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Com propriedade ou só por lacração, famosos entram de vez na arena política

Celebridades estão discutindo de racismo à pandemia, passando por um assunto que não sai das manchetes: falas e atos polêmicos do presidente Jair Bolsonaro

Angela Fernanda Belfort
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Angela Fernanda Belfort
Publicado em 21/06/2020 às 7:01 | Atualizado em 21/06/2020 às 8:37
Divulgação/Bites
O diteror da Bites, Manoel Fernandes, diz que há um vácuo nas lideranças políticas do País e que as celebridades estão ocupando este espaço - FOTO: Divulgação/Bites

Gente que, aparentemente, não tinha relação com política passou a discutir vários aspectos da política nas redes sociais durante a pandemia que deixou em confinamento milhões de brasileiros. Exemplos não faltam. A cantora Annita, o influenciador digital Felipe Neto, o ator Mário Frias (nomeado na sexta-feira à noite para a Secretaria de Cultura por Bolsonaro), a jogadora de vôlei Ana Paula Henkel, o cantor Lobão, entre outros. Anitta passou a divulgar lives discutindo o assunto. Numa delas, incluiu a participação do líder do Partido Socialista Brasileiro (PSB) na Câmara dos Deputados, Alessandro Molon, conversando sobre a Medida Provisória 910, que pretende regularizar a situação de terras da Amazônia vinculadas ao Incra ou à União. Ela também fez lives sobre esquerda, direita, como funcionam os poderes etc. Tanto de um lado quanto do outro, as celebridades estão discutindo de racismo à pandemia, passando por um assunto que não sai das manchetes: falas e atos polêmicos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

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“As pessoas – incluindo as celebridades – estão se manifestando mais porque estamos passando por um período muito tumultuado. Uma crise sanitária, política e econômica, mais um presidente que é uma atração e fatos que chamam a atenção, como chamar o coronavírus de uma gripezinha, um vírus que infectou um milhão de brasileiros. Houve também fogos na frente do Supremo Tribunal Federal (STF)”, explica o cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Adriano Oliveira. O presidente Bolsonaro chamou o coronavírus de “gripezinha”.

Não é de hoje que as pessoas com alto cartel de seguidores e fãs são cobradas a se posicionar sobre fatos importantes, políticos ou não. “Anitta se pronunciou porque os seguidores começaram a cobrar. Ela vem da periferia, de uma região de milícia. E é natural essa cobrança”, analisa Adriano. Em entrevista ao jornalista Pedro Bial, a cantora disse: “Como é que eu vou ter uma posição se eu não entendo nada do que estão pedindo para eu ter uma posição?”. Na mesma entrevista, afirmou que usou parte do tempo da quarentena para aprender política, o que resultou numa série de lives, com a advogada Gabriela Prioli, intitulada Entendendo Política. As lives foram transmitidas no Instagram. Uma delas registrou 334,9 mil curtidas. 

O influenciador digital Felipe Neto incorporou o tema político aos seus canais. “O que a gente percebe claramente é que está aumentando um certo ativismo de alguns famosos. Felipe Neto usa o seu posicionamento político também como uma marca, afrontando o governo Bolsonaro. Todos lembram o que ele fez na Bienal”, comenta o cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Roberto Gondo. Em setembro do ano passado, o youtuber distribuiu 14 mil livros com temática LGBTI na Bienal depois que a Prefeitura do Rio de Janeiro considerou “impróprios” os livros que tivessem essa abordagem. Ele tem 35 milhões de seguidores nas redes sociais.

“Não é uma tendência que vá ocorrer com todos os influenciadores. O campeão de Fórmula 1 britânico Lewis Hamilton passou a fazer posts sobre o racismo, que é outro aspecto político. Aqui, até a pandemia acabou tendo um aspecto político, porque o governo federal ficou contra os governadores, prefeitos e todo mundo; o negacionismo da pandemia, a queda de dois ministros da saúde. Isso tudo estimulou as pessoas a se posicionarem politicamente”, explica Gondo.

O lado positivo, segundo os dois professores, é que isso levou mais pessoas a discutirem política. “Quanto mais debate político, melhor pra sociedade, mesmo se esses posicionamentos são contrários aos meus”, diz Gondo. E complementa: “A parte ruim é que a internet tem muita desinformação”. Para ele, isso só vai diminuir se o STF e os partidos (o que inclui os parlamentares) criarem regras que enquadrem as fake news como crime, o que provocaria a redução pela consciência ou “ medo” de ter que responder criminalmente

O diretor da empresa Bites, Manoel Fernandes, argumenta que esse aumento das celebridades se posicionando politicamente é “o reflexo do vácuo de novas lideranças políticas e de tudo que ocorreu no Brasil nos últimos cinco anos”. E lembra: “A Operação Lava Jato desestruturou o sistema político do Brasil, e a partir daí todos os políticos ficaram sob suspeição, independente do partido político; a gestão do PT, o impeachment de Dilma e, por último, a eleição de um político (Bolsonaro) que negava tudo que estava aí.”

O vácuo de lideranças está sendo ocupado pelas celebridades que discutem política no momento. “Acontece no Brasil algo parecido com o que está ocorrendo nos Estados Unidos. Líderes que não agregam e não têm uma oposição estruturada abrindo espaço para outras forças”, diz Manoel. Ele cita como exemplo contrário do que ocorre no Brasil líderes como Angela Merkel, da Alemanha, que “saiu maior do que entrou na pandemia”. O presidente da França, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, em que “ambos conseguiram construir uma narrativa” aceita pelos seus países durante a crise do coronavírus.

PELAS REDES SOCIAIS

 "A luta é pela democracia. A arma é a nossa voz”, diz Felipe Neto, um dos maiores influenciadores digitais do País na sua conta do Instagram.

 "Jair Bolsonaro é o presidente do povo e está sendo impedido de governar... Respeitem a maioria. Isso é democracia”, diz o novo secretário de Cultura e ator Mário Frias no twitter. A postagem foi antes dele ser anunciado para o cargo.

 "Autoritária, imbecil, uma merda e responsável pelas mazelas do País”, comenta o cantor Lobão, sobre a ditadura, na sua conta do twitter. Ele votou em Bolsonaro e se arrependeu.

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