SAÚDE

"Não temos tempo para beber água". Alegando sobrecarga, obstetras do Hospital da Mulher do Recife (HMR) pedem demissão

O Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) formalizou o pedido na última segunda-feira (7) por meio de uma carta de intenção de desligamento

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Katarina Moraes

Publicado em 09/02/2022 às 9:47 | Atualizado em 09/02/2022 às 13:56
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"Cenário de guerra". É assim que médicos-obstetras definem o dia a dia no Hospital da Mulher do Recife (HMR), alegando condições precárias de trabalho, com falta de insumos básicos e déficit de profissionais. Por isso, 32 deles assinaram um pedido de demissão coletiva na última segunda-feira (7), enviado por meio de carta de intenção de desligamento ao Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) à Secretaria Municipal de Saúde, ao Hospital de Câncer de Pernambuco, ao Conselho Regional de Medicina (Cremepe) e à Secretaria Estadual de Saúde (SES).

"Precisamos tomar essa medida extrema para chamar atenção e para que alguém nos salve desse furacão que estamos vivendo", disse um dos médicos, que preferiu não se identificar. Segundo ele, pela falta de profissionais, pacientes chegam a esperar quatro ou cinco horas por um atendimento. "Sabemos que é absurdo, mas não conseguimos dar conta. Atualmente, a escala tem três médicos para três setores diferentes. Se há uma emergência, o setor fica descoberto. Às vezes não conseguimos tirar horário de almoço ou beber água. Toda semana um colega pede demissão por não aguentar tanto estresse", contou.


Enquanto não há uma resposta para o pedido de demissão, os profissionais continuam exercendo suas funções no HMR. O pleito da classe é que é haja, no mínimo, seis médicos por plantão, dois em cada um dos setores: triagem, pré-parto e bloco cirúrgico; mas, segundo os médicos, a Secretaria de Saúde do Recife (Sesau), responsável pelo HMR, quer disponibilizar apenas cinco. "Nós que vivemos essa sobrecarga somos quem sabemos quanto é o mínimo necessário para conseguirmos prestar assistência à população", defendeu uma médica.

O HMR, que fica no bairro do Curado, na Zona Oeste da capital pernambucana, foi a primeira unidade de saúde de grande porte construída pelo munícipio, em 2016. O Hospital é administrado pelo HCP Gestão, através de um contrato de gestão, e atende exclusivamente mulheres a partir dos 10 anos que moram no Recife, sendo referência para gestantes de alto risco.

Por nota publicada nas redes sociais, o sindicato disse que "as reivindicações já foram discutidas com a Secretaria de Saúde do Recife, mas como as propostas apresentadas não eram suficientes para sanar as graves dificuldades da unidade, não foram acatadas pelos médicos". Nesta quinta-feira (9), mais uma reunião foi realizada, mas o pleito continuou sem ser atendido, segundo a presidente do Simepe, Claudia Beatriz.

“No momento a Prefeitura está irredutível. É necessário entender que o HMR atende mulheres de alto risco e que faz 600 procedimentos em média por mês. Imagine o que é estar em um serviço que não consegue dominar o que tem, tendo que fazer escolhas entre os pacientes e muitas vezes ser mal compreendido, responsabilizado e agredidos por parentes de pacientes que estão esperando”, disse a representante. “Vamos pedir para o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) mediar esse conflito”, completou.

Esclarecimento

Por nota, a Secretaria de Saúde do Recife (Sesau) esclareceu estar empenhada para melhorar as dificuldades apresentadas pelos médicos, e que segue aberta para diálogo mesmo após ter realizado "diversas" reuniões para ouvir as sugestões da classe. Ainda, informou que o HMR abriu processos seletivos para contratação de médicos em 2020, quatro em 2021 e um em 2022, mas que a "adesão não aconteceu na mesma proporção da necessidade imposta", e que neste ano estão sendo disponibilizadas 17 vagas.

Enquanto isso, disse estar buscando criar medidas como um núcleo interno de regulação, contratação de médicos diaristas para os setores com maior sobrecarga e o fortalecimento da gestão de leitos. Enfim, a Secretaria afirmou que, desde janeiro deste ano, começou a convocar, gradualmente, mais de 480 profissionais aprovados no último concurso público, realizado em 2019, que precisou ser interrompido em função da pandemia da covid-19. Do total de trabalhadores convocados, 223 vão atuar especificamente nas policlínicas e maternidades da capital.


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