Pagamentos a Michelle maiores

RACHADINHA Inquérito sobre Flávio aproxima ainda mais o caso do presidente Bolsonaro

Publicado em 08/08/2020 às 6:00
ALAN SANTOS/DIVULGAÇÃO
Michelle Bolsonaro participa da inauguração das novas instalações da Escola de Formação de Luthier e Archetier da Orquestra Criança Cidadã - FOTO: ALAN SANTOS/DIVULGAÇÃO
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Quebra de sigilo pedida pelo Ministério Público do Rio (MP-RJ) identificou que o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz e a mulher dele, Márcia Aguiar, depositaram 27 cheques em nome da primeira-dama Michelle Bolsonaro entre janeiro de 2011 e dezembro de 2016. Os repasses somam R$ 89 mil, em valores não corrigidos. Nenhum dos envolvidos se manifestou sobre o assunto até a conclusão desta edição.

A existência dos depósitos, revelada pela revista Crusoé e confirmada pelo Estadão, aproxima ainda mais a investigação do esquema de "rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) ao presidente Jair Bolsonaro. Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), revelado pelo Estadão em dezembro de 2018, já citava um cheque de R$ 24 mil depositado por Queiroz na conta de Michelle.

Na época, Bolsonaro disse que o ex-assessor do seu filho Flávio passou o dinheiro para Michelle com o objetivo de devolver parte de um empréstimo de R 40 mil. "Não foi por uma, foi por duas vezes que o Queiroz teve dívida comigo e me pagou com cheques. E não veio para a minha conta esse cheque, porque simplesmente eu deixei no Rio de Janeiro", afirmou.

Investigadores que trabalham no caso da suspeita de "rachadinha" no antigo gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na Assembleia do Rio chegaram aos depósitos para Michelle Bolsonaro ao receberem os detalhes de extratos bancários de Queiroz e Márcia. A quebra de sigilo bancário foi autorizada pela 27ª Vara Criminal do Rio.

OPERADOR

O ex-assessor é apontado pelo MP-RJ como operador do esquema de desvio de dinheiro por meio da apropriação de parte do salário de outros funcionários do gabinete entre 2007 e 2018. Há a suspeita de que Queiroz também estivesse por trás da contratação de funcionários fantasmas. Ele foi preso em 18 de junho em Atibaia (SP) no sítio do advogado Frederick Wassef, que atuou para Flávio. Desde 10 de julho, ele cumpre prisão domiciliar.

Entre outubro de 2011 e dezembro de 2016, Queiroz depositou 21 cheques em nome da primeira-dama, com valores de R$ 3 mil e R$ 4 mil. Houve um hiato entre maio de 2013 e março de 2016, ano em que foram feitas nove transferências de R$ 4 mil. Ao todo, Queiroz repassou R$ 72 mil à primeira-dama.

Nos extratos bancários de Queiroz não há nenhum depósitos feito por Bolsonaro, o que poderia configurar um empréstimo. Entre 2007 e 2018, segundo a reportagem da Crusoé, foram registrados créditos de R$ 6,2 milhões na conta do ex-assessor - R$ 1,6 milhão identificado como salários, R$ 2 milhões atrelados a depósitos do gabinete de Flávio na Alerj e R$ 900 mil em espécie.

Mulher de Queiroz, Márcia está em prisão domiciliar desde 11 de julho. Ela passou mais de 20 dias foragida antes que o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha, desse uma liminar que autorizou ela e o marido a cumprirem mandado de prisão preventiva em casa. A decisão judicial cita tentativas de embaraço à investigação. No último dia 30, a Procuradoria-Geral da República solicitou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) que Queiroz e Márcia cumpram a medida restritiva na prisão. Márcia passou seis cheques para Michelle entre janeiro e junho de 2011. Com valores entre R$ 2 mil e R$ 3 mil, os repasses totalizaram R$ 17 mil. Quatro meses após o último depósito de Márcia, começam a cair os cheques de Queiroz.

O MP-RJ informou, por meio de nota, que Michelle não é investigada no inquérito das "rachadinhas". "O trabalho segue normalmente, sob sigilo, a cargo do Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção", diz a nota.

O Palácio do Planalto e os advogados do senador Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz e Márcia Aguiar não se manifestaram até a conclusão desta edição.

POLÍCIA CIVIL
Fabrício Queiroz é suspeito de coordenar um esquema de 'rachadinhas' no gabinete de Flávio Bolsonaro - FOTO:POLÍCIA CIVIL

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