Empresas propõem aumento de 22,67% nas passagens de ônibus do Grande Recife
O Anel A (utilizado por mais de 80% do sistema) passaria de R$ 3,75 para R$ 4,60
Como de praxe em todo início de ano, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado de Pernambuco (Urbana-PE) apresentou, nesta quarta-feira (19), sua proposta de aumento no valor das passagens de ônibus do Grande Recife. O reajuste seria de 22,67%, e, caso aprovado, faria com que o Anel A (utilizado por mais de 80% do sistema) passasse de R$ 3,75 para R$ 4,60. Já o B sairia de R$ 5,10 para R$ 6,26 e, o Anel G, de R$ 2,45 para R$ 3,01. Possíveis novos valores, no entanto, ainda serão discutidos com o Governo de Pernambuco, e precisam ser aprovados pelo Conselho Superior de Transporte Metropolitano (CSTM).
Como argumento para a alta, os empresários do transporte público justificam a "alta inflação do setor" que tem sido puxada, principalmente, pela variação do preço do combustível, um dos principais custos do serviço. "Mesmo com a isenção total do ICMS concedida pelo governo estadual, o óleo diesel aumentou 80% desde a última revisão tarifária. No mesmo período, as despesas com pessoal aumentaram 9,22%, com pneus, 52%, e o preço do veículo, 34%", disse a Urbana-PE, por nota.
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O aumento atingiria todos os anéis tarifários do Grande Recife, como o serviço opcional. A linha Setúbal Opcional passaria de R$ 4,70 para R$ 5,77, e as demais (Piedade, Candeias, Gaibu/Barra de Jangada, UR-02/Ibura, UR-11, Marcos Freire e Curados) de R$ 7,00 para 8,59. Já as linhas Recife/Porto de Galinhas (sem ar condicionado) e Recife/Porto de Galinhas (opcional) sairiam de R$ 12,50 para R$ 15,33 e de R$ 18,25 para R$ 22,39, respectivamente.
Enquanto isso, o sistema continua a ser custeado pelo passageiro pagante, segue em vigor a tendência histórica de queda na quantidade de passageiros que utilizam o sistema, agravada ainda mais pela pandemia da covid-19. Segundo a Urbana-PE, a demanda atual é 20% menor do que no período anterior à chegada do vírus.
Ainda, a Urbana-PE defendeu que sejam tomadas medidas para "manter a tarifa em um patamar compatível com a realidade socioeconômica da Região Metropolitana do Recife", e que, para isso, o setor tem pleiteado ajuda do governo federal para custear as gratuidades e desonerar o óleo diesel utilizado pelos ônibus - sem sucesso até então. "Diante desse cenário, a revisão da planilha de custos torna-se necessária e será fundamental a adoção de fontes de custeio extratarifárias para garantir a operação e permitir a melhorias do serviço de transporte público por ônibus", completou.
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O doutor em Transportes e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Oswaldo Lima Neto, opinou que, mesmo sem o auxílio do governo federal, o governo estadual poderia calcular corretamente os custos da operação e utilizar taxas de IPVA e multas arrecadadas para injetar no sistema de transporte público. "Numa pandemia, com um desemprego alto, aumentar 22% de uma tarifa é absurdo. Vai haver uma fuga maior de passageiros, e o empresário que já não cumpre a demanda necessária de ônibus vai retirá-los ainda mais de circulação, sempre sobrando para o usuário", disse.
O JC questionou o Grande Recife Consórcio de Transportes, empresa vinculada ao governo estadual que é responsável pelo gerenciamento do transporte por ônibus na Região Metropolitana de Recife, mas ainda não recebeu um retorno.
Ano novo, nada novo
Em 2021, a Urbana-PE havia defendido reajuste de 16%, o que elevaria o Anel A para R$ 4. No entanto, os empresários de ônibus optaram por defender a proposta do governo de Pernambuco, que fixou o aumento em 8%, passando de R$ 3,45 para R$ 3,75. Enquanto isso, o serviço continua precário, com ônibus lotados mesmo diante de uma crise sanitária, e sucateados.
Um estudo realizado pelo Sistema de Transporte Público de Passageiros da RMR (STPP) e divulgado em novembro de 2021 na coluna Mobilidade, do JC, apontou que o passageiro do Grande Recife quer prioritariamente fazer viagens rápidas e pagar uma passagem barata. Ele concluiu que, para cada aumento do tempo médio de viagem de 1%, a demanda cai em 0,43%. E, no caso da tarifa, cada elevação do valor na ordem de 10%, por exemplo, reduz a demanda de passageiros entre quase 4% e 6%.
Esses desejos ficaram claros nesta quarta nas redes sociais, onde a repercussão da notícia sobre a intenção de reajuste da Urbana-PE foi a pior possível. "É sempre uma lapada das grandes no bolso de quem tem que sair todo dia de casa para ir trabalhar ou ir para a faculdade", relatou Érida Maria. "Vou voltar a trabalhar de carro, total conforto e já já o preço da passagem tá igual ao da gasolina, então não tem porque estar me arriscando em ônibus velho sucateado", escreveu Heitor de Medeiros.