Inclusão social e combate à fome: primeira escola pública de agroecologia do Recife leva comida da terra à mesa

Sítio Natan Valle, localizado no bairro do Cordeiro, promove curso em parceria com o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS)

Publicado em 13/09/2024 às 12:25 | Atualizado em 16/09/2024 às 9:27

Em meio à dinâmica urbana, um respiro. Entre plantios, colheitas e manejo do solo, a primeira escola pública de agroecologia do Recife busca implementar práticas para minimizar a insegurança alimentar e nutricional na cidade, levando comida da terra à mesa.

O Sítio Natan Valle - Escola de Agroecologia está localizado no Cordeiro, Zona Oeste da capital pernambucana, e, por meio da Secretaria Executiva de Agricultura Urbana (SEAU) e em parceria com o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) do bairro, promove atividades que integram inclusão social e combate à fome.

Através do curso Cultiva Recife, dez pessoas aprendem técnicas de plantio em canteiros e bandejas, tecnologias alternativas, compostagem, uso de materiais recicláveis e produção de repelentes naturais.

“Temos o propósito de trazer agroecologia para a cidade do Recife. Na escola, ensinamos a população em torno do sítio a plantar, adubar, colher e beneficiar o que é colhido. É uma forma de trazer a segurança alimentar e nutricional da população da cidade”, explica Caroline de Melo Correia, coordenadora do Sítio Natan Valle, bióloga e técnica agrícola.

A escola oferece, todas as quintas-feiras, das 8h às 12h, oficinas baseadas no ciclo “comer, compostar, adubar, plantar, cuidar, colher, comer”. As atividades atendem populações vulneráveis, promovendo um aprendizado prático e acessível, com conceitos e técnicas diretamente aplicáveis às realidades dos participantes.

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Sítio Natan Valle - Escola de Agroecologia, no bairro do Cordeiro, é a primeira escola pública de agroecologia do Recife - Guga Matos/JC Imagem

Com duração de quatro meses, o Cultiva Recife aborda, entre aulas teóricas e práticas, temas como agroecologia, soberania alimentar, plantas alimentícias não convencionais e gestão de resíduos sólidos. O espaço também conta com um projeto de aquaponia, que está em fase de cultivo e utiliza a água dos peixes para irrigar as plantas.

“A agroecologia é uma ferramenta essencial na luta contra a fome e na construção de uma sociedade mais justa e sustentável”, afirma a secretária executiva de Agricultura Urbana do Recife, Adriana Figueira.

Inclusão social e combate à fome: primeira escola pública de agroecologia do Recife leva comida da terra à mesa

REAPROVEITAMENTO

Nos mais de 7.000 metros quadrados do espaço, crescem recursos para consumo, fonte de renda e cura. São 48 canteiros, com cerca de 300 mudas produzidas semanalmente, das quais uma parte é destinada a unidades de saúde, escolas, hortas comunitárias e terreiros.

O Sítio Natan Valle tem como um pilares a reciclagem e o reaproveitamento de matéria orgânica e, por isso, realiza também compostagem com folhas secas, resíduos orgânicos provenientes de dois restaurantes próximos e de podas realizadas pela Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb).

Diante de um cenário global de desigualdade agrária e emergência climática que ameaçam ainda mais as populações vulneráveis, a iniciativa propõe uma nova forma de interação entre a cidade e a natureza e, ainda, de combater o desperdício.

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Reciclagem e reaproveitamento de matéria orgânica são alguns dos pilares do Sítio Natan Valle - Guga Matos/JC Imagem

EDUCAÇÃO TERAPÊUTICA

Mais do que ensinar sobre agroecologia e a cadeia produtiva alimentar, o Sítio Natan Valle se aproxima dos alunos com a proposta de fortalecimento de um espaço comunitário e promoção de saúde mental. Por meio da escola agroecológica, os participantes têm acesso à continuidade dos serviços de assistência social. Parte deles conheceu o projeto a partir de indicações nos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS) e nos Centro de Referência de Assistência Social (CRAS).

A técnica de enfermagem Wênia Ferreira, de 42 anos, participa do curso desde o início e levou o filho, Gabriel Henrique, 16 anos, para acompanhar algumas aulas com ela. “Eu descobri o projeto através do CREAS e está sendo fascinante e intenso porque trabalha tanto a saúde física quanto mental e o conhecimento que você adquire é muito gratificante. É maravilhoso plantar e colher com suas próprias mãos e se alimentar daqui que você plantou”, pontuou.

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“Está sendo fascinante e intenso porque trabalha tanto a saúde física quanto mental e o conhecimento que você adquire é muito gratificante", conta Wênia Ferreira - Guga Matos/JC Imagem

Wênia já pensou em projetos para dar continuidade ao curso no bairro onde mora. “Cada aula traz um novo aprendizado e uma vontade maior de ter a agroecologia na vida. Eu pretendo levar esse conhecimento para outras pessoas e outros lugares porque temos áreas que podemos aproveitar, em escolas e parques. Quando você passa por um espaço, já começa a imaginar uma plantação ali”, relatou a aluna.

O flanelinha Marcelo Feliciano, de 52 anos, encontrou o curso a partir da indicação de uma assistente social, como forma de ocupar o tempo com uma atividade terapêutica. “É bom, é uma terapia e aprendizado de uma profissão. É bom cuidar do solo e da natureza e comer mais saudável”, afirmou.

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O flanelinha Marcelo Feliciano encontrou no curso uma forma de ter uma atividade terapêutica - Guga Matos/JC Imagem

Para Valdete de Lima, 51 anos, que trabalha com reciclagem, a escola agroecológica é uma oportunidade de fazer algo que ama: plantar. “Eu sou do interior, mas depois que vim morar no Recife para trabalhar, não consegui um terreno para plantar”, contou. A socialização tem sido um benefício para a estudante. “Para mim é bom porque estou me reunindo com as pessoas e aprendendo uma coisa nova. É uma terapia e uma escola”.

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Para Valdete de Lima, a escola agroecológica também é uma oportunidade de socializar - Guga Matos/JC Imagem

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