MEIO AMBIENTE

UFPE descobre novas espécies de lagartos da Amazônia e homenageia indigenista pernambucano Bruno Pereira

Animais já eram conhecidos, mas cientistas achavam que se tratavam da mesma espécie. Pesquisadores provaram o contrário

Imagem do autor
Cadastrado por

Katarina Moraes

Publicado em 13/09/2023 às 14:54 | Atualizado em 13/09/2023 às 15:36
Notícia
X

Pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) descobriram cinco novas espécies de lagartos da Amazônia e redefiniram outras duas. Os répteis ganharam nomes em homenagem a defensores da região e dos povos originários, como Bruno Pereira, e estão descritos em um estudo publicado na última segunda-feira (11) na revista Zoological Journal of the Linnean Society.

Os animais já eram conhecidos há bastante tempo, mas cientistas achavam que se tratavam da mesma espécie. “A partir deste novo artigo, reportamos que algumas populações amazônicas, antes conhecidas como Iphisa elegans, na verdade representam espécies novas”, explica o professor Pedro Nunes, do Departamento de Zoologia do Centro de Biociências (CB) da UFPE e um dos autores.

Eles são lagartos de pequeno porte (um animal adulto tem, em média, 4 cm sem considerar a cauda), com escamas lisas e brilhantes, que vivem no chão, andando pelo folhiço da floresta. Mas, individualmente, cada uma possui um conjunto de atributos exclusivos. Elas diferem umas das outras por características de escamas, órgão genital masculino (hemipênis), poros no fêmur e genética.

“A nova organização que propomos mostra que as espécies têm distribuições muito mais restritas do que imaginávamos antes para o gênero. Isso certamente alterará a percepção sobre o nível de ameaça a que cada uma delas está exposta”, alerta Nunes.

No trabalho, os pesquisadores ainda redefinem a distribuição e a composição do Iphisa elegans. E o Iphisa soinii, que era uma subespécie de Iphisa elegans, foi elevado ao status de espécie. Ambos já eram conhecidos e mantiveram seus nomes.

HOMENAGEM

As espécies Iphisa brunopereira e Iphisa dorothy homenageiam postumamente o indigenista pernambucano Bruno Pereira e a irmã Dorothy Stang, assassinados, respectivamente, em 2022 e 2005.A espécie Iphisa surui homenageia a indigenista Neidinha Suruí e a etnia Paiter-Suruí.

Já a espécie Iphisa munduruku presta homenagem à líder indígena Alessandra Korap Munduruku e à etnia Munduruku. E Iphisa pellegrino faz um tributo à professora Katia Pellegrino, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), por trabalhar há décadas com a família Gymnophthalmidae (onde está alocado o gênero Iphisa) e ter contribuições significativas para a sistemática do grupo.

“Uma vez que o gênero Iphisa é exclusivamente amazônico e se distribui por praticamente toda a área da floresta, decidimos homenagear pessoas e etnias que estão envolvidas com a defesa deste bioma”, afirma Nunes.

“A ideia das homenagens é principalmente trazer mais visibilidade a defensores da floresta que, assim como irmã Dorothy, dedicaram e ainda dedicam suas vidas em prol da Floresta Amazônica. Também chamar atenção para os povos originários, que estão constantemente tendo que lidar com o garimpo ilegal e a destruição de seus povos e terras”, ratifica Anna Mello.

ESTUDO

O estudo foi o tema da dissertação de mestrado em Biologia Animal de Anna Mello, sob orientação do professor Pedro Nunes. A identificação das novas espécies foi precedida por análise de exemplares conhecidos para o gênero Iphisa, que estão depositados em coleções zoológicas por todo o mundo.

O estudo incluiu a coleta de informações sobre número, formato e posição de escamas, características dos hemipênis, tamanho e proporção de partes do corpo, além de análises moleculares do DNA de cada uma das populações.

A maior parte da pesquisa foi realizada no Laboratório de Herpetologia da UFPE, no Campus Recife, e algumas ações foram executadas na USP. O estudo ainda teve a colaboração de outras instituições no Brasil e no exterior, que cederam material por empréstimo ou receberam Anna Mello e Pedro Nunes para visitas.

Também assinam esse artigo Anna Virginia Albano de Mello (doutoranda em Biologia Animal pela UFPE); Renato Recoder (pesquisador da USP); Antoine Fouquet (pesquisador do CNRS); e Miguel Trefaut Rodrigues (professor emérito da USP).

LOCALIZAÇÃO DAS ESPÉCIES

As cinco novas espécies são exclusivas da Amazônia e ocorrem em diversas localidades da floresta, com áreas específicas a depender da espécie (confira abaixo).

  • Iphisa brunopereira: oeste da Amazônia, nas margens do Rio Içá (AM), no interflúvio dos Rios Napo e Putumayo, no Peru, e em planícies do Equador;
  • Iphisa dorothy: Amazônia Oriental e Central, apenas ao sul do Rio Amazonas, no interflúvio Purus-Madeira e Madeira-Tapajós, chegando às margens dos Rios Aripuanã e Juruena;
  • Iphisa surui: mais ao sul da Amazônia, no Mato Grosso e em Rondônia;
  • Iphisa munduruku: Amazônia Central, nas margens do Rio Abacaxis;
  • Iphisa pellegrino: Amazônia Central, ao sul do Rio Amazonas, apenas no interflúvio dos Rios Purus e Madeira;
  • Iphisa elegans: norte da Amazônia, na margem esquerda do Rio Amazonas e no Escudo das Guianas; e
  • Iphisa soinii: oeste da Amazônia, no Peru, Equador e no estado do Acre, no Brasil.

DIVULGAÇÃO
Novas espécies estão descritas em um estudo publicado na última segunda-feira (11) na revista Zoological Journal of the Linnean Society - DIVULGAÇÃO

Tags

Autor