DESCASO

Vídeo: Pacientes denunciam superlotação no Hospital Otávio de Freitas, no Recife

Nas imagens que circulam nas redes sociais, é possível ver vários pacientes em macas nos corredores da unidade de saúde, aglomerados

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Julianna Valença

Publicado em 14/09/2021 às 14:06 | Atualizado em 23/09/2021 às 9:12
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Imagens que circulam nas redes sociais, nesta terça-feira (14), denunciam a superlotação no Hospital Estadual Otávio de Freitas, localizado no bairro de Tejipió, na Zona Oeste do Recife. No vídeo, é possível ver vários pacientes em macas nos corredores da unidade de saúde, aglomerados e sem máscara - medidas contraindicadas no protocolo de proteção contra a covid-19. “Estamos aqui jogados ao léu, misturados com tudo que é gente. A gente está jogado feito lixo, cachorro”, reclama uma mulher, que se identifica como vigilante. Devido às condições do serviço, a unidade foi alvo de audiência do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), na última terça-feira (13).

Mas o problema na falta de infraestrutura e o descaso enfrentado por quem usa o serviço da unidade - voltada para o tratamento de pacientes com tuberculose e outras doenças respiratórias - já foi relatado, ao longo dos anos, inúmeras vezes pelo Sistema Jornal do Commercio de Comunicação. Em um dos casos, de 2020, ratos foram flagrados nos corredores do hospital. 

>> Vídeos flagram ratos nos corredores do Hospital Otávio de Freitas, no Recife

Ainda na denúncia, a mulher afirma que a área está ocupada com pacientes que aguardam por cirurgia. Segundo ela, para algumas pessoas a espera já dura 15 dias. “Faz dez dias que eu não como. Porque falam ‘você se opera de tarde, você se opera de manhã…”, relatou.

Em nota, a Secretaria de Saúde (SES-PE) informou que a direção do Hospital Otávio de Freitas (HOF) reconheceu a alta demanda de pacientes na unidade. Ainda segundo a gestão, uma das causas do aumento na procura seria a demanda provocada pela pandemia da Covid-19.

De acordo com a direção, a unidade passa por reforma e requalificação de seus ambientes. "Já está em curso a requalificação da clínica médica e da enfermaria do 2º andar, que possibilitarão cerca de 100 novos leitos. O hospital, que também ganhará um novo tomógrafo, está realizando a readequação do setor de imagem", explicou.

 

O hospital reforçou que "garante o atendimento e assistência a todos os pernambucanos" admitidos no serviço e que realiza os procedimentos necessários para o "pleno restabelecimento da saúde de cada paciente". A unidade ressalta, ainda, que tem mantido as escala preenchida das equipes multiprofissionais nos plantões, inclusive fazendo remanejamento entre os setores quando necessário. Desde o início da pandemia, foram convocados mais de 1,5 mil profissionais, entre concursados e aprovados em seleções simplificadas.

Sobre as cirurgias, a unidade informou que são realizadas de acordo com o quadro de saúde do paciente, que precisa estar estável para esse tipo de procedimento. "As cirurgias eletivas, que são aquelas cirurgias não urgentes, ainda podem ter alteração na programação se surgirem casos urgentes, com risco de morte do paciente [...] hospital está abastecido de medicamentos, insumos e também recebeu, recentemente, 44 novas macas", declarou.

Por fim, a direção do HOF ratificou que tem atuado "com determinação" para prestar assistência a população e melhorar os fluxos da unidade, classifica pelo SES-PE como "importante equipamento para o SUS em Pernambuco".

MPPE

Por meio da 34ª Promotoria de Justiça de Defesa à Saúde da Capital, o MPPE realizou audiência para tratar das denúncias sobre demora nas marcações de cirurgias no Hospital Otávio de Freitas. O momento contou com a presença da direção da unidade hospitalar e de representantes da Secretaria Executiva de Assistência à Saúde da Secretaria Estadual de Saúde (SES). Segundo o Ministério Público, houve encaminhamento da elaboração de cronograma para atender os 179 pacientes que esperam por cirurgia de trânsito do fluxo intestinal. Serão realizadas quatro operações por semana.

Além disso, o órgão disse que houve acordo com a unidade hospitalar para a elaboração de um mapa das cirurgias previstas para serem realizadas, com as respectivas listas de espera, divididas por especialidade e quantidade, a ser encaminhado à Promotoria de Saúde no prazo de 20 dias.

Um inquérito também tramita na Promotoria, para apurar irregularidades estruturais e sanitárias na emergência. Devido a isso, uma inspeção no local será realizada na próxima quinta-feira (16).

Inúmeros relatos de descaso

A falta de estrutura para receber a demanda de pacientes que precisam do serviço oferecido pelo HOF são denunciadas pelo JC desde 2014, à época, macas e cadeiras de rodas já tomavam os corredores da unidade. O chão também era ocupado por pessoas que improvisavam camas com lençóis e papelão. O problema perdurou em 2015, somado às queixas de funcionários sobre a escassez de material básico para trabalho, infiltrações e presença de animais dentro da unidade.

A situação se estendeu em 2019. Pacientes denunciavam os corredores transformados em leitos, além da falta de água, sujeira e condições péssimas na cozinha. Alguns dos internados tiveram piora no quadro devido as condições a que foram submetidos.

Com a chegada da pandemia, em 2020, não houve perspectiva de melhora. O problema se tornou ainda mais grave, devido ao risco de contaminação dos pacientes com o coronavírus. O Ministério Público (MPPE) chegou a realizar uma vistoria na unidade e constatou condições insalubres: presença de moscas e gatos dentro da unidade de saúde, além de uma fossa exposta e de condições precárias na área da cozinha.

Ao JC, o presidente do Sindicato dos Hospitais de Pernambuco (SINDHOSPE) reiterou que o os relatos de descaso na vêm acontecendo há anos. "O problema é crônico, nós já havíamos detectado uma fila de espera muito grande desde antes da pandemia. Em Pernambuco existia uma lista com cerca de 35 mil pessoas para fazer cirurgias. Com a covid-19, esse tempo de espera só aumentou", afirmou.

 

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