Ministério da Saúde

Direto de Brasília, Romoaldo de Souza conta detalhes dos bastidores do dia do "fico" de Mandetta

Saiba tudo sobre um dos dias mais tensos do governo Bolsonaro desde o início do coronavírus

Romoaldo de Souza
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Romoaldo de Souza
Publicado em 06/04/2020 às 23:52 | Atualizado em 07/04/2020 às 0:03
Isac Nóbrega/PR
Nem no real, nem no virtual. Não deu pra Bolsonaro - FOTO: Isac Nóbrega/PR

Dois personagens foram determinantes para que o presidente Jair Bolsonaro não demitisse, por enquanto, o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM).

Esta segunda-feira (6) começou no Palácio do Planalto com o presidente pedindo que fosse formulado o ato de exoneração de Mandetta, acompanhado de uma nota à imprensa ressaltando “os trabalhados à frente da pasta”.

>> "Nós vamos continuar. Nosso inimigo tem nome e sobrenome: covid-19", diz Mandetta

Mas eis que o primeiro personagem entrou em ação: o general Walter Braga Netto, ministro da Casa Civil. Nesse momento, foi iniciada uma operação para salvar Mandetta da degola.

O ministro, que vem atuando na chefia de um grupo de trabalho interministerial para coordenar as ações do governo no enfrentamento da covid-19, disse ao presidente Bolsonaro que o momento não é para turbulências. Braga Netto mostrou ao presidente Bolsonaro que Mandetta “bem ou mal” vem desempenhando as atividades à frente do Ministério da Saúde e que parte da sociedade está do seu lado.

 

Bolsonaro nada respondeu e marcou um encontro para três horas depois. No almoço estavam presentes, também, além de Braga Netto, o general Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo; e o general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) – todos fieis escudeiros do presidente da República.

Coube a Braga Netto repetir para o grupo os argumentos que já tinha feito ao presidente e ao general Ramos – a partir da informação de um telefone que ele tinha recebido no início da tarde. E é aqui que entra nossa segunda personagem.

Perto do meio-dia, o presidente do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), telefonou para Luiz Eduardo Ramos e advertiu ao articulador político do governo, que o Parlamento não via com bons olhos a demissão de Mandetta “sem um aparente e justificado motivo”.

Até aí, o presidente ainda estava irredutível de se ver livre do auxiliar mais simpático perante a opinião pública, conforme a última pesquisa do Instituto Datafolha.

Pontualmente, às 17h, começava a mais tensa reunião ministerial desde 1º de janeiro de 2019, quando Bolsonaro assumiu à Presidência da República.

Jair Bolsonaro disse, textualmente, a Mandetta que considera o ministro um importante profissional, mas que ninguém pode jogar o presidente contra parte da opinião pública.

Mandetta negou, disse que, como militar, sabe respeitar hierarquias, mas que, nesse momento, “é preciso ter uma orientação centralizada”. O ministro, então, insistiu em defender o isolamento social para evitar a disseminação do coronavírus na população.

Duas horas depois, já na sede do Ministério da Saúde, Luiz Henrique Mandetta disse inspirado no "O Mito da Caverna", de Plantão, que continua à frente da gestão da pasta. O livro do filósofo ateniense aponta que só se sai da caverna pelo conhecimento, o racional e verdade.

Apesar do desfecho do dia, auxiliares próximos de Bolsonaro acreditam que a sua decisão já está tomada, a questão é o advérbio: quando?

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