Inaugurado há 100 anos, Quartel do Derby já foi 'shopping' incendiado por desavenças políticas

Evento de celebração contará com apresentação da Orquestra Criança Cidadã e visitação aberta pelo quartel; conheça história do prédio

Publicado em 17/10/2024 às 15:26 | Atualizado em 17/10/2024 às 19:40

Há exatos 100 anos, em 18 de outubro de 1924, era inaugurado o Quartel do Derby, cujo prédio se tornou protagonista do desenvolvimento urbano do Recife para além do Centro - que, na época, se restringia aos bairros do Recife, de São José e Santo Antônio. Antes de ser um espaço policial, o prédio também foi palco de curiosas histórias sobre empreendedorismo e disputas políticas na capital.

Um evento de celebração, a partir das 17h, contará com apresentação da Orquestra Criança Cidadã; dos tenores tenente-coronel Jefferson Bento e Igor Alves; da Banda da Polícia Militar de Pernambuco e do Coral de Alunos do Colégio da Polícia Militar. Após o espetáculo, será possível realizar uma visitação pelo prédio.

'Recife novo'

REVISTA DE PERNAMBUCO/REPRODUÇÃO
Capa da Revista de Pernambuco em marco de 1925 - REVISTA DE PERNAMBUCO/REPRODUÇÃO

Na época de sua inauguração, o Quartel do Derby era como o eixo central de um 'novo Recife' que brotava no entorno, com a criação da Praça do Derby e do loteamento com casarões da aristocracia - os imóveis remanescentes abrigam, hoje, clínicas ou salões de prédios residenciais.

Na década de 1920, essa região foi um dos principais alvos da propaganda do então governador Sérgio Loreto, também responsável por finalizar as reformas do Bairro e do Porto do Recife e a Avenida Beira-Mar, que ligava o Centro à praia de Boa Viagem - que também está completando 100 anos.

A cidade modernizou-se em diversas frentes. O termo "novo Recife" era de fato utilizado, sendo destaque de uma capa da Revista de Pernambuco, que fez ampla cobertura às reformas, em março de 1925.

Origem do prédio

ARQUIVO DA FUNDAJ
Mercado Coelho Cintra, de Delmiro Gouveia, que viria a abrigar o Quartel do Derby - ARQUIVO DA FUNDAJ

A origem do prédio é anterior ao Quartel. No final do século 19, uma empresa propôs à Prefeitura a construção de um grande prado de corridas de cavalos da cidade, o Derby Club - surgia, assim, o atual nome do bairro.

Com o fechamento do prado, esse terreno foi adquirido pelo empresário Delmiro Gouveia. Inspirado pelo que viu na Exposição Universal de Chicago, nos Estados Unidos, em 1893, o empreendedor construiu ali um moderno mercado modelo: o Mercado Coelho Cintra, que futuramente abrigaria o Quartel.

Historiadores como William Edmundson apontam que esse pode ser considerado o primeiro shopping center do Brasil, pois reunia 246 salas alugadas a comerciantes, restaurantes e teatro. Na área externa, jogos, barraquinhas e música.

Delmiro Gouveia, no entanto, acumulava inimigos quase no mesmo nível de acúmulo de capital. O Mercado fechou as portas após um incêndio criminoso, motivado pelas desavenças do proprietário com lideranças políticas locais, como o Conselheiro Rosa e Silva, que na época era vice-presidente da República.

Mudanças

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Reformas no Mercado Coelho Cintra para abrigar o Quartel do Derby, na década de 1920 - REVISTA DE PERNAMBUCO/REPRODUÇÃO

Com as "grandes obras de melhoramento do Derby", o Mercado passou a abrigar o 2º Batalhão da Força Pública (atual Quartel do Derby, comando da Polícia Militar), a Praça do Derby e também ganhou o antigo canal do Derby, hoje situado entre as duas vias da Avenida Agamenon Magalhães.

Até então, o 2º Batalhão da Força Pública antes ficava no atual Palácio da Justiça, que também foi reformado nesse mesmo período.

Nesses primeiros anos, o prédio e praça receberam a Exposição Geral de Pernambuco, organizada em comemoração ao primeiro centenário da Confederação do Equador e que reunia os melhores produtos do Estado. Os lotes terrenos da área começaram a ser vendidos em 1925, atraindo figuras do "alto comércio", a exemplo de José Pessoa de Queiroz.

Ao longo das décadas do século 20, o bairro do Derby acompanhou as transformações urbanas e o crescimento populacional do Recife, abrigando hoje diversos serviços.

Essas e outras histórias poderão ser conhecidas durante a visita guiada, a exemplo do enfrentamento ao cangaço e até mesmo a prisão de nazistas capturados na costa brasileira durante a Segunda Guerra Mundial.

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