Rio Jaboatão pode ser um dos maiores poluentes da praia do Paiva, afirma pesquisa

Jaboatão realiza ações de educação ambiental, mas não mencionou medidas para monitorar descartes ilegais por fábricas ou a limpeza dos rios

Publicado em 12/07/2024 às 13:34 | Atualizado em 12/07/2024 às 13:40

Uma reserva natural, com preservação da vegetação da Mata Atlântica, extensa faixa de coqueirais, mar azul e areias claras e limpas. Este é o retrato apresentado para quem visita a praia do Paiva e conhece o desenvolvimento sustentável local. Porém, uma pesquisa divulgada no último mês de junho revela que a área reservada apresenta um dos maiores índices de microplásticos no oceano do Litoral Sul de Pernambuco.

O levantamento foi divulgado pelo Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI), com amostras que estão sendo coletadas desde 2022. Liderado pelo biólogo e coordenador do instituto Múcio Banja e pela pesquisadora Jéssica Mendes, o estudo recolheu sedimentos em diferentes praias e teve uma surpresa em 2024: a praia que apresentou a maior quantidade de microplásticos (695 fragmentos) foi a do Paiva.

Pouco habitada e com menor atividade turística, a área apresentou quase o dobro de sedimentos quando comparada à de Porto de Galinhas (320 fragmentos), um dos maiores cartões-postais do estado. O resultado se contrasta com o objetivo inicial da coleta, que era apresentar a praia do Paiva como referência positiva de controle de qualidade e menor poluição.

“A quantidade de microplásticos encontrados em nossas amostras é extremamente preocupante. Essa contaminação representa um sério risco para o ecossistema marinho e para a saúde humana”, disse Jéssica Mendes.

 

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Presença de microplásticos no litoral de Pernambuco é alarmante, revela pesquisa do IATI - Divulgação

Rio Jaboatão

A pesquisa buscou, ainda, correlacionar a presença de microplásticos com fatores como ação das correntes marinhas e influência dos rios como o Jaboatão, que percorre cerca de 75 quilômetros até desaguar no oceano Atlântico, na praia de Barra de Jangada, limite entre os municípios de Jaboatão dos Guararapes e Cabo de Santo Agostinho. As duas cidades da Região Metropolitana do Recife (RMR) são destaques no setor industrial e têm como uma das principais atividades econômicas o setor fabril.

“Acreditamos que a maior parte de microplástico vem no período de verão, quando os ventos empurram a foz do rio Jaboatão na direção do Paiva. O rio é um dos que mais recebe descargas de resíduos, não só líquidos, mas também sólidos. Acreditamos que seja a maior fonte de contaminação”, destaca Múcio Banja.

De acordo com Múcio, as principais fontes de microplástico são de origem industrial ou doméstica, como indústrias têxteis, empresas de lavanderia de roupas (roupas sintéticas), glitter e outros cosméticos abrasivos, sacolas plásticas, copos plásticos, PETs diversos e outros materiais.

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Pesquisa revela presença alarmante de microplástico no litoral de Pernambuco - Divulgação

Correntes da região Sul

Além do rio, outro problema relacionado à praia do Paiva, de acordo com o coordenador do IATI, Múcio Banja, foi apresentado em estudos anteriores. Correntes que chegam da região Sul do estado desviam no Complexo Portuário de Suape e no Cabo de Santo Agostinho e terminam derivando para os trechos que compreendem as praias de Itapuama e Paiva. Assim, os rios ao sul de Pernambuco também contribuem para a alta quantidade de microplástico no Paiva.

Resposta

A respeito da implementação de ações que busquem diminuir a poluição do rio Jaboatão, a Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes informou, em nota, que desenvolve ações na área de educação ambiental no município, como a inauguração do Espaço Vida Marinha, localizado na Praia de Piedade. Veja a nota completa:

“A Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente do Jaboatão informa que são realizadas diversas ações na área de Educação Ambiental no município, que envolve estudantes da rede municipal de ensino e demais instituições. Recentemente a Prefeitura inaugurou o Espaço Vida Marinha, na Praia de Piedade. O novo espaço aberto ao público é dedicado à educação ambiental e valorização dos ecossistemas costeiros, com a promoção de exposições, debates, visitas agendadas de estudantes e instituições interessadas, em parceria com universidades, escolas municipais e iniciativa privada. A Secretaria informa ainda que as atividades do Espaço Vida Marinha incluem a redução do uso de copos plásticos e derivados desse material, além da conscientização sobre a importância do descarte correto do lixo gerado nas residências. Essas ações são essenciais para o equilíbrio ambiental dos rios, lagos, praias e oceanos. O trabalho desenvolvido pelo Vida Marinha conta com a parceria do Grupo Orizon, referência na valorização de resíduos e geração de energia renovável.”

A equipe do JC entrou em contato com a Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho e ainda não recebeu resposta. O espaço está aberto.

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