Foram 35 horas ininterruptas de resgate. Esperança de encontrar vida debaixo de uma pilha de escombros. Os Bombeiros e a população fizeram o impossível, mas a tragédia do bloco D-7 do Conjunto Beira-Mar, no Janga, em Paulista, deixou apenas três sobreviventes e uma tristeza profunda. O desabamento do prédio, às 6h07 da sexta-feira (7), matou 14 pessoas: mãe e filhos, marido e mulher, crianças, adolescentes, adultos.
O Corpo de Bombeiros de Pernambuco deu a operação como encerrada às 18h. Por volta das 14h20, as últimas pessoas soterradas foram encontradas sem vida. Uma mãe e os dois filhos de 10 e 6 estavam abraçados, deitados numa cama de casal. A filha desta mesma mulher foi resgatada com vida. Além de perder a mãe e os dois irmãos, a adolescente perdeu o namorado. Ela foi levada ao Hospital Miguel Arraes, em Paulista.
Segundo o balanço dos Bombeiros, divulgado pelo coronel Luiz Augusto, comandante do segundo turno da operação, 17 pessoas foram retiradas do local, sendo três com vida e 14 sem vida. Três pessoas conseguiram sair sem precisar da ajuda dos bombeiros. Além delas, foram resgatados dois cães e dois gatos. Quase 200 bombeiros atuaram na operação durante o resgate, além de seis cães farejadores, que ajudaram na localização das vítimas.
GRITO E SILÊNCIO
Durante a operação de resgate, um sinal de que a maior parte dos moradores não teria resistido ao desabamento, foram as tentativas dos Bombeiros de utilização da técnica de chamada e escuta para localizar sobreviventes. A técnica funciona da seguinte forma: um oficial pede silêncio total e grita: "Nós somos do Corpo de Bombeiros de Pernambuco. Se você me escuta, grite ou bata três vezes". Infelizmente, nenhum grito, sussuro ou batida era ouvida de debaixo dos escombros.
Solidariedade e tristeza andaram juntas na tentativa de salvar os moradores do Bloco D-7 do Edifício Beira-Mar. Uma espécie de quartel-general se formou na Igreja Presbiteriana do Janga, logo atrás do conjunto habitacional. Os voluntários garantiam a retaguarda de quem estava trabalhando com água e comida, além de receber doações de roupas e alimentos para as famílias das vítimas. A secretaria de Assistência Social de Paulista estava no local para oferecer auxílio aos moradores desalojados.
A secretária da pasta, Kelly Tavares, adiantou que as famílias do prédio que desabou poderão fazer um cadastro para serem beneficiadas pelos programas de habitação do município. Mas afirmou que elas precisam de adequar às exigências do cadastro.
Segundo a Defesa Civil de Paulista, dos 29 blocos do Conjunto Beira-Mar, que contabiliza 1.711 apartamentos, 9 estão interditados. Após a tragédia, a prefeitura informou que interditou mais 6 blocos. O prédio que desabou estava interditado por ordem judicial desde 2010 e foi reocupado de forma irregular por pesoas que não tinham onde morar em 2012.
CÃES E GATOS
Ao longo da operação de resgate, a presença de animais foi percebida, mas os Bombeiros informaram que eles só começariam a ser retirados após a conclusão da ocorrência com as famílias.
O primeiro animal foi resgatado por volta das 15h50. Era a cachorra Mel, de 12 anos. Em seguida, a cadela Mila foi salva após o arrombamento da porta do quarto pelos Bombeiros. Na tentativa de entrada no quatro, os dois gatos fugiram do local.
As duas cadelas foram levadas a uma clínica para passar por exames e vão ficar sob os cuidados da Associação dos Protetores de Animais de Pernambuco (Apape) até serem devolvidas à tutora deles, uma mulher de 65 anos resgatada com vida dos escombros na sexta (7) e que está internada no Hospital Miguel Arraes.
TRISTEZA E LEMBRANÇA
O desabamento no Conjunto Beira-Mar é mais uma tragédia na lembrança do povo pernambucano. Retrato da situação não só do caos na habitação, mas da condição de pobreza e extrema pobreza em que vive metade da população do Estado. Fica, também, a necessidade de responsabilizar as seguradoras, de cobrar pressa ao ao Judiciário e cumprimento das decisões, além de exigir que os governos estadual e municipais sejam proativos e interfiram em defesa da população.
Para os moradores, fica a dor imensurável pela perda de suas famílias. Fica, ainda, a insegurança de não ter um teto, um pouso. Com a tragédia, redescobr-se o quanto esse teto era precário e perigoso. Para quem participou e acompanhou o resgate, ficam as imagens do prédio sumindo em cinco segundos. Dos aplausos quando as pessoas eram resgatadas vivas. Das crianças pulando pelas janelas para escapar de novos desabamentos. Do desespero e das lágrimas de quem perdeu as pessoas que ama. Dos baldes e das ferramentas retirando os escombros. Dos Bombeiros pedindo silêncio, na esperança de ouvir um grito de vida.