Ausência de chuvas e altas temperaturas vão resultar em aumento do racionamento em Pernambuco
Dos 172 mananciais operados para abastecimento humano no Estado, 54 captações estão em nível crítico ou de alerta, exigindo contingenciamento hídrico
As mudanças climáticas esão impactando o dia-a-dia da população pernambucana. A combinação de falta de chuvas e aumento das temperaturas contribuíram para acelerar a evaporação de água armazenada nos mananciais. Com os reservatórios em situação crítica, uma das saídas é racioinar a água para evitar o desabastecimento total.
Para comentar o agravamento da estiagem no Estado e detalhar as medidas tomadas, a Secretaria de Recursos Hídricos e Saneamento, Compesa, Apac e Defesa Civil de Pernambuco realizaram coletiva de imprensa nesta segunda-feira (30), na sede da Apac, no Recife.
PREVISÕES CLIMÁTICAS
Dos 172 mananciais operados para a abastecimento humano no Estado, 54 captações estão em nível crítico ou de alerta. Isso fez com que, até o momento, 94 municípios pernambucanos decretassem situação de emergência e outros três solicitassem. A maioria deles, inclusive, teve reconhecimento oficializado, por meio de Portaria do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR).
Como as previsões climáticas para o próximo trimestre indicam acumulado de chuva de normal a abaixo do normal e temperaturas acima da média para todo o Estado, a Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos e APAC emitiram alerta de contingenciamento hídrico em várias cidades pernambucanas, com reflexo no abastecimento de água.
CALENDÁRIO DE ABASTECIMENTO
O já penoso calendário de abastecimento de água para a população vai piorar, graças à situação de escassez de chuvas. Segundo a Compesa, foi necessário realizar ajustes operacionais nos sistemas afetados e promover alteração de calendários de abastecimento para assegurar o atendimento sustentado das regiões nos meses de janeiro, fevereiro e março, período que antecede a quadra chuvosa. A medida será amparada em ações emergenciais propostas pela Companhia.
Os calendários de abastecimento estão sendo atualizados de acordo com o monitoramento dos reservatórios e entram em vigor a partir da próxima sexta-feira (3) nas cidades impactadas pela redução dos níveis dos mananciais. Eles podem ser consultados nos canais oficiais da empresa: site (www.compesa.com.br), aplicativo e canal de atendimento 0800 081 0195.
MAIS CARROS-PIPA
"Estamos falando da pior estiagem dos últimos 3 anos e é necessário que o Estado aja. A Compesa vai aumentar seu número de carros-pipa de 100 para 300 e o Exército mantém outros 870 para atender a zona rural. Hoje somos o primeiro ou o segundo Estado do País com maior número de carros-pipa do País", destaca o secretártio de Recursos Hídricos, Almir Cirilo.
O reforço da frota de carros-pipa é uma das medidas adotadas para mitigar os efeitos da ausência de chuvas. Uma nova fase de credenciamento de pipeiros para atendimento em vários municípios será iniciada na próxima quinta-feira (2/01). Para agilizar a contratação, a Compesa está disponibilizando um telefone exclusivo para o atendimento dos pipeiros interessados, prestando informações e orientações para o cadastramento emergencial dos veículos.
O atendimento será pelo telefone 81 3412 9722, de segunda a sexta-feira, no horário das 08h às 12h e das 13h às 17h. A medida é uma das ações definidas para o enfrentamento ao estado de alerta devido à escassez de chuvas e baixo nível de diversos mananciais. Esse suporte servirá para complementação do abastecimento nas cidades com maior dificuldade hídrica.
OBRAS ESTRUTURANTES
Além da ação para atendimento complementar da população por meio de carros-pipa, acelerar a entrega de obras estruturantes é outra alternativa para garantir a segurança hídrica do abastecimento, a exemplo das adutoras do Agreste e de Serro Azul, além das obras complementares da Adutora do Alto Capibaribe, entregue neste mês.
Também estão sendo reforçadas as equipes de manutenção para atuar de forma mais rápida no conserto de vazamentos e combater o desperdício. A ativação de captações antigas e novas obras ainda estão em execução para evitar que cenários como este voltem a ocorrer no futuro.
SITUAÇÃO DOS MUNICÍPIOS
As situações que requerem atenção no abastecimento estão concentradas no Agreste, Zona da Mata, Sertão e parte da Região Metropolitana do Recife (RMR) em virtude do baixo nível de algumas barragens. São 16 mananciais em nível crítico no Sertão, Agreste e Zona da Mata pernambucana e que já impactam o abastecimento de 14 municípios: Agreste – Água Belas, Calçado, Chã Grande, Gravatá, Jurema, Lajedo e Saloá. Matas – Camutanga, Chã de Alegria, Ferreiros, Ribeirão, Timbaúba e Vicência. Sertão – Santa Filomena.
Outros 38 mananciais nessas regiões e também na RMR estão em nível de alerta. Esses são responsáveis pelo atendimento de 48 municípios pernambucanos: Agreste – Belém de Maria, Belo Jardim, Bezerros, Camocim de São Félix, Canhotinho, Capoeiras, Caruaru, Casinhas, Cumaru, Frei Miguelinho, Gravatá, Machados, Panelas, Paranatama, Passira, Poção, Riacho das Almas, Sairé, Salgadinho, Santa Maria do Cambucá, Surubim, Taquaritinga do Norte, Toritama e Vertentes. Matas – Bom Jardim, Escada, João Alfredo, Limoeiro, Macaparana, Machados, Nazaré da Mata, Orobó, Pombos, Sirinhaém e Vitória de Santo Antão. Sertão – Afrânio, Dormentes, Santa Cruz e Santa Terezinha. RMR – Abreu e Lima, Araçoiaba, Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Igarassu, Ipojuca, Moreno, Paulista e São Lourenço da Mata.
Dentre os mananciais em situação crítica estão também as captações a fio d'água que são alimentadas pelos rios, a exemplo de Gravatá, no Agreste. A cidade é abastecida atualmente por quatro mananciais. Amaraji, que é uma barragem de acumulação e está com 100% da capacidade, e outras três barragens de nível, que estão em colapso, mas são fundamentais para o Sistema de Abastecimento de Gravatá. No Agreste, a situação é ainda mais sensível diante da seca severa (já considerada histórica) que se abate a região. Os níveis das barragens da região vêm baixando de maneira significativa, fora dos padrões de anos anteriores.
Outra situação crítica ocorre no município de Águas Belas, também no Agreste. A cidade é atendida por uma pequena barragem de nível, a Barragem Lamarão. Assim como acontece todos os anos, sem chuva, o manancial chega ao seu nível mais crítico com tendência a colapsar nos próximos dias. Por isso, uma ação emergencial será realizada para manter o abastecimento de água em 30% da cidade pela rede de distribuição, especialmente nas áreas onde se concentram hospitais, escolas e prédios públicos. Trata-se da ampliação da capacidade dos poços da Baixa Funda, localizados em Tupanatinga, iniciativa que deve ser finalizada em 15 dias.
EVITAR DESPERDÍCIOS
De acordo com o presidente da Compesa, Alex Campos, as mudanças no esquema de distribuição de água nas cidades são necessárias diante da escassez de água, mas serão reavaliadas com o início da quadra chuvosa.
“Nossas equipes técnicas continuarão monitorando os mananciais e qualquer alteração no quadro atual, como é esperado com o início da quadra chuvosa a partir de março, será prontamente revertida na diminuição dos rodízios, que nesse momento são inevitáveis. Entretanto, o uso consciente e racional da água agora será fundamental para atravessarmos esse momento. A conscientização pode evitar desperdícios e contribuir para a gestão sustentável dos recursos hídricos que temos disponíveis”, alertou.
AÇÕES EM CURSO
O abastecimento dos 15 municípios atendidos pela Barragem de Jucazinho, no Agreste, hoje com 7% de nível, também está sendo reforçado. Para combater as implicações do baixo nível do manancial, estão sendo investidos R$ 369 milhões com aporte do Governo do Estado.
Alex Gomes destaca que dentre as ções estão a ativação da Adutora do Alto Capibaribe, entregue neste mês; Conclusão da Adutora de Serro Azul (já está em testes); Incremento de 400 litros por segundo para Caruaru, a partir de novo ramal da Adutora do Agreste (ETAs Salgado e Bela Vista – 1º semestre/2025); Conclusão das Adutoras do Agreste (Trechos Caruaru a Gravatá e ETA Salgado a Santa Cruz do Capibaribe); Reativação da elevatória do rio Sirinhaém para Bezerros; mais 24 obras que beneficiam municípios atendidos pelo Sistema Jucazinho.
O município de Águas Belas é atendido por uma pequena barragem de nível, a Barragem de Lamarão, que entrou em colapso. Para manter o atendimento da cidade, a Compesa fez a troca das bombas de 3 poços do sistema integrado Tupanatinga/Itaíba. Esta ação permitiu um aumento de vazão que vai possibilitar atender a cidade de Águas Belas com uma vazão de 15 litros por segundo, evitando o colapso do sistema.
Além desta vazão que vai garantir o abastecimento da área central da cidade, a Compesa já está com sete carros-pipa atendendo a zona periférica da cidade. Para resolver em caráter definitivo a questão de abastecimento do município, o Governo de Pernambuco autorizou a Compesa a publicar em janeiro o edital para a retomada da obra da Adutora do Agreste, que beneficiará, além de Águas Belas, outras cidades da região, um investimento previsto de R$ 30 milhões.