ACIDENTE

Trabalhador que morreu em acidente na Mata Sul de Pernambuco já temia estado do transporte de empresa, diz viúva

Treminhão da Usina União caiu de ribanceira quando trabalhadores estavam voltando para casa. Oito feridos foram socorridos. Duas pessoas morreram

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Katarina Moraes

Publicado em 19/01/2022 às 16:43 | Atualizado em 21/01/2022 às 15:38
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Atualizada às 10h30 de 20 de janeiro. Com informações do repórter Waldson Balbino, da TV Jornal

No distrito de Frexeiras, em Escada, na Zona da Mata Sul de Pernambuco, o luto era palpável nesta quarta-feira (19), um dia após a morte de dois trabalhadores que moravam na região. O silêncio dominava as ruas, exceto pelo burburinho que vinha das calçadas, onde alguns vizinhos se reuniam para falar da tragédia. Isso porque nessa terça-feira (18) um treminhão, responsável por levar os funcionários da Usina União até o serviço, caiu de uma ribanceira, deixando pelo menos 16 feridos. Um acidente que, segundo a viúva de uma das vítimas fatais, já era temido por ela.

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Comoção era absoluta no distrito de Frexeiras, em Escada, na Zona da Mata Sul de Pernambuco, onde a maioria das vítimas morava - REPRODUÇÃO/TV JORNAL

O trabalhador rural Israel José do Nascimento, de 37 anos, nunca faltava o serviço, mesmo doente, conta a dona de casa Sônia Maria, que era casada com ele. Todos os dias, saía de casa às 5h - às vezes, de domingo a domingo -, e reclamava com frequência do estado do treminhão. “Ele se queixava e dizia que era um transporte perigoso, com trator e a carroça atrás. Teve uma semana que ele falou 'Sônia, Deus deu livramento hoje’”, disse ela. Chorando, completou: “infelizmente [não dessa vez]”.

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Trabalhador rural Israel José do Nascimento foi uma das vítimas fatais do acidente - REPRODUÇÃO/TV JORNAL

A qualquer um que se perguntava, a descrição sobre Israel era a mesma: “uma boa pessoa”. Para Raiane Silva, a filha, ele ia além disso: era um pai presente. “Lembro da risada que ele dava comigo, do carinho. Ele era tudo para mim. Meu pai era um cara muito bom, uma pessoa sorridente, um servidor, ótimo pai, ótimo esposo. Já está fazendo muita falta. É muito difícil, uma dor muito forte”, relatou. Além dele, outra pessoa morreu no acidente que aconteceu no Engenho Limão, por volta das 11h55, cujo nome não foi revelado.

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Raiane Silva, a filha de Israel José do Nascimento - REPRODUÇÃO/TV JORNAL

O acidente aconteceu quando os trabalhadores estavam voltando para casa. Oito vítimas, com fraturas no corpo, foram levadas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) até unidades de saúde. Cinco foram para o Hospital Dom Helder Câmara, no Cabo de Santo Agostinho, e três para o Hospital da Restauração, no Centro do Recife. Até a publicação desta reportagem, seis deles ainda estavam internados em estado estável, segundo a Usina.

Mesmo tendo sobrevivido, o aplicador de herbicida Elias Ferreira guarda o trauma de ter visto os colegas agonizarem. Ele contou ter pulado da carroça puxada por um trator ao perceber que o motorista tinha perdido o controle da direção.

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Acidente aconteceu quando os trabalhadores estavam voltando para casa - REPRODUÇÃO/TV JORNAL

“Foi rápido demais, foi questão de segundos para chegar em baixo. Correu e começou a embolar tudo na ladeira. Saiu demolindo e virando tudo. Carroça, trator, tanque. Onde ia passando, ia ficando uma vítima machucada no lugar. Quando pulei, coloquei a mão na cabeça e disse ‘meu Deus, meus amigos todos lá embaixo. Quando cheguei lá, já tinham uns pedindo socorro, outros gritando ‘pelo amor de Deus, me ajuda’. Foi um sofrimento total”, disse.

Pelas denúncias dos trabalhadores, o Ministério Público do Trabalho (MPT) em Pernambuco instalou notícia de fato para apuração do ocorrido, que foi convertida em um Procedimento Preparatório de Inquérito Civil na quarta (19). Ainda, expediu ofícios à Polícia Civil do município de Primavera demandando, no prazo de 30 dias, o encaminhamento de laudo pericial relativo ao acidente de trabalho, e à Superintendência Regional do Trabalho (SRTb/PE), a fim de que encaminhe Relatório de Análise do caso.

O velório de Israel aconteceu na casa onde ele morava, com a presença de familiares e amigos - todos chocados. O corpo será sepultado no Cemitério Municipal de Frexeiras. A despedida de Sônia, no entanto, aconteceu ainda no hospital. “Ele disse que me amava e foi a óbito. Foi muito duro”. Agora, a viúva diz esperar apenas por “justiça.”

Esclarecimento

Por nota, a Usina União e Indústria afirmou que segue "dando total apoio às famílias enlutadas assim como às vítimas sobreviventes", sem dar mais detalhes de como esse suporte está sendo feito.

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