Em estado de abandono, Arquivo Público de Pernambuco sofre com problemas estruturais; parte do teto desabou

Responsável por preservar a história do estado, o Arquivo Público de Pernambuco encontra-se em situação de abandono. Entre os problemas estruturais constatados no local estão infiltrações, falta de energia, mofo, fiação exposta e locais onde parte do teto desabou.

Os problemas ainda se expandem. Parte dos arquivos estão fora das caixas e estão mantidos sem a climatização adequada. O descaso com o local, inclusive, foi motivo de uma visita da Comissão de Cidadania da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) nos prédios do Arquivo Público de Pernambuco, localizados na área central do Recife.

“O Arquivo Público possui dois prédios. Um fica na Rua do Imperador e o anexo fica na Rua Imperial, que foi onde nós visitamos. Lá está a maior parte dos documentos, inclusive documentos do DOPs, da época da Ditadura Militar. Me deparei com um cenário que parecia de guerra, de precarização absoluta do equipamento. Os problemas que nós vimos lá não ocorreram em seis meses, mas em décadas. O prédio está completamente abandonado”, afirma a presidente do colegiado, a deputada estadual Dani Portela (PSOL).

A parlamentar também chamou atenção para os riscos de incêndio, devido à exposição dos fios, que também estão em contato com infiltrações e os próprios documentos compostos por material sólido inflamável: o papel.

“Desde aquela chuva que aconteceu no mês de maio de 2022, foram constatadas muitas infiltrações, a energia do local foi interrompida e não foi restabelecida. Existem setores onde as telhas foram afastadas, resultando em goteiras no espaço. Parte da estrutura de gesso do teto desabou, a fiação está pendurada. Há muita umidade e mofo também. Dava para ver casas de cupins no acervo. Qualquer leigo pode perceber que aquele acervo está em risco e que, a qualquer momento, pode acontecer um incêndio porque os fios estão soltos e temos papel em todo o espaço”, explica.

O abandono já resultou na perda de documentos importantes para a história de Pernambuco. De acordo com a deputada estadual, a carta de doação da Capitania Hereditária de Pernambuco original foi perdida.

"O Arquivo Público tem um conteúdo muito valioso, era para estar em constante modernização. A primeira carta de doação da Capitania Hereditária de Pernambuco para Duarte Coelho se perdeu. O que se tem é a cópia que é do Século 19. O documento mais antigo de lá é de 1600, que foi a doação da Capitania Hereditária de Itamaracá", informa Dani Portela. 

Para além dos problemas estruturais, o Arquivo Público de Pernambuco também enfrenta problemas com o número de pessoas que atuam no local. Após a exoneração em massa realizada pela atual gestão estadual, ainda em janeiro, apenas 16 funcionários permaneceram atuando no local.

“A nossa provocação para o governo atual é que, antes do 'exoneraço' de Raquel, que aconteceu em janeiro, tinham um pouco mais de 40 servidores atuando lá - que já era um número pequeno. Com o decreto de exoneração e a devolução dos servidores para os seus órgãos de origem, hoje o acervo funciona com cerca de 16 pessoas. O Acervo só tem uma pessoa para cuidar do restauro e ela já está prestes a se aposentar. Antes, os funcionários que trabalhavam no Arquivo eram da Secretaria de Educação e, no Governo Paulo Câmara, eles passaram a ser funcionários da Casa Civil”, comenta a deputada.

 

Sem respostas do Governo de Pernambuco
A parlamentar informou ainda que protocolou, no dia 31 de março, questionamentos sobre as ações do Governo de Pernambuco sobre o Arquivo Público, mas que ainda não obteve respostas por parte do executivo estadual.

“Nós protocolamos desde o dia 31 de março vários questionamentos e ações que direcionamos à governadora. Entre eles, informar sobre o funcionamento do Arquivo Público, porque recebemos denúncias de que ele não estava funcionando no horário previsto. Também pedimos para que fosse informado quem ocupava todos os cargos e qual o atual corpo técnico do equipamento. Até a data de hoje, os pedidos de informação não foram respondidos”, comunica a deputada.

A reportagem também procurou o Governo do Estado e questionou quais são os planos e ações voltados para o Arquivo Público, além de pedir informações sobre o quadro de funcionários. Até o momento do fechamento desta reportagem, não tivemos resposta. O espaço segue aberto para pronunciamento.