanas como "feiticeiros" e que tem usado o que chama de sua "liberdade de crença". "O que os feiticeiros querem dar a entender é que eu estaria ferindo a liberdade de crença deles, visando me classificar como um criminoso, o que não passa de uma arbitrariedade", apontou. 

"Caso o Estado e o Poder jurídico acate, estarão aparelhados com determinado seguimento religioso para coercitivamente criminalizar e perseguir outros", declarou o religioso

Com o tema "Manifesto em defesa da liberdade de crença e de respeito ao nosso sagrado", os representantes das religiões de matrizes africanas realizaram ontem  (23), um ato no Túnel da Abolição, no bairro da Madalena, onde estão localizados os painéis com os símbolos das entidades afrobrasileiras. Eles são frutos do projeto Colorindo o Recife, uma iniciativa da Secretaria de Inovação Urbana do Recife. 

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