CRISE NA SAÚDE

Governo de Pernambuco divulga aumento de investimentos na saúde em 2023,em meio à falta de UTIs pediátricas e morte de crianças

Em busca de notícia positiva, depois que oposição à Raquel Lyra pediu a demissão da secretária de Saúde, Zilda Cavalcanti, governo diz que Pernambuco foi o Estado que mais investiu em saúde no Nordeste em 2023. Informações são repassadas num momento de falta de UTIs pediátricas e aumento do número de mortes de bebês e crianças com Srag

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Adriana Guarda

Publicado em 22/05/2024 às 18:58
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Não é 'só' a dor imensa do luto. É a revolta. A esperança de que poderia ter sido diferente se os cuidados médico-hospitalares fossem adequados. Como aceitar a morte de quem acabou de nascer? Esse é o sentimento de Érika Pereira, que perdeu seu filho Ryan David de apenas seis meses, no último sábado (18). O bebê estava internado com bronquiolite no Hospital Belarmino Correia, no município de Goiana (Zona da Mata Norte do Estado) e não conseguiu um leito de UTI. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES), ao longo de 2024 (até o dia 18 de maio) foram confirmados 10 óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) em crianças de 0 a 9 anos de idade em Pernambuco. 

Os casos foram crescendo ao longo do ano e expuseram o déficit de UTIs pediátrica e neonatal no Estado. Em abril, o governo estadual chegou a decretar situação de emergência em saúde pública, diante da fila por vagas em leitos de UTI para atender a esses pacientes. O decreto foi publicado no Diário Oficial, no dia 26 de abril. Na época da publicação do decreto, a média de pacientes na fila de UTIs era de 66 pessoas. 

Segundo a SES-PE, na tarde desta quarta-feira (22), 64 pacientes aguardam vaga de UTI Pediátrica e 23 pacientes em UTI Neonatal, de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag), em todo o Estado. A SES-PE ressalta, ainda, que "a Central de Regulação realiza acompanhamento constante do sistema informatizado das demandas por solicitação de leitos, o que permite que a lista de espera oscile mediante a necessidade".

Questionada pelo JC, a SES-PE demonstra que o número de óbitos de crianças de 0 a 9 anos por Srag foi bastante superior na comparação com anos anteriores, mas pode estar havendo subnotificação. Um indicativo disso é a própria falta de UTIs. A secretaria aponta que do início do ano até 18 de maio, foram 42 óbitos em 2023; 59 óbitos em 2022 e 48 óbitos em 2021. 

PROFISSIONAIS E LEITOS 

O Sindicato dos Médicos de Pernambuco tem chamado atenção para a sazonalizade dos casos de Srag e o despreparo da rede de saúde de Pernambuco para enfrentar o problema. A entidade defende que faltam medidas preventivas. No último dia 16 de maio, o Simepe publicou uma nota.  

"É extremamente urgente a necessidade de que a SES adote medidas eficazes, organizadas e contínuas para lidar com a demanda previsível de casos de doenças respiratórias, especialmente durante os períodos de maior incidência. A Rede Estadual de Saúde precisa se precaver com mais leitos de UTI pediátricos, uma melhor distribuição de medicamentos e recursos médicos suficientes para evitar futuras tragédias", diz um trecho da nota.

A SES-PE diz que "foram abertos, apenas neste ano, até o momento, 168 novos leitos assistenciais, principalmente os de terapia intensiva, voltados para o acompanhamento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave. Os últimos 10 leitos pediátricos foram abertos em Goiana, na Zona da Mata Norte, na última segunda-feira (20)", informa. 

A Secretaria informa, ainda, que realizou concurso para contratar profissionais da área de pediatria, mas que houve pouco interesse inclusive dos que passaram nas seleções. Em fevereiro foi realizado concurso para 30 pediatras e 11 intensivistas pediatras, mas apenas 12 pediatras se apresentaram e 2 intensivistas.

Desinteresse semelhante aconteceu com a seleção para 11 cirurgiões-pediatra. Desse total, apenas 7 se apresentaram. A explicação provável para o não-comparecimento dos profissionais no serviço público é o disputado mercado profissional de pediatria, com o mercado pagando melhor que o serviço público. 

PLANO DE CONTINGÊNCIA

Em fevereiro, a Secretaria de Saúde lançou o Plano de Contingência das Doenças Respiratórias Sazonais na Infância, criado com o objetivo de determinar ações para garantir a rápida detecção e resposta aos casos, surtos ou epidemias decorrentes da circulação dos vírus respiratórios. O Plano serve como diretriz para os serviços da rede de atenção e atua de forma transversal para mobilizar a sociedade para adoção de medidas preventivas, como a vacinação contra a influenza, pneumococos e Covid-19, e de controle da transmissão.

MAIOR INVESTIMENTO DO NORDESTE

Ante o cenário de crise nas unidades pediátricas, a SES-PE divulgou informação sobre o crescimento dos investimentos estaduais na saúde em 2023, afirmando ter sido o maior do Nordeste. 

“Em 2023, Pernambuco contabilizou o maior investimento em saúde na história do Estado, aparecendo na terceira colocação do Brasil em gastos na função saúde segundo o Tesouro Nacional. A nossa gestão vai continuar buscando a eficiência e a melhor utilização dos recursos públicos, que é o nosso compromisso com transparência e responsabilidade com os recursos públicos", comemora a secretária Estadual de saúde, Zilda Cavalcanti. Fritada pelo PSB com um pedido de demissão, a secretária não detalha o destino dos investimentos. 

O texto compara Pernambuco com outros estados do Norte, também com déficit na rede de saúde, como Amazonas, Amapá e Tocantins, e traz pontuações sobre o Tesouro Nacional e as exigências da Lei de Responsabilidade Fiscal. Em resumo, fica pouco claro para o usuário do sistema onde foram aplicados esses recursos, na prática, e como mudaram a vida da população para melhor. Quem frequenta a rede de saúde do Estado sabe que a crise se perpetua de governo para governo, alternando melhoras e pioras. Neste momento crítico, o difícil é explicar qualquer tipo de 'melhora' a mães que estão sepultando seus filhos por falta de UTI.  

 

 

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