URBANISMO

Com 67% de áreas de morros, Recife destina R$ 148 milhões à Ação Inverno 2022 para prevenir desastres

Detalhes da ação foram apresentados nesta quinta-feira (10) pela gestão municipal, que promete o maior pacote de obras para o inverno já feito

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Katarina Moraes

Publicado em 10/03/2022 às 14:39 | Atualizado em 10/03/2022 às 18:34
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A capital pernambucana demanda grande esforço operacional para mitigar os efeitos das chuvas, visto que 67% de sua área corresponde a morros - cuja terra é mais propícia a deslizar quando está úmida - e por ter sido construída, historicamente, sobre aterros, facilitando a ocorrência de alagamentos. Por isso, anualmente, anuncia as medidas previstas pela Ação Inverno, que neste ano promete ser a maior já realizada, segundo a Prefeitura do Recife. 

Detalhada nesta quinta-feira (10) durante coletiva de imprensa, a operação de 2022, iniciada no início do ano, tem orçamento de R$ 148 milhões, investidos em medidas de prevenção, monitoramento, eliminação de pontos críticos, e obras de micro e macrodrenagem - 50% a mais que no último ano, quando custou R$ 96,6 milhões dos cofres municipais. 

"É um conjunto de ações, que representa um número alto, mas que representa o sonho de muita gente. São pessoas que poderão dormir com tranquilidade, sabendo que a sua encosta vai estar protegida e que a escadaria que dá acesso a sua casa vai ser recuperada. É isso que é o verdadeiro significado desse número: as vidas que serão protegidas em virtude desses investimentos", afirmou, na coletiva, o prefeito João Campos.

Ao todo, 3 mil servidores e nove secretarias e órgãos municipais a integram a ação comandada pela Defesa Civil, que tem como principal função evitar ou minimizar situações de calamidade. Em 2022, promete 55 mil vistorias em locais de risco neste ano, 10 mil visitas de orientação porta a porta e 100 ações educativas nas escolas, além da realização de três Núcleos Comunitários de Proteção e Defesa Civil, que visam aproximação com as comunidades para prevenção de riscos por meio de suas lideranças.

Alexandre Aroeira/JCIMAGEM
Morro no Córrego do Morcego, no Bairro de Dois Unidos - Alexandre Aroeira/JCIMAGEM

Ainda, a pasta tem como meta impermeabilizar 14 mil m² de áreas de morro sujeitas a deslizamentos, procedimento com durabilidade de cinco anos, implementar 3,2 milhões de m² de lonas plásticas (equivalente a 800 campos de futebol) e fazer mil pequenas obras pelo Programa Parceria.

Outros R$ 96,3 milhões serão destinados à Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb), encarregada de recuperar e implantar escadarias, melhorar a rede de drenagem, limpar canais e mitigar pontos críticos de alagamento.

À Autarquia de Urbanização do Recife (URB), caberão R$ 10,8 milhões para obras de macrodrenagem,  que consiste no revestimento de calha e urbanização nos canais, e R$ 20 milhões para contenção de encostas.

Além da Defesa Civil, a URB e a Emlurb, estão envolvidas a Secretaria de Política Urbana e Licenciamento (Sepul), Guarda Municipal, Desenvolvimento Social, Saúde, Mais Vida nos Morros e a Secretaria de Governo, que vão colocar efetivos à disposição da operação para caso haja necessidade de apoio.

O engenheiro civil Roberto Coutinho, do departamento de geotecnia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), pontua que a prevenção a incidentes passa pela elaboração desses planos de contingência, de trabalhos educativos com a comunidade e do uso de tecnologias que podem ajudar no monitoramento das áreas de risco, além do investimento, ao mesmo tempo, em obras estruturais.

“Obras de contenção, como muros de arrimo, de solo e drenagem são um caminho importante, mas não dá para fazer em todos os lugares em curto prazo. Então, enquanto isso, devem ser feitas ações não estruturais”, disse, completando: o “aperfeiçoamento das tecnologias precisa ser trazido ao município. Nossa região tem um bom exemplo de plano de prevenção, mas precisa sempre estar melhorando.”

Mesmo problema, impactos diferentes

Quando o período de chuva se aproxima, os problemas na cidade começam a aparecer, atingindo todos os cidadãos, mas de maneiras diferentes. A mobilidade é logo impactada pelos constantes alagamentos, que, segundo o geógrafo Luiz Souza, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), se devem em parte ao acelerado processo da urbanização do Recife.

"A ocupação das margens dos corpos hídricos acabou retirando a vegetação e diminuindo a capacidade de infiltração de água no solo. Por outro lado, a impermeabilização do solo pelo concreto ou asfalto acaba impossibilitando a infiltração, provocando o aumento da velocidade do escoamento superficial de suas águas e resultando no extravasamento delas", explica.

Alexandre Aroeira/JCIMAGEM
Abraão Tavares, morador de Dois Unidos, teme queda de morro no Córrego do Morcego - Alexandre Aroeira/JCIMAGEM

Há, no entanto, parte dos recifenses que sofre não só com a dificuldade em transitar pela cidade nos dias de chuva, mas que veem nas águas o perigo da morte. É o caso do porteiro Abraão Tavares, de 52 anos. Em 2019, ele assistiu à casa de seu amigo de infância ser coberta pela lama no Córrego do Morcego, em Dois Unidos, na Zona Norte, e teme que o mesmo aconteça com a sua, que fica no "pé" da barreira.

"Desde então, só fizeram paliativos, como a instalação de lonas. A gente fica apreensivo, com medo, porque já aconteceu duas vezes aqui. Cada vez que chove, caem mais pedaços da barreira”, conta ele, que mora em casa própria com outros cinco familiares e diz ter dificuldades em encontrar e arcar com um novo lar em um lugar seguro e que comporte tanta gente.

Socorro

Nos casos de emergência, a Defesa Civil recomenda que os moradores liguem para o número 0800-0813400. A ligação é gratuita e a central funciona 24h para atender as chamadas. Os moradores de áreas de riscos também devem seguir as orientações enviadas via SMS caso haja possibilidade de chuvas fortes.

No caso de desabamento de barreiras, as famílias serão direcionadas ao Abrigo Emergencial localizado na Travessa do Gusmão, no bairro de São José, tocado pela Secretaria de Desenvolvimento Social, Direitos Humanos, Juventude e Políticas sobre Drogas (SDSDHJPD).

Confira as ações prometidas

Macrodrenagem e limpeza de canais:

A Prefeitura do Recife afirmou que executará obras de revestimento de calha e urbanização nos canais Ibiporã, Santa Rosa e ABC para melhorar o escoamento das águas nos dias de chuva. Combinado a isso, a Emlurb iniciou em 3 de janeiro a limpeza dos 99 canais da cidade.

Eliminação de pontos críticos de alagamento:

Estão em andamento as obras na Rua Lins Petit, Boa Vista; Rua Dona Magina Pontual, Boa Viagem; Rua Centenário Alberto Santos Dumont, Jordão; e Avenida Advogado José Paulo Cavalcante, Joana Bezerra.

Outros quatro pontos estão programados: Rua Vidal de Negreiros, São José; Rua Cabo Eutrópio, Joana Bezerra; Avenida Caxangá (do Big Bompreço a Supranor); e Rua Otávio Sarmento, Várzea.

Implantação de novas ecobarreiras:

A gestão promete instalar novas sete ecobarreiras em canais da cidade, totalizando, assim, dez pontos de retenção de lixo nessas estruturas. Atualmente, elas estão presentes nos canais de Setúbal, do Jordão e do Vasco da Gama (Arruda).

Conscientização da população:

Com o intuito de sensibilizar a população para a importância de não jogar lixo em canais, galerias e encostas, a Emlurb também vem fazendo ações educativas porta a porta e nas escolas.

Apoio no trânsito:

A Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) disponibilizará 611 agentes de trânsito para ficar em pontos críticos todos os dias e 180 orientadores em pontos fixos, principalmente em locais de fácil alagamento. Ainda, foi instalado o "nobreak" em 189 semáforos dos 705 existentes na cidade, para evitar desligamento em caso de falta de energia.

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