Ruínas, igrejas, teatros e mais: os desafios do novo superintendente do Iphan para preservar o patrimônio de Pernambuco

Em entrevista ao JC, Gilberto Sobral analisou o início da sua gestão, relatando desafios e expectativas à frente do Instituto em Pernambuco

Publicado em 04/10/2024 às 12:24 | Atualizado em 04/10/2024 às 12:30

Há pouco mais de três meses, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Pernambuco, vinculado ao Ministério da Cultura, anunciou seu novo superintendente. O pedagogo Gilberto Sobral Magalhães assumiu o cargo para gerir o patrimônio cultural do estado, de bens materiais, como conjuntos arquitetônicos, urbanísticos e paisagísticos, a imateriais, como manifestações e tradições ligadas ao Carnaval, à religiosidade e às comunidades indígenas e quilombolas.

Em entrevista ao Jornal do Commercio, Sobral fez uma análise do início da sua gestão, relatando alguns desafios encontrados no órgão, e enumerou as próximas obras pelo patrimônio do estado e expectativas à frente do Instituto em Pernambuco.

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Pedagogo Gilberto Sobral assumiu superintendência do Iphan Pernambuco em julho de 2024 - DIVULGAÇÃO

JC: Você já está há três meses como superintendente do Iphan em Pernambuco. Qual diagnóstico você pode fazer desse período?
Gilberto Sobral: O Iphan Pernambuco tem uma atuação muito forte e uma presença constante nos municípios. Além da sede no Recife, temos escritórios técnicos em Olinda, Igarassu, no Parque Nacional dos Guararapes, em Jaboatão e em Noronha.
Nesses três primeiros meses, encontramos projetos que estão em andamento e inúmeras ações. Porém, a Superintendência de Pernambuco conta com apenas 42 servidores públicos. São profissionais extremamente dedicados e qualificados, porém o quadro é reduzido.

JC: Quais são os maiores desafios encontrados nesse início de gestão?
Gilberto Sobral: Um deles é a dificuldade de deslocamento. Nós temos um quadro reduzido, com poucos veículos, e estamos passando por um processo de contingenciamento orçamentário, o que dificulta o deslocamento da equipe para ações de campo.
Encontramos ainda dificuldade em virtude da redução de quadro de servidores e problemas de infraestrutura, mas isso não desanima nosso trabalho e nos motiva a levar o Iphan para junto da população.

JC: Como aproximar a sociedade dos patrimônios em Pernambuco?
Gilberto Sobral: A população acha que o Iphan não é um órgão público e que, em áreas de entorno de patrimônio, o Instituto vai atrapalhar o desenvolvimento da região. Mas o Iphan é um órgão extremamente importante de política pública de salvaguarda.
Precisamos levar o Instituto para a rua, ampliar o poder de articulação junto a outros órgãos públicos e à população.
Sozinho, o Iphan não consegue fazer tudo, mas com a participação de todos os parceiros e, principalmente, da sociedade civil, vamos conseguir cumprir o nosso papel. Temos muita esperança de que o patrimônio cultural brasileiro vai estar bem cuidado

JC: Para você, quais são os maiores desafios com a preservação do patrimônio no estado?
Gilberto Sobral: O maior desafio é tocar as ações do Governo Federal que já estão presentes em Pernambuco. Nós temos obras do Novo PAC, algumas acontecendo e outras em fase de contratação ou elaboração de projetos. São ações importantíssimas e obras previstas em Fernando de Noronha, Recife, Igarassu e Olinda. Isso demanda muita expertise da equipe técnica que vai acompanhar tudo. Estamos em articulação diária com parceiros que têm algum bem e intervenção em área tombada.

JC: Quais são essas obras?
Gilberto Sobral: No PAC Seleções, que trata de projetos temos os restauros das Ruínas da Misericórdia, em Igarassu, da Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres do Monte dos Guararapes, em Jaboatão, do Conjunto dos Chalés do Carmo, em Olinda, do Memorial Ilê Obá Ogunté Sítio de Pai Adão e do Teatro de Santa Isabel, no Recife, e do Convento de Santo Antônio, em Sirinhaém.
No PAC Obras, ou Novo PAC, temos a conservação e revitalização dos Fortes de Santo Antônio e de São Pedro do Boldró, em Fernando de Noronha, a restauração da Igreja Matriz de Santo Antônio, do entorno do Conjunto do Carmo e da Igreja de São José do Ribamar e a requalificação do Mercado de São José, no Recife, a restauração da Igreja de São Pedro Marques, do Mosteiro de São Bento do Largo e do Adro da Igreja de Nossa Senhora do Monte e do Cine Duarte Coelho, em Olinda.

JC: Como a crise climática pode impactar o patrimônio brasileiro? E de que forma o Iphan tem se preparado para lidar com isso?
Gilberto Sobral: Essa é uma preocupação que está presente no dia a dia do Iphan de Pernambuco e do Brasil inteiro. O que aconteceu no Rio Grande do Sul levantou um sinal de alerta e estamos procurando atualizar a legislação e as políticas de uso do patrimônio.
Estamos buscando atualização de projetos de combate a incêndio e de minimizar ações climáticas. Sabemos que o Recife vive em uma área muito complicada em relação ao nível do mar e temos alertado os gestores de bens culturais tombados sobre essa situação para acompanharmos. Além disso, temos atuado na fiscalização desses bens - da gestão e da ocupação deles. Cabe a nós nos prevenirmos.

JC: De que forma o Iphan atua na preservação dos imóveis do Centro do Recife?
Gilberto Sobral: Todas as ações que são feitas no entorno dos imóveis preservados precisam envolver o Iphan.
O Instituto faz parte do grupo de trabalho formado pela Prefeitura do Recife para abordar a revitalização da Avenida Guararapes, a partir de um estudo para definir a ocupação e o uso de 33 imóveis da região. Temos buscado articulações com a Prefeitura, com o Programa Recentro e com Universidades para buscar recursos.

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